Menu
Entretenimento

Racionais MC’s faz show histórico e reacende a cena do rap na Capital

“Os quatro pretos mais perigosos do Brasil” desembarcaram em Brasília e mostraram por que há 3 décadas são os gênios do rap nacional

Redação Jornal de Brasília

06/08/2019 14h33

Racionais MC's faz show histórico e reascende a cena do rap na Capital

Foto: Webert da Cruz

Por Priscilla Arantes

No hino Capítulo 4 Versículo 3, de 1997, Mano Brown já contrariava as estatísticas ao chegar vivo aos 27 anos. Hoje, aos 49, o rapper comemora 30 anos de atuação no rap nacional junto com KL Jay, Edi Rock e Ice Blue. “Chegaram os quatro pretos mais perigosos do Brasil. Que comecem as nossas transmissões”. Foi assim que a turnê Racionais 3 Décadas deu início ao espetáculo para as 5 mil pessoas que lotaram o ginásio Nilson Nelson, no último sábado.

Com iluminação e produção de palco impecável, a banda (Sim. Banda!) deu início ao show com arranjos trabalhados, que de imediato foi difícil identificar a música, mas em poucos segundos já era possível ouvir a plateia se entregando à faixa “Pânico da Zona Sul”, de 1993.

E por falar em banda, a apresentação dos Racionais acompanhado de uma banda completa (metaleira, cozinha, cordas) é inédita, e possivelmente foi o diferencial para marcar esses 30 anos de carreira. Surpreendeu nos arranjos e em muitos momentos lembrou o Soul Train, o programa americano da década de 1970, que apresentava ao mundo performances de soul, hip hop e R&B.

Por conta da parceria igualmente inédita entre a empresa de shows Time For Fun (T4F) e a Boogie Naipe, produtora do Mano Brown, que se uniram especialmente para essa comemoração, quem esperava por um show de rap nos moldes tradicionais, saiu ganhando. Sem deixar o ritmo e poesia de lado, eles conseguiram agregar o que tem de mais valioso na black music.

Relembrando os clássicos dessas 3 décadas, algumas músicas foram escritas antes mesmo de boa parte do público presente nascer, “Voz ativa” é uma delas, de 1992, do EP “Escolha seu caminho” e “Beco sem saída”, do “Holocausto Urbano”, de 1992, também. Quem não conhecia, ouvia atentamente. Em seguida foi uma sequência de clássicos até o final da apresentação. Do “Raio X do Brasil”, álbum de 1993, que consagrou o grupo na cena do rap, “Mano na porta do bar”, “Um homem na estrada” e “Fim de semana no parque”, despertou definitivamente a plateia para o que estava acontecendo naquela noite.

Fãs declarados de Jorge Ben Jor, o grupo cita o mestre em suas letras e utiliza samplers desde o início da carreira. E na comemoração dessas 3 décadas ele não poderia ficar de fora, “Quero pedir licença ao mestre Jorge Ben para cantar uma de suas músicas”, declarou Brown antes de começar “Jorge da Capadócia”, que foi fielmente acompanhado pela plateia.

E na sequência do álbum “Sobrevivendo no Inferno”, de 1997, foi possível perceber que o Racionais mudou, sem perder a essência, o discurso e os valores defendidos nesses 30 anos de carreira. Além da banda, que trouxe uma maturidade musical e fez toda a diferença, foi possível perceber mudanças no comportamento do grupo em questões sociais antes defendidas. Alguns versos que subestimavam as mulheres, por exemplo, não são mais repetidos por nenhum dos mc’s. A música “Mulheres vulgares” não entra no setlist há tempos, e nessa turnê também não entrou. No trabalho solo do Mano Brown já era possível perceber essa mudança, vide “Mulher elétrica”. O discurso político partidário explícito também sficou de fora, mas Brown fez questão de lembrar que “o Brasil mudou demais e quem votou que segure”.

Foi uma noite especial para os brasiliense, os candangos e os transeuntes do DF adeptos do rap. “A gente sempre se identificou com o nossos semelhantes da periferia daqui do Distrito Federal e em 30 anos não tinha como não passar por aqui”, afirmou Ice Blue já em tom de agradecimento e despedida. E para finalizar, espumantes e brindes no palco na icônica “Vida Loka parte II”.

Foto: Webert da Cruz

A turnê passou pela Capital Federal e deixou claro que a cena do rap brasiliense está mais forte do que nunca, numa noite concorrida, com outros grandes eventos acontecendo simultaneamente na cidade, a apresentação rendeu mais de 2 horas de show, 21 músicas, 5 mil corações tocados, 3 toneladas de alimentos arrecadados e doados para a comunidade terapêutica Salve a Si, para comemorar os 30 anos de carreira dos “4 pretos mais perigosos do país”. Vida longa ao rap nacional.

Foto: Webert da Cruz

    Você também pode gostar

    Assine nossa newsletter e
    mantenha-se bem informado