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Brasília

UnB: pesquisador tem bolsa cortada

Ikaro Alves é um dos cientistas envolvidos no sequenciamento genético do novo coronavírus

Lucas Neiva

02/04/2020 7h20

Biomédico aprovado em primeiro lugar no programa de doutorado em biologia microbiana da Universidade de Brasília (UnB), Ikaro Alves Andrade era um dos pesquisadores envolvidos no projeto de sequenciamento genético do coronavírus no Instituto de Biologia da universidade. Há uma semana, recebeu da secretaria de pós-graduação a notícia de que sua bolsa de estudos, de R$ 2.200, fora cortada.

Ikaro foi um dos biomédicos afetados pela redução dos recursos na distribuição de bolsas da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), que atribuiu ao programa de Biologia Microbiana da UnB uma nota inferior ao necessário para o recebimento de recursos. Sua pesquisa era realizada em parceria com o laboratório Sabin e com o Laboratório Central de Saúde Pública.

A pesquisa

Ikaro e seus orientadores de doutorado haviam inicialmente iniciado o projeto estudando vírus que afetam vertebrados. Desde o início da pandemia, os esforços mudaram, passando a se voltar ao sequenciamento genético do coronavírus no Distrito Federal. “Estávamos começando a obter êxito no trabalho”, afirma sobre o passo em que se encontrava pesquisa no momento do corte.

O biomédico explica como funciona o processo de sequenciamento. “Utilizamos um aparelho que escaneia o material genético em questão. Esse material é previamente tratado e trabalhado com alguns marcadores para que se possa identificar a ordem das suas bases nitrogenadas. Com posse dessa ordem de bases nitrogenadas, temos o sequenciamento genômico do vírus”.

Esse sequenciamento é de alta importância na obtenção de informações na luta contra a covid-19. “Obtendo informações sobre a sequência genética do vírus, podemos utilizar em trabalhos como produção de vacina, produção de outros tratamentos, verificar como ele está se disseminando em território nacional, verificar processos de mutação e verificar se essas mutações podem fortalecer alguma característica biológica do vírus”, conta Ikaro.

Outros grupos realizam pesquisas desse tipo no Brasil (como em São Paulo, onde foi realizado o primeiro sequenciamento genético do coronavírus), mas o grupo de Ikaro é o único no Distrito Federal a fazer esse tipo de trabalho. “Essa pesquisa é muito promissora e pode agregar muito ao estudo do coronavírus. (…) Conhecer os elementos genéticos e a sequência genética do vírus nos casos do DF pode e vai fomentar novos estudos”, reforça.

Sem muita expectativa

Ikaro lamenta que, sem a bolsa, corre o risco de não conseguir continuar colaborando com a pesquisa. “Sendo bem sincero, se não houver a bolsa, para mim fica muito complicado continuar aqui no Distrito Federal, até pela questão de sustento. A minha contribuição para a pesquisa vai ficar dependente da bolsa”.

O corte da bolsa foi um choque para o pesquisador. “Eu fiquei extremamente triste, decepcionado e desapontado porque eu fiz diversos compromissos para me manter aqui na capital federal, para poder trabalhar, para me especializar no pós-doutorado e infelizmente soube que não vou ter o incentivo financeiro. A gente precisa sobreviver, não é fácil viver em Brasília sem renda, uma capital tão cara. Eu realmente fiquei extremamente decepcionado, desapontado, e não sei o que poderei fazer sem a remuneração”, lamenta Ikaro, que é de Anápolis (GO).

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