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Brasília

“Se aproveitou da missão”, diz fiel que acredita em denúncias contra João de Deus

Arquivo Geral

12/12/2018 13h55

Foto: Myke Sena/Jornal de Brasília

Jéssica Antunes
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O programador Leandro Chagas, 41 anos, juntou dinheiro para buscar atendimento espiritual na Casa Dom Inácio de Loyola, em Abadiânia (GO), por muito tempo. A filha, de seis anos, tem um tumor no olho e, desde o diagnóstico, ele busca, no sobrenatural, uma alternativa. A possibilidade de viajar por 115 quilômetros veio justamente após a série de denúncias de que João de Deus, o médium que diz incorporar médicos, cometeria abuso sexual em atendimentos. “Eu precisava vir por ser a última chance, mas ele está pagando pelas maldades que fez”, acredita o homem, de família tradicionalmente espírita.

Leandro foi até a imponente construção azul e branca no centro do município goiano com a família. De branco, como manda o figurino, ele esperava que a concentração de energia no local pudesse ajudar. “Vim na esperança, pelo que foi criado em nome de Deus e não em nome dele (João de Deus). Eu estou decepcionado porque esperei muito tempo. Fui em pastor, padre, terreiro de umbanda. Ninguém deu conta. É uma cirurgia arriscada. Aqui era a última esperança”, diz.

Para ele, “não tem como não acreditar nos relatos” de abuso sexual denunciados por centenas de mulheres. Isso porque “há muita conexão entre as histórias”. “Ele começou a se aproveitar de uma oportunidade que foi dada em uma missão. O poder, que é dinheiro e o sexo, derrubam quem é fraco. A casa virou uma grande fonte de exploração financeira que abusa da vulnerabilidade das pessoas”, aponta.

O morador da capital federal critica o culto ao homem. “Prepotente, não está sendo merecedor. A casa é cheia de foto dele. Transformou o culto a Deus em culto a ele. A vaidade não pode ser maior que a missão”, aponta. Em relação a isso, Leandro não acredita que os pacientes devam ser condenados. “Todos vêm atrás do último suspiro de possibilidades, tomados pelo desespero”.

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