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Brasília

Renda de catadores despenca no DF

Arquivo Geral

08/01/2018 7h35

Foto: Myke Sena

João Paulo Mariano
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O paraibano Nivaldo Pereira, 55, desembarcou na capital aos 16 anos e fez de tudo um pouco para se sustentar. Porém, foi “acolhido” no Lixão da Estrutural e há 23 anos é catador. Ele é um dos trabalhadores que precisaram migrar para um dos cinco galpões onde funciona a coleta seletiva. Foi neste ponto que muitos problemas começaram. “Aqui, o nosso desempenho caiu para zero. Só tem regra e pouca qualidade”, afirma o catador, que diz ganhar bem menos que na época do lixão.

As reclamações de Nivaldo são bem parecidas com a de muitos outros trabalhadores do galpão alugado pelo governo e compartilhado pelas cooperativas Construir e Cortrap no SCIA. O JBr. conversou com ele em um dia de pagamento. A quantia não o agradou: foram R$ 274 por três semanas de trabalho, quatro horas diárias e cinco vezes por semana.

O homem garante que, antes, esses ganhos eram de pelo menos R$ 500 quinzenais. “Acredito que isso [o trabalho nos galpões] vai acabar se os benefícios para os trabalhadores não mudarem”, avalia Nivaldo. Uma das responsáveis pela cooperativa onde o homem trabalha, a Construir, Maria Helena Rabelo, 41, considera que a situação é “péssima”, apesar das promessas.

“Oitenta por cento do que pegamos é rejeito. Ficamos mais tempo colocando lixo nos contêineres que pegando material reciclável”, afirma a mulher, ao explicar que grande parte dos resíduos recebidos pelos galpões não serve para nada. Por isso, eles não ganham um centavo com essa separação. O GDF pretende melhorar o processo para auxiliar no desempenho.

Para piorar a situação da baixa dos insumos, muitos funcionários precisam pagar para se deslocar de suas casas até os novos locais de trabalho. Maria Helena comenta que uma das salvações é a compensação temporária que o GDF dá para quem trabalhava no Lixão da Estrutural e tinha esse serviço como a única renda. O valor é de R$ 360 por seis meses. Ainda assim, ela diz ser difícil fechar as contas com um ganho mensal de quase R$ 700.

Equipamentos

As reclamações também perpassam pela estrutura oferecida nos galpões e, até mesmo, dos materiais de segurança disponibilizados aos profissionais. Mesmo que a direção do Serviço de Limpeza Urbana (SLU) garanta que está comprando e instalando os equipamentos, no galpão do SCIA não foi vista nenhuma esteira. A promessa é que até o fim da semana, ela venha.

Cleia Pereira Gonçalves, 40, que também é oriunda do Lixão da Estrutural, relata que o maquinário faz falta, tanto na hora de receber o lixo, quanto ao arrumar o que já foi separado. “Os sacos são muito pesados para a gente carregar. Os com papel são quase impossíveis”, afirma a mulher, que é catadora há 17 anos. O uso de uma empilhadeira só começou últimas semanas, após muita reclamação.

Ela também se queixa do salário baixo, e por isso gastar com EPIs do próprio bolso não seria nem um pouco justo. Cleia diz que as botas não têm a proteção necessária e se uma luva rasga, eles têm que se virar para arranjar outra.

Novas unidades devem amenizar problemas

Para ajustar todos esses problemas, a promessa da direção do Serviço de Limpeza Urbana (SLU) é construir três galpões – um em Ceilândia, um na Asa Sul e dois atrás da Rodoviária Interestadual – com espaço organizado e equipamentos completos, antes do fechamento do lixão, previsto para o próximo dia 20. Já no SCIA, uma unidade é reformada e deve ficar pronta neste mesmo período.

Enquanto esses locais não são concluídos, o SLU teve um gasto de R$ 6,5 milhões, em 2017, com aluguéis dos galpões provisórios, inclusive o do SCIA, que quase não tem estrutura. São cerca de R$ 150 mil mensais. Já o gasto médio com a construção de cada galpão é de R$ 4,5 milhões.

Ajustes

A diretora-presidente do SLU, Kátia Campos, admite que conhece as reclamações e dificuldades que os catadores passam, mas julga ser algo momentâneo. Ela garante que isso faz parte da transição enfrentada pelo sistema de coleta e reciclagem de lixo da capital. “Fizemos um planejamento. É necessário que as melhorias sejam graduais. É uma nova realidade. É preciso uma capacitação para o uso dos galpões e das máquinas”, argumenta.

Kátia diz que a entrega dos equipamentos solicitados será feita à medida que eles chegarem e que a maioria já foi comprada, porém o processo de inserir no patrimônio, fazer termo de cessão de uso para os catadores e o treinamento dos profissionais demora um pouco. A estimativa é que aqueles que ainda não foram colocados para funcionar comecem neste mês. Os catadores teriam participado de todas as partes desse processo – desde a escolha dos galpões alugados à quantia recebida.

Aumento

A respeito o valor arrecadado pelos trabalhadores neste momento, a promessa é de que em até dois meses a quantia deva ser incrementada. “A ideia é de que eles comecem a receber cerca de R$ 1 mil nos próximos meses”, garante a diretora-presidente, que assegura o fechamento do Lixão da Estrutural para o dia 20 de janeiro, como anunciado, “sem possibilidade de adiamento”.
Ela explica que o trabalhador recebe os R$ 360 mais a ajuda de até R$ 350 por cada tonelada que catar. Ainda existem aqueles que recebem R$ 300 para o curso de agente ambiental, pois não visitam os galpões durante esse treinamento.

Para o SLU, os equipamentos de segurança individual devem ser fornecidos pelas cooperativas.
O DF produz, mensalmente, cerca de 2,7 toneladas de resíduos sólidos. Dessas, 900 toneladas vão para o aterro sanitário, e o restante vai para a Estrutural.

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