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Brasília

“Rachadinha”: extratos contrariam versão de Erika Kokay

Deputada diz que era contribuição ao partido. Mas Vânia já tinha desconto em folha ao PT

Marcus Eduardo Pereira

13/08/2019 6h14

Vania Gomes denuncia rachadinha de Erika Kokay ao Ministerio Publico nesta sexta-feira (9). Brasilia. 07-08-2019. Foto: Vitor Mendonca

Rudolfo Lago
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A deputada Erika Kokay (PT-DF) inaugurou um método inusitado de resposta. Desde a última quinta-feira (8), o Jornal de Brasília aguarda as explicações da deputada sobre a acusação feita pela advogada Vânia Gomes de que ela ficava com parte do seu salário quando era funcionária de seu gabinete, no esquema conhecido como “rachadinha”. Sem responder ao jornal, Erika resolveu requerer “direito de resposta” a outro veículo. O Jornal de Brasília segue aguardando o retorno da deputada mas, em respeito aos leitores, publica suas explicações.

Diz a deputada que “a denúncia é improcedente”. Segundo ela, “as contribuições da ex-servidora a que se refere a denúncia eram contribuições voluntárias ao partido, às quais foram devidamente reconhecidas e comprovadas por meio de recibo”. Erika Kokay diz que as denúncias só passaram a ser conhecidas depois que ela mesma fez uma denúncia de tentativa de extorsão à Polícia Civil.

Na sexta-feira (9), Vânia Gomes depôs como testemunha de acusação em audiência no Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJDFT). A denúncia contra Erika Kokay pela prática de “rachadinha” foi feita pelo Ministério Público Federal, em texto assinado pela própria procuradora geral da República, Raquel Dodge, inicialmente encaminhado ao ministro Ricardo Lewandowski, que enviou o processo para a instância local. A denúncia, portanto, não é “improcedente”.

Certamente, Erika Kokay tem suas explicações, e o JBr as aguarda. Quanto, porém, à informação dada por ela de que os repasses feitos por Vânia Gomes eram “contribuições voluntárias” ao PT, os extratos da advogada parecem contrariar a informação.

Na época em que trabalhava no gabinete de Erika como deputada distrital, Vânia era filiada ao PT. “Minha contribuição para o PT era descontada em folha, conforme definia a tabela do partido”, diz Vânia. “Esses descontos aparecem claramente nos meus extratos”, diz ela. De fato, a análise dos extratos da advogada mostram claramente a existência dos dois repasses distintos.

No dia 18 de janeiro de 2007, por exemplo, ela recebe crédito de pagamento de R$ 12.005,81. No dia 19 de janeiro, ela transfere R$ 2.100 para a conta conjunta que era administrada por Erika Kokay e por Alair José Martins Vargas, que era seu chefe de gabinete. No dia 21 de janeiro, é feita uma transferência de R$ 71,54. No extrato, aparece a informação: “Deb Reg PT-DF”.

Se estava autorizado desconto em folha diretamente na conta do PT do Distrito Federal, por que eu precisaria fazer outro repasse intermediado pela deputada?”, questiona Vânia Gomes. O que Vânia afirma é que, depois da denúncia feita pela deputada à Polícia Civil, ela foi pressionada e acabou refazendo seu depoimento. O mesmo depois em depoimento à Polícia Federal. “De fato, depois, à Polícia Federal, eu omiti o que dissera inicialmente, porque estava pressionada e não queria mais falar desse assunto, que me fez muito mal”, diz ela.

Ocorre, porém, que o Ministério Público teve acesso aos dois depoimentos que Vânia deu à Polícia Civil. E foi o Ministério Público Federal que chegou à conclusão de que seus extratos na verdade corroboravam o que ela dissera na primeira vez. E fez a denúncia.

“Em que pese o fato de Vânia Gomes (…) ter retificado seu depoimento (…), as informações (…) corroboram os fatos.”

Diz ainda a denúncia: “Não é factível que Vânia Gomes, por livre e espontânea vontade, tivesse doado, mensalmente, parte de seu salário a seus superiores hierárquicos, especialmente se considerarmos que Vânia alegou que passava por dificuldades financeiras. Ademais, não há (…) registros junto aos órgãos fazendários da realização das supostas doações”.

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