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Pandemia: presidente do Sindepo fala sobre tendência de aumento de crimes cibernéticos, e de violência doméstica

De acordo com o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, a violência contra a mulher cresceu 9%, de 17 a 25 de março

Redação Jornal de Brasília

31/03/2020 9h10

 

A crise provocada pela pandemia de coronavírus vai muito além da saúde. A segurança pública deve ganhar cada vez mais importância conforme a quarentena se estende. Em entrevista ao Jornal de Brasília, o presidente do Sindicato dos Delegados de Polícia Civil (Sindepo), Rafael Sampaio, falou sobre a tendência de aumento no número de ocorrências de crimes cibernéticos, patrimoniais e de violência doméstica. De acordo com o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, a violência contra a mulher cresceu 9%, de 17 a 25 de março, período de isolamento para conter o avanço do COVID19. Tendo em vista a demanda por vir, Sampaio criticou a falta de medidas protetivas, mais eficazes, direcionadas aos servidores da PCDF e a desvalorização do trabalho da polícia. Confira a entrevista:

Qual é o papel da PCDF nesse momento de crise provocado pela pandemia de coronavírus?

Manter a paz social. Toda a Segurança Pública terá um papel fundamental durante a pandemia, tanto para fazer cumprir as normas de combate ao vírus, como para manter a ordem. Podemos vislumbrar uma crise de segurança como rescaldo da pandemia. Muita gente está perdendo o emprego, o dinheiro está saindo de circulação, logo teremos uma massa de famintos levados pelo desespero a praticar crimes patrimoniais para subsistir. Podemos vislumbrar, ainda, um aumento dos crimes cibernéticos em decorrência do isolamento, pois criminosos terão mais tempo para desenvolver novos modos de agir. Toda essa criminalidade desaguará nas Delegacias de Polícia.

Quais são as dificuldades que os profissionais estão enfrentando?

São muitos desafios, tanto psicológico, de segurança, quanto procedimentais. A polícia não pode parar, mas, para isso, precisamos de servidores sadios. Assim, houve um sentimento de desatenção com os servidores com os decretos do GDF, SSP e PCDF, publicados inicialmente, mantendo todos os serviços, indiscriminadamente, sem prever metodologias e meios de proteção do servidor. O servidor ficou temeroso pela sua saúde, de sua família e da sociedade. Somente após muita cobrança, a instituição buscou alternativas para dar esses meios, como produzir, no IC, álcool 70% para fornecer às unidades e ampliar o contrato de limpeza, viabilizando a limpeza das Centrais de Flagrante nos fins de semana. Nos cobram muito testes de diagnóstico para os servidores, mas, apesar de divulgado pela SSP a aquisição, até hoje não sabemos quando e como serão disponibilizados.

Estão sendo aplicadas medidas de prevenção ao coronavírus?

Sim, mas, ao nosso sentir, de forma insuficiente. A principal medida, que seria a disponibilização de testes, ainda não ocorreu e isso inviabiliza o isolamento do servidor contaminado, e aqueles com quem teve contato, e com sintomas leves, sem indicação de ir à uma unidade de saúde. Isso pode gerar, imediatamente, focos de disseminação nas unidades policiais e, em um segundo momento, um exacerbado número de baixas, podendo implicar, inclusive, no encerramento de atividades por falta de efetivo.

Como está a situação nas delegacias? Que tipo de ocorrência tem chegado mais?

Todo tipo, não houve, como em outros Estados, restrição ao registro de ocorrências graves, o que para nós, parece um erro grave, mas a direção disse que ampliará o rol de registros na delegacia eletrônica o mais rápido possível.

A PCDF está preparada para receber um volume maior de ocorrências em decorrência da pandemia?

O problema não é receber a ocorrência, as de crimes patrimoniais e cibernéticos esperamos o aumento. A dificuldade é atender a demanda daí decorrente e, para isso, precisaremos de servidores saudáveis.

Como o senhor enxerga a atuação dos governantes para a contenção da pandemia? 

Estão seguindo a orientação da OMS e especialistas, não nos compete julgar a decisão política, mas oferecer, na medida do possível, ordem para cumprimento. Mas, quanto à segurança, nos parece ter faltado planejamento, como já exposto.

Qual é a mensagem para a população?

Cumpra as normas do governo, pois seguem orientações técnicas de especialistas.

Em meio a essa crise surgiu um desgaste com a Secretaria de Segurança por conta da comunicação. Qual a origem do problema?

Como dito, a Segurança terá um papel fundamental durante essa crise para manter a ordem. Esperamos um cenário em que crimes patrimoniais aumentarão por conta da perda de empregos e desaceleração econômica. Segundo a CDL, nos primeiros 15 dias o DF perdeu quase 3000 empregos formais. Autônomos estão com seus negócios paralisados. Há uma massa de cidadãos enorme que não tem condição econômica de suportar essa paralisação por semanas. Assim, muitos indivíduos podem ser levados a praticar crimes, saques, por necessidade e tudo isso terminará em demanda para Polícia Civil. Nesse cenário, não é possível que a comunicação da SSP continue menosprezando a nossa instituição. É inaceitável a ausência da Polícia Civil em várias mídias de comunicação da SSP.

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