Cerca de 20 pacientes com quadro grave de covid-19 internados no Hospital de Base temem ficar sem leitos após esta segunda-feira (30). Os cidadãos estão internados em unidade de terapia intensiva (UTI) com suporte de hemodiálise, e os 20 leitos devem ser removidos pela empresa responsável nesta terça-feira (1).
Os leitos, de alta complexidade, devem ser removidos porque, nesta segunda (30), se encerrou o contrato da Secretaria de Saúde com a Organização Aparecidence de Terapia Intensiva (OATI), fornecedora dos equipamentos. O superintendente do Hospital de Base, Dr. Lucas Seixas, chegou a solicitar a prorrogação do vínculo. A SES, no entanto, não autorizou, alegando que os leitos precisam ser desmobilizados dada a atual situação da pandemia no DF.
Contudo, uma questão relacionada à falta de pagamento também teria culminado no fim do contrato. A Organização Aparecidence está responsável pelos 20 leitos há cerca de seis meses, mas só teriam recebido o equivalente a dois meses. O Tribunal de Contas (TCDF) chegou a recomendar a redução da taxa diária para renovação do contrato, e a OATI teria aceitado. Contudo, para renovar, seria preciso receber os valores em atraso. O valor da diária gira em torno de R$ 5,3 mil e seria reduzido para R$ 4.282,60.
Fontes também afirmam ao Jornal de Brasília que ainda não há um plano de transferência dos pacientes para outras unidades de saúde. Sem os leitos, todos correm risco de vida. Além disso, pacientes em estado crítico podem não resistir caso tenham de ser transferidos para outro hospital.
Temendo pela vida dos pacientes, parentes exigem respostas. Samira, filha do paciente Manoel, relembra a experiência que teve e destaca a importância dos leitos terceirizados. Ela afirma que o pai foi inicialmente internado no Hospital Regional da Asa Norte (Hran). “Meu pai estava jogado no Hran em estado gravíssimo, em um box de emergência. Se ele não tivesse ido para o Hospital de Base, ele teria morrido sem um pingo de respeito e cuidado. No Base, ele recebeu tratamento de excelência”, relembra.
“Infelizmente ele não resistiu, vindo a falecer no dia 24 de outubro. Mas se ele não tivesse nesse leito, ele teria falecido antes, porque o caso era bem grave. Eles deram um suporte incrível. Não tenho nem palavras como foi bom o tratamento que deram para o meu pai.”
Em contato com a reportagem, o Instituto de Gestão Estratégica (Iges-DF), que administra o Hospital de Base, garantiu que os pacientes serão “devidamente transferidos para leitos disponíveis”, e que os prováveis destinos são outros leitos do próprio Base e do Hospital de Campanha da Polícia Militar.
O Iges-DF disse também que a desativação dos leitos já era prevista, e que o contrato não será renovado porque a taxa de utilização de leitos de UTI para covid-19 no DF está abaixo de 40%. Na segunda (30), no entanto, o secretário de Saúde, Osnei Okumoto, admitiu a possibilidade de uma segunda onda da doença na capital.
O Instituto afirmou ainda que os pacientes que necessitem permanecer nos leitos da empresa terceirizada ficarão neles até a data necessária, e que o pagamento referente a este serviços será feito pelo Iges por meio de ressarcimento.