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Brasília

Obras inacabadas levam mais de 900 empresas a fechar as portas em Vicente Pires

Arquivo Geral

02/05/2019 20h43

Ana Karolline Rodrigues
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Devido a obras inacabadas em Vicente Pires, 962 empresas do comércio local fecharam as portas nos últimos dois anos, segundo levantamento da Associação Comercial da cidade, feito nesse mês de abril. De acordo com o presidente da entidade, Anchieta Coimbra, obras para recapeamento que começaram na cidade e não foram concluídas afastam clientes desde 2017, aproximadamente. “De lá para cá, a gente entende que o quadro ficou muito ruim. Apenas na Rua 5, que é o principal comércio de Vicente Pires, foram 105 empresas fechadas”, relatou.

Segundo Anchieta, existiam na cidade cerca de 3 mil empresas em 2017. “Contratamos uma equipe de dez pessoas, visitamos todas as ruas e calculamos isso. Estamos calculando como se tivesse cinco pessoas por empresa. Se foram 962 empresas fechadas, foram 4.810 funcionários que perderam emprego”, analisou.

“Agora, enviamos um pedido para o governador, no dia 22 de abril, com a ideia de mostrar o quadro para ele, para pedir que se sensibilize com a situação. Na campanha, ele disse que iria dar apoio aos empresários e nossa esperança é exatamente essa agora”, disse o representante.

Anchieta mostrou à reportagem empresas fechadas nas ruas comerciais da cidade. Foto: Vítor Mendonça/Jornal de Brasília.

Anchieta mostrou à reportagem empresas fechadas nas ruas comerciais da cidade. Foto: Vítor Mendonça/Jornal de Brasília.

Procurada pelo Jornal de Brasília, a Secretaria de Obras do Distrito Federal (SODF) informou que “mesmo em ritmo mais lento em virtude do período chuvoso, as obras de infraestrutura do Setor Habitacional de Vicente Pires continuam em andamento”.

Perda de clientes

Segundo a vendedora de uma loja de sapatos no comércio da Rua 4A, Maria Fernandes, 30 anos, as vendas na empresa têm reduzido nos últimos meses. Para ela, o que mais afasta os clientes é a lama que se acumula com as chuvas e a poeira causada pelas obras inacabadas. “Isso aqui alaga que você não consegue atravessar. Essa lama de agora não é nada”, contou.

A comerciante, que trabalha no local há sete meses, relata que já lida com tal situação desde que começou no atual emprego. Segundo considera, o maior problema que afeta a região é o fato de as obras estarem paradas há meses. “Sempre foi assim. Se o governo vier e terminar a obra, tudo bem. Mas eles quebram as ruas e não terminam. O problema não é a obra, é que eles começam e não terminam. Essas ruas aqui eram todas asfaltadas, aí tiraram o asfalto e não colocaram de volta e deixaram assim”, reclamou.

Calçados da loja “Sadoc” são plastificados para não sujarem com a poeira. Foto: Vítor Mendonça/Jornal de Brasília.

Para Nalva Rosa, 35 anos, dona de uma sorveteria na Rua 5 da cidade, os problemas causados pelas obras e chuvas se intensificaram no último ano. “Ano passado foi que o bicho pegou mesmo. Nos anos anteriores a gente poderia sobreviver, mas eu senti muito ano passado, porque a rua ali no início estava destruída. Para mim a chuva foi o problema fundamental, foi o mais marcante”, considerou.

Ela, que abriu o próprio negócio há quatro anos, relata que já tem uma dificuldade com vendas em época de chuva e que, com a lama, o problema se intensifica. “Por causa da chuva e do frio, o povo não sai para tomar sorvete. Hoje a gente sobreviver, mas ainda sentimos muito com a poeira, que vem pesada mesmo. Quando vem com água, então, vira um avalanche”, disse. “O que o comerciante de Vicente Pires gostaria é que fizessem uma rua por vez, mas eles começam tudo e não terminam nenhum. Mas temos esperança, esperamos fielmente que acabem essas obras”, completou.

Sorveteria tem rotina com poucos clientes após início de obras na cidade. Foto: Vítor Mendonça/Jornal de Brasília.

Um caso ainda mais difícil foi o de Roberto de Castro, 65 anos. Em 2017, ele abriu uma panificadora que produzia pães de fermentação natural na Rua 4B. No entanto, em meados do ano passado, a loja fechou as portas. “Eu fui resistindo, até o momento que ficou quase que impossível continuar. Não pela crise econômica, mas pelas obras. Estava impossível, a clientela não estava conseguindo chegar, porque era muita interdição nas ruas”, narrou. “Depois, com o início das chuvas piorou, porque era muita lama. Então a clientela evitava entrar naquela rua”, disse.

“A gente acredita que essa obra é grandiosa, acima da média. Abaixo da média eu achei o planejamento. Um planejamento dos piores. Não privilegiou o pedestre, o ciclista. E não privilegiou o comerciante, que é quem dá emprego, que faz girar”, reivindicou. “Eu fui obrigado a fechar as portas e estou aguardando a retomada das obras para ver se reabro. Mas é muito complicado, foi um prejuízo muito grande”, lamentou.

Roberto em sua antiga panificadora “Panetto, Pães e Biscoitos”. Foto: Arquivo pessoal.

Obras em andamento

De acordo com a Secretaria de Obras do Distrito Federal (SODF), nesse período, as obras em Vicente Pires se concentram na realização dos serviços de drenagem por ser “impossível asfaltar ruas com o solo encharcado”.

Em nota, a SODF ainda disse ter conhecimento dos problemas enfrentados por moradores e comerciantes da região e se solidarizar com os mesmos. A pasta ainda informou que “não está medindo esforços para que as principais ruas e avenidas que cortam a cidade estejam concluídas até o término do período de estiagem”. “Muitas delas, como a Rua 4B, por exemplo, estão com os serviços de drenagem concluídos aguardando apenas o fim do período chuvoso para ser asfaltada”, disse o texto.


Lama afeta moradores e comerciantes de Vicente Pires. Foto: Vítor Mendonça/Jornal de Brasília.

A conclusão das obras, segundo a secretaria, está prevista para 2020. No local, estão sendo investidos R$ 462 milhões.

Veja, a seguir, o quadro enviado pela secretaria que aponta o percentual de execução das obras por lotes neste mês de maio:

LOTESDRENAGEM (%)PAVIMENTAÇÃO (%)CALÇADAS (%)
0146,2418,6026,06
021,300,000,00
0383,0149,5557,64
0444,3827,5825,11
0552,5924,6326,18
0626,9617,9515,25
0771,4740,6843,00
080,000,000,00
0978,5537,7742,61
1054,5724,0924,61
1118,471,812,11

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