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Brasília

O traço da moda de Brasília pede passagem e invade o país

Em joias ou em roupas, o design criado por empresárias da capital conquista os consumidores

Catarina Lima

17/02/2020 6h43

Perto de completar 60 anos, Brasília começa a se descolar da imagem de cidade que vive apenas de política e passa a encantar também pela qualidade do que produz.

Beleza, simplicidade e qualidade são os trunfos de um grupo de empresários brasilienses para levar os seus trabalhos além das fronteiras da capital do país.

Arquitetura nas joias

A arquitetura da cidade pode ser admirada em outros estados e até fora do Brasil no design apurado da joalheira Carla Amorim, que há 27 usa como inspiração os traços de Oscar Niemeyer, a natureza e a sua religiosidade.

Mas não foi apenas Carla que “furou a bolha” do Planalto Central e conseguiu mostrar que Brasília exporta outras coisas além de política e flores do cerrado. A palavra confraria num primeiro momento remete a associação laica que funciona sob os princípios religiosos.

Em Brasília, Confraria é uma loja de bolsas, sinônimo da ousadia da artista plástica mineira Ana Paula Ávila. Mulher inquieta, de olhar atento, Ana Paula chegou à cidade para viver uma história de amor – casou-se com um brasiliense – e acabou construindo, na verdade, uma história de afeto com a Capital.

“Eu não imaginava nunca vir para Brasília, porque mão de obra para artefato de couro não é em Brasília, mas um dia vim pra cá. Coloquei tudo num caminhão e trouxe dois funcionários que se dispuseram a vir comigo ”.

Hoje, passados 22 anos, a Confraria encontrou seu lugar na cidade e extrapolou os seus limites. Ana Paula destaca a vontade que sempre teve de fazer um trabalho de qualidade em couro no Brasil.

“Minha maior riqueza é a mão de obra que consegui formar em Brasília nesses vinte anos. O maior tesouro que tenho são os meus artesãos”, destacou.

Ana Paula tem 13 auxiliares, exporta para cem pontos de venda pelo Brasil e seis fora, que são Suíça, Estados Unidos, França, Itália e Japão.

Pequeno ateliê

Outra que imprime os traços da arquitetura de Niemeyer em seu trabalho é a estilista Letícia Gonzaga. Dona de um pequeno ateliê que começou em casa há mais de 30 anos, a moda feita por Letícia pode ser traduzida como espelho da estilista e de sua vida em Brasília.

A design está presente em todas as fases da criação, desde fazer o croqui até a última prova – ela é a modelo de prova de sua marca. Vestidos, saias, blusas que lembram o jeito de falar manso de Letícia, hoje fazem sucesso em todo o país.

Letícia Gonzaga, que estudou moda e pedagogia, herdou a marca da mãe e diz que hoje faz uma roupa que tem a sua identidade. Levar a moda autoral de Brasília a outras praças aconteceu quando Letícia decidiu vender em atacado, para Belo Horizonte (MG). Letícia emprega 13 mulheres do Distrito Federal. Segundo ela, essas profissionais são o seu maior capital.

Algumas mulheres de fora de Brasília, que frequentam durante a semana a Esplanada dos Ministérios, os tribunais superiores e o Congresso Nacional, costumam reservar um tempinho para dar uma ida rápida a Avanzzo, uma loja genuinamente brasiliense, fundada por um casal de namorados há 30 anos.
O casal casou-se, teve filhos e a Avanzzo também cresceu, inclusive para fora da cidade.

Primeiro, a mulher brasiliense

À frente da marca Avanzzo, a estilista Daniella Naegele vende para vários estados. Mas, quando cria, ela pensa em primeiro lugar na mulher brasiliense.

Uma de suas maiores inspirações é o céu de Brasília. Sem praia, é comum o brasiliense dizer que seu ceu, com azul impressionante e tons de cores inusitadas no por do sol, que mudam de acordo com a estação — “é o mar de Brasília”.

“A mulher daqui gosta de cor, ao contrário da de São Paulo que privilegia o preto, o cinza e o branco”, explica Daniella.

A estilista leva suas roupas com a cor do céu da capital a outras cidades do Brasil, por meio do comércio eletrônico. Em breve, ela anuncia a abertura de uma loja em São Paulo.

Além do Plano Piloto

Há 14 anos no mercado, Romildo Nascimento faz roupa casual, totalmente inspirada nas ruas de sua cidade – a Ceilândia –, região administrativa mais populosa do Distrito Federal.

Auxiliado por uma costureira e usando como ferramenta de venda o Instagram, Romildo faz coleções “cápsula” para homens com idade entre 25 e 45 anos.

Coleções “cápsula” são coleções pequenas, com poucas peças, que são lançadas entre as estações. Uma coleção dentro da coleção.

Saiba Mais 

  • Apesar de ser dono de uma confecção ainda pequena e fora do Plano Piloto, Romildo Nascimento já é um nome reconhecido no mundo da moda masculina.
  • O estilista foi ganhador de uma edição do Capital Fashion Week, importante evento de moda de Brasília.
  • Romildo tem hoje clientes nas regiões Nordeste e Sudeste.
  • Apesar do sucesso no entanto, ele não tem planos de deixar Ceilândia e mudar seu ateliê para outro endereço.
  • Segundo Romildo, Ceilândia é a sua maior fonte de inspiração. Assim, ele não tem planos de deixar a cidade.

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