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Brasília

O “+” em “LGBTQ+”: nascida para representar inclusão, sigla se expande

De acordo com Fábio Félix, ativista da comunidade LGBTQ+, a história da sigla reflete transformações históricas e políticas do interior do movimento social

Agência UniCeub

24/09/2019 14h53

Guilherme Gomes
Jornal de Brasília/Agência UniCeub

Não cabem mais só as lésbicas, os gays, os bissexuais, os transexuais e os queers. Nascida de uma necessidade de dar voz a outros grupos do que antes se chamava de “movimento gay”, a sigla LGBTQ ganhou o “+” e segue em expansão. 

De acordo com o deputado distrital Fábio Félix, ativista da comunidade LGBTQ+, a história da sigla reflete as transformações históricas e políticas que ocorrem no interior do movimento social. “Inicialmente ele era chamado de ‘movimento gay’ e, no contexto nacional, MHB (Movimento Homossexual Brasileiro). Com a disputa das mulheres lésbicas por visibilidade, surgiu a sigla GLS (de Gays, Lésbicas e Simpatizantes), mas que teve mais entrada no mercado do que no movimento social”, afirma.

Sem se sentir representados, bissexuais, travestis e transexuais criaram a sigla GLBT (Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais). “Até que, em ocasião da 1ª Conferência Nacional GLBT do Brasil, realizada em 2008, o movimento social organizado convencionou que a letra “L” anteciparia a letra “G”, uma vez que homens gays sempre hegemonizaram a visibilidade”, diz o deputado.

Mesmo assim, há grupos que não se sentiam parte da nova sigla. A cifra mudou para LGBTTT a fim de dar visibilidade às diferenças entre as identidades “travesti” e “transexual” e incluir o termo “transgênero” que pode englobar pessoas não binárias ou de gênero fluido. O tema é considerado importante por membros da comunidade que não se enquadram nas chamadas “cisnormas”.

Elas, segundo Lucci Laporta, 26,  que integra a coletiva (o grupo prefere que o termo seja utilizado no feminino) Trafem, são as normas sociais que designam as pessoas a um determinado gênero a partir do nascimento, tendo como base a genitália do bebê. “O que sustenta um binarismo de que só existem as possibilidades de existirmos enquanto mulheres ou homens e que, se tivermos pênis, necessariamente devemos ser homens e, se tivermos vagina, mulheres”, afirma Laporta.

A própria Trafem foge à ortodoxia de nomenclatura. O grupo se considera “trafeminista”. A ideia é dar visibilidade às travestis. “Usamos TRAfeminismo, não transfeminismo, como uma forma de criticarmos a invisibilidade às travestis. É uma identidade de gênero latino-americana, que se inscreve sob o espectro da feminilidade, mas sem necessariamente se ater ao binarismo de gênero patriarcal”, afirma Laporta.

Félix lembra que, recentemente, ativistas intersexo vêm reivindicando sua inclusão na sigla, que passaria a ser LGBTI. “Importado dos Estados Unidos, o termo ‘queer’ também é colocado na sigla por alguns ativistas, que usam as siglas LGBTIQ ou LGBTQI. Identidades que vêm ganhando repercussão no movimento social nos últimos anos, ‘pansexual’ e ‘assexual’ ainda não estão, comumente, incluídos na sigla”, diz. 

Lennon Gomes, 19, estudante na UnB (Universidade de Brasília), se denomina pansexual. “É se sentir romântico ou sexualmente atraído por homens, mulheres e pessoas não-binárias”. O jovem acha que falta informação para sociedade sobre a comunidade não-heterossexual. “Frequentemente tem pessoas confundindo bissexualidade e pansexualidade e espalhando informações  que acabam por apagar ainda mais o pan no movimento LGBT+”, afirma. 

Para Maria Célia, coordenadora LBGTQ+ da Diretoria da Diversidade da Universidade de Brasília (UnB), o governo por meio da informação pode conscientizar a sociedade sobre a diversidade de gênero. “As políticas públicas podem estar em várias frentes, desde o reconhecimento da diversidade até na saúde e educação. Promover debates que valorizem a diversidade é importante”, declarou Maria Célia. 

SAIBA MAIS:

Pessoa não-binária e gênero fluido 

Para Lucci Laporta, as pessoas não-binárias são parte das pessoas transgênero, mas que, diferentemente de mulheres trans, homens trans e de algumas travestis, não se inscrevem sob o binarismo de gênero “Homem X Mulher” criado pelo patriarcado. “São por não se reconhecerem nem como homens, nem como mulheres, acabam sendo, necessariamente, dissidentes da forma como a sociedade as designou (o que determina a transgeneridade)’, esclareceu a ativista. 

As pessoas de gênero fluido também são parte das pessoas transgênero, mas não têm uma identidade fixa. “Flutuam entre identidades estabelecidas, mas sem se identificar com nenhuma de forma estável”, afirma Laporta. 

Orientação sexual x Identidade de gênero

Essas duas expressões podem causar confusão quando o assunto é gênero e sexualidade. Fábio Félix pontuou que a orientação sexual é uma categoria teórica formulada no final do século XX para diferenciar as formas de se vivenciar (ou não) o desejo sexual a partir do seu direcionamento de gênero. “Foi criada para diferenciar heterossexuais de homossexuais, gays de lésbicas e de outras identidades. Se reduz ao âmbito da sexualidade humana: sentir ou não atração sexual por pessoas, independente de suas identidades de gênero”. 

A identidade de gênero é a forma como um indivíduo social se enxerga e se coloca no mundo. “A partir dessa relação dialética, pode-se desenvolver identidades cisgênero (que são necessariamente binárias, ou seja: “homem” ou “mulher”) ou pode-se desenvolver identidades transgênero”, diz Félix. 

 

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