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Brasília

Nova paralisação aumenta crise

Greve de funcionários evidencia impasse com o GDF. “Não há atraso no pagamento”, diz SES-DF

Pedro Marra

16/01/2020 5h00

Atualizada 15/01/2020 23h33

Foto: Agência Brasil

Ontem foi mais um dia de paralisação dos funcionários da Sanoli, empresa de alimentação hospitalar que atende hospitais regionais do Distrito Federal. A greve ocorreu novamente devido ao atraso de salário que já dura quatro meses, segundo os trabalhadores. A empresa segue justificando os atrasos por supostamente não receber, desde 2014, R$ 42 milhões da Secretaria de Saúde do DF (SES-DF).

Enquanto isso, muitos trabalhadores ficam à mercê da ajuda de amigos e parentes para pagar contas e sustentar a família. É o caso do funcionário da limpeza do Hospital do Gama (HRG), Wellington Angelo Bispo, de 25 anos. “Tenho dois filhos, Khezia, de dois anos, e Thiago, de cinco. Esses dias, eu tive que conseguir, através da minha mãe, um rapaz para trazer uma cesta básica de R$ 280. Então a gente teve que comprar fiado para os meus filhos. Estava faltando lanche até para o café da manhã. E as dívidas só vão aumentando, tenho que pagar a última prestação da minha casa. A vendedora me liga todos os dias perguntando se o dinheiro vai sair”, relata o morador do Pedregal, bairro do Novo Gama.

Wellington afirma ainda que os funcionários com salários atrasados têm sofrido ameaças da Sanoli. “Eles pegam funcionários que já foram pagos de outras unidades e vão substituindo a gente. Saem dois que estão em greve, eles colocam três no lugar. Ou te transferem, ou mandam embora”, diz o funcionário, há três anos no HRG.

A Sanoli alega que além de funcionários nos hospitais públicos, possui outros dentro da própria empresa, no Setor de Armazenagem e Abastecimento Norte (Saan), onde fica a cozinha central. “Quando param os serviços aos pacientes, como agora, fazemos uma mudança emergencial. Acionamos funcionários de outros setores para que os pacientes não sejam prejudicados. A transferência de funcionários é apenas para preservar esses casos”, esclarece a empresa.

Conversas diárias
Segundo o advogado do Sindicato dos Trabalhadores nas Empresas de Refeições Coletivas de Brasília e de Goiás (Sinterc-DF/GO), Carlos Augusto Dittrich, os atrasos ocorrem esporadicamente há dois anos, mas sem pagar integralmente, há quatro meses. “Eu estive conversando com a secretaria e eles disseram que vão ter dinheiro até o dia 17 ou 21 para pagar a fatura de dezembro. Eles têm 30 dias para pagar, o que daria até 2 de fevereiro. A gente não quer que a empresa feche as portas, o que é pior. Sempre tentamos o diálogo”, explica.

Um motorista da empresa, que não quis se identificar, afirma que não recebe o salário há mais de oito dias. “Todo mundo faz greve porque nós estamos sem dinheiro. Como é que trabalhamos? As nossas dívidas todas atrasadas, coisas para serem resolvidas, e não temos uma posição da empresa. Eles alegam que esperam o dinheiro do governo para pagar os funcionários, mas nada se resolve para nós”, critica.

A paralisação de ontem tomou conta do Hospital Regional do Gama (HRG), de Ceilândia (HRC) e do Hospital Regional da Asa Norte (Hran). Cerca de 70% dos funcionários do Hospital Materno Infantil de Brasília (Hmib) não trabalharam.

“Esgotamento da capacidade financeira”

Em nota enviada à reportagem, a Sanoli diz que “o não recebimento de valores, alguns devidos desde 2014 pela SES-DF, levou ao esgotamento de nossa capacidade financeira, razão pela qual não conseguimos pagar a folha salarial de dezembro dos nossos colaboradores. Viemos alertando a SES, através de reiteradas correspondências, quanto à gravidade do momento, bem como do risco de falta de gêneros alimentícios e de pessoal”, esclarece a empresa.

Por outro lado, a secretaria de Saúde do DF afirma que não há atraso nos pagamentos a Sanoli. “A pasta informa que a nota referente aos serviços prestados em dezembro foi entregue pela empresa há dez dias. De acordo com o contrato, o prazo para a pasta efetuar o pagamento é de 30 dias após a apresentação da nota. Vale ressaltar, ainda, que as refeições foram servidas normalmente na manhã desta quarta-feira (ontem) nos hospitais atendidos pela Sanoli. Sobre as dívidas das gestões anteriores, a Secretaria de Saúde esclarece que permanecem em análise”, diz o órgão.

Demitido em 31 de dezembro, o ex-auxiliar de confeitaria do Hospital Regional do Gama (HRG), Agenilton Francisco, de 29 anos, ficou por três anos e cinco meses na empresa, que não explicou o motivo da dispensa. “Eles me chamaram e disseram que a empresa estava me desligando. Mas tenho certeza que foi devido à greve. Eles falam uma data prevista para o pagamento sair, e nada de cair na nossa conta”, relata.

Agenilton tem tido prejuízos desde que não recebe do antigo trabalho. “Paguei faturas atrasadas de cartão de crédito e de aluguel da minha casa. E fui dispensado na hora de pagar o boleto do último mês. Os atrasos começaram há quatro meses, quando a gente fazia greve direto nos hospitais. A Sanoli argumenta que o motivo é a dívida com o GDF, inclusive uma dívida que tem desde 2014”, diz o ex-funcionário da empresa.

Em dezembro, funcionários fizeram greve em sete hospitais. À época, a Sanoli suspendeu, parcialmente, a alimentação de servidores e acompanhantes de sete hospitais e três Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) do Distrito Federal. A Sanoli ainda forneceu alimentação para os acompanhantes especiais, “até esgotar o atual estoque de matéria-prima e enquanto tenhamos um quadro mínimo indispensável de distribuição das refeições”, informou.

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