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Brasília

Mãe-de-Santo denuncia presidente da Fundação Palmares por injúria racial e discriminação religiosa

Denúncia é relativa a vazamento de áudios em que Sérgio Camargo direciona ofensas à comunidade negra e praticantes de religião de matriz africana

Lucas Neiva

03/06/2020 18h40

Foto: Ògan Luiz Alves/Projeto Oníbodê

Na manhã de hoje (3), a sacerdotiza de religião de matriz africana Adna Santos de Araujo, popularmente conhecida com Mãe Baiana, abriu queixa na Delegacia Especial de Repressão aos Crimes por Discriminação Racial, Religiosa ou por Orientação Sexual (Decrin) da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) contra o presidente da Fundação Palmares, Sérgio Camargo, após um vazamento de áudios de uma reunião em que o servidor teria dirigido ofensas e calúnias contra ela, contra a comunidade negra e contra praticantes do Candomblé.

Adna afirma ter recebido os áudios por meio das mídias sociais. No conteúdo, Sérgio Camargo ataca Adna referindo-se a ela como “uma filha da p*** de uma macumbeira, uma tal de Mãe Baiana que fica infernizando a vida de todo mundo”. Logo em seguida, lança acusações contra ela. “Além de fazer macumba pra mim, essa miserável tá querendo agitar invasão de novo”.

Em outro momento do áudio, o presidente da Fundação Palmares dispara ofensas contra as comunidades negras do Brasil, referindo-se a elas como “os vagabundos do movimento negro, essa escória maldita”. Também declara que vai cortar o apoio financeiro aos terreiros. “Não vai ter nada para terreiro da Palmares enquanto eu estiver aqui dentro. Nada, zero. Macumbeiro não vai ter nenhum centavo”.

Adna prestou queixa na Decrin junto a representantes de movimentos de combate à discriminação racial e religiosa. Ela afirma não entender o motivo das ofensas, já que nunca sequer chegou a conhecer Sérgio Camargo. “Aquelas falas são uma loucura, todo mundo está tentando entender. Nem eu entendi. Eu não nunca o vi. Não sei se esse rapaz é alto ou é baixo, eu não o conheço. Eu não sei como foi que começou isso”.

Foto: Ògan Luiz Alves/Projeto Oníbodê

A sacerdotisa recebeu com um susto as declarações de Camargo. “É o normal de qualquer pessoa que não conhece o outro e recebe uma declaração feita por uma pessoa que você nunca viu. Foi um susto. E é inadmissível segurar esse susto e ficar com ele no meu colo, eu não fico”, afirma minutos depois de sair da delegacia.

Uma das participantes do ato que acompanharam a Mãe Baiana na delegacia foi Margareth Rose, militante da Frente de Mulheres Negras do DF e Entorno e representante do Movimento Negro. “Ele foi completamente racista contra a Mãe Baiana e contra o Movimento Negro em geral. (…) Nem o 20 de Novembro ele queria. Ele chamou o Movimento Negro de maldito, chamou Zumbi dos Palmares de filho da p***. Esculhambou completamente a nossa comunidade e o povo de Axé, no caso a Mãe Baiana, a nossa representante aqui em Brasília”, afirma.

Margareth se revolta ao ver tais manifestações vindas da chefia da Fundação Palmares. “O Movimento Negro está completamente organizado para a gente tirar esse capitão do mato de lá. A Fundação Palmares foi formada pelo Movimento Negro. Não foi ninguém, foi o negro em movimento, que luta por essa causa há muito tempo. (…) Ver um homem negro se vendendo aos racistas é exatamente o que os racistas querem ver: os negros se rendendo a eles”, exclama.

Em nota pública, a Fundação Palmares manifesta reprovar “quaisquer formas de discriminação, racismo ou violência manifestas e empregadas no Brasil e no mundo”. Também afirmam rechaçar “tentativas de utilizar esta reprovação por grupos politicamente engajados que promovem o caos social, anarquia e atos criminosos, como tem sido amplamente divulgado nas mídias”. Por fim, afirma que “todas as vidas importam independentemente de cor, raça ou etnia” e declara confiar em soluções por meio do diálogo, respeito e tolerância.

Camargo chama movimento negro de ‘escória maldita’ 

Em conversa com funcionários do órgão, ligado à Secretaria de Cultura do governo Bolsonaro, Camargo se queixa da ação de esquerdistas supostamente infiltrados na fundação e incentiva seus subordinados a os entregarem, para que sejam demitidos. 

Escute os áudios na íntegra:

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