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Brasília

“Justiça” é clamada em velório da 30ª vítima de feminicídio

Familiares, amigos e clientes manifestaram revolta e prestaram homenagens no Campo da Esperança de Taguatinga nesta quinta-feira (28)

Redação Jornal de Brasília

28/11/2019 21h28

Samara Sousa, 22 anos, filha de Sandra. Foto: Vítor Mendonça/ Jornal de Brasília 

Vítor Mendonça
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Um clamor de uníssono de “justiça” marcou o velório da 30ª vítima de feminicídio do Distrito Federal. Sandra Maria Sousa Moraes, 39 anos, foi velada nesta quinta-feira (28), cinco dias após o assassinato da cabeleireira, no cemitério Campo da Esperança de Taguatinga. O velório estava previsto com início às 13h, mas precisou ser adiado para às 16h, uma vez que o corpo já se encontrava em estado de decomposição.

Foto: Vítor Mendonça/ Jornal de Brasília

Cerca de 120 pessoas entre amigos, familiares e clientes se reuniram próximo à capela um para acompanhar o cortejo fúnebre da vítima, morta por Danilo Sousa Moraes, o próprio irmão. O crime aconteceu no último sábado (23) e o algoz teve a ajuda do filho de Sandra, Brendo Sousa, para enterrar a cabeleireira na Colônia Agrícola 26 de Setembro, próximo a Vicente Pires. Ela foi assassinada com um fio de telefone e encontrada com ele ao pescoço na segunda-feira (25).

“Meu corpo está aqui, mas é como se minha mente está lá com ela, no céu”, disse o outro irmão de Sandra, Denilson Sousa, de 30 anos. Segundo o parente, que é porteiro, os dois mantinham contato frequente. “Não tinha uma vez que eu não passasse pelo Pistão e não fosse lá pra pelo menos tomar um café. Agora eu não vai ter uma vez que eu não vou chorar ao passar por lá”, disse o homem, com lágrimas nos olhos.

“Espero que a justiça e os policiais consigam detalhe por detalhe desse caso. Eu vou dormir e acordar pensando no motivo disso tudo ter acontecido”, completou Denilson. Sobre o sobrinho solto em audiência de custódia na última quarta-feira, assim como outros ali, se revolta. “Não entendo porque está solto”, comentou.

A filha de Sandra, Samara Sousa, chegou a desmaiar antes de acompanhar o cortejo fúnebre. Em frente ao túmulo, em meio a gritos, precisou ser amparada por amigos e familiares. A comoção era geral. Uma singela foto da cabeleireira foi colocada sobre o caixão, juntamente com flores.

Osnir de Sousa Tavares, atual namorado da vítima, mantinha o relacionamento há um ano e oito meses. O homem de 42 anos que trabalha como músico conta que a falta de contato de Sandra com ele foi o que mais lhe fez desconfiar de que algo teria acontecido. “A gente se falava todos os dias. Muito difícil de eu não ir à casa dela. Nesse fim de semana em questão, ela me disse que ficaria o dia todo cuidando de uma cliente e não poderia conversar muito, o que é comum com alguns tratamentos que ela fazia”, disse. “A Sandra é a princesinha da minha vida. Para mim ela nunca morreu”, completou, não contendo as lágrimas.
Sobre o filho Brendo, antes preso por ocultação de cadáver, ele acredita que não haja inocência, conclusão tirada a partir de outras situações que ele relata ter vivido com o rapaz. “Desde que eu me lembro, ela sempre teve uma relação péssima com ele. Me dizia que era desde a infância, quando ele tinha seus 10 anos de idade”, contou. “Uma vez precisei livrar ele de algumas pessoas que queriam matar ele por causa de droga. Ele teve até que abaixar no banco para não levar tiro”, completou.

Osnir de Sousa Tavares (com a mão na bora), estavam juntos há um ano e oito meses. Foto: Vítor Mendonça/ Jornal de Brasília

Vaquinha solidária

O dinheiro utilizado para o sepultamento foi juntado e organizado por amigos, clientes e solidários de Sandra. Um grupo de Whatsapp foi criado para reunir as informações mais importantes e fazer a balança da quantia arrecadada, além dos passo a passo até o enterro. Mais de R$ 5 mil foram doados para ajudar nas despesas. O dinheiro que não for utilizado no funeral deverá ser entregue à Samara Sousa, 22 anos, filha de Sandra e vítima de violência sexual do algoz da mãe.

De acordo com as investigações da Polícia Civil do DF (PCDF), Sandra foi enforcada por Danilo com um fio de telefone em um terreno ao lado da casa que ela mantinha, na Colônia Agrícola Samambaia, em Taguatinga. No mesmo lote há um salão de beleza onde a cabeleireira atendia a clientela. Muitas também eram amigas próximas da vítima, conhecida como “Sandrinha” na região.

“Ainda estamos averiguando a motivação do crime. Nossa desconfiança é que tenha sido por briga de lote, mas não sabemos se foi motivo suficiente, se havia desavenças anteriores”, afirmou o delegado-chefe da 38ª Delegacia de Polícia (Vicente Pires), Yury Fernandes, coordenador das investigações.

Foto: Vítor Mendonça/ Jornal de Brasília

Danilo Sousa Moraes permanece foragido e já havia sido preso em São Luís, no Maranhão, pelo crime de latrocínio. Nesta situação, o homem assassinou a vítima da mesma forma que Sandra, enforcando-a com um cabo, desta vez telefônico. Ele havia sido encaminhado para o Complexo Penitenciário de Pedrinhas, mas fugiu e estava sendo coberto pela irmã.

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