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Brasília

Incêndios causados por ar-condicionados alertam para manutenção dos aparelhos

Arquivo Geral

15/02/2019 18h44

Loja atingida por incêndio na 104 Norte. Foto: Kléber Lima/Jornal de Brasília.

Ana Karolline Rodrigues
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Na madrugada do último dia 8, um incêndio atingiu o Centro de Treinamento do Flamengo, no Rio de Janeiro, e deixou o País em luto. Dez jogadores adolescentes das categorias de base do clube rubro-negro morreram, e três ficaram feridos. A explosão foi causada por um curto-circuito em um ar-condicionado do alojamento no Ninho do Urubu.

Em Brasília, na manhã do mesmo dia, um incêndio atingiu uma sala comercial na 104 Norte, provocado pelo mesmo motivo. Ninguém ficou ferido. Devido a casos como esses, especialistas chamam atenção para a importância da instalação correta e da manutenção periódica nestes aparelhos como forma de evitar acidentes.

Segundo Rebeca Geovana Dias, 20 anos, funcionária da loja comercial da Asa Norte atingida pelo fogo, bastou que ela ligasse o aparelho para que ocorresse uma explosão. “Eu estava sozinha lá trabalhando normalmente e fui ligar o ar-condicionado quando vi um clarão. Depois disso não vi mais nada. Então alguém do prédio acionou o bombeiro, não vi quem era porque estava correndo, assustada. Mas o pessoal ajudou com dois extintores até o bombeiro chegar”, contou.

A empresa Tegsat, que trabalha com segurança e rastreamento de veículos por satélite, estava no prédio há dez anos e, segundo Rebeca, nunca houve  problema com o aparelho no local. “Nunca tinha acontecido nada. Tinha pouco tempo que tinha feito manutenção [no ar-condicionado]”, disse. De acordo com a funcionária, o incêndio consumiu quase toda a empresa, que precisará ser reconstruída. “A gente tirou tudo da loja, as coisas que sobraram e vamos tentar reformar, colocar vidro novo. Perdemos praticamente tudo, 80% das coisas que haviam lá”, lamentou.

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De acordo com o Corpo de Bombeiros Militar do DF (CBMDF), incêndios dessa natureza são classificados como Fenômenos Termoelétricos e podem ser causados por curto-circuitos e por mau funcionamento, ou seja, falhas de projeto, execução, utilização, ou manutenção.

DF
No Distrito Federal, já foram identificados dois casos desta natureza neste início de ano. No primeiro semestre de 2018 foram identificados seis casos envolvendo ar-condicionado. Segundo o CBMDF, porém, ocorrências como essa não são frequentes, correspondendo a cerca de 5% das ocorrências que envolvem fenômenos elétricos. De forma geral, a frequência de incêndios neste equipamento é próxima a de acidentes dessa natureza em eletrodomésticos como ventiladores.

Para saber, então, quando está na hora de fazer manutenção no aparelho a pessoa deve, segundo os bombeiros, observar o cronograma de manutenção estabelecido pelo fabricante no manual de instruções; um possível mau funcionamento; se há algum barulho anormal, cheiro, água pingando ou falta de resfriamento adequado.

A corporação ainda alerta que, para prevenir acidentes como estes, deve-se:

  • Realizar projeto com profissional adequado;
  • Proceder a manutenção e utilização do equipamento, conforme o manual de instruções do fabricante;
  • Desligar da tomada equipamentos que apresentem falhas no funcionamento;
  • Evitar colocar materiais de fácil propagação de incêndios nas proximidades do ar-condicionado, tais como cortinas, sofás e camas

Falta de manutenção

Apesar de saber da possibilidade de curtos-circuitos, nem sempre aqueles que têm estes aparelhos fazem revisões periódicas. No mesmo prédio da 104 Norte, o vendedor da floricultura Flores do Paranoá, Márcio Pereira, conta que o ar-condicionado instalado na loja já está no local há mais de 25 anos. Segundo ele, o equipamento nunca deu problema.

“Nunca teve problema na fiação, em nada. Já tiveram várias vezes de cair raio e queimar a câmara fria ali, computadores, mas no ar-condicionado não”, disse. No entanto, ele afirma que as manutenções não são frequentes porque o aparelho raramente é usado. “Não fazemos muito, porque quase não ligamos. Ele resseca muito as flores, então só ligamos quando está muito calor mesmo”, disse.

Márcio Pereira. Foto: Kléber Lima/Jornal de Brasília.

Em uma oficina de arte no prédio ao lado, a proprietária Ângela Zarart relata que há um tempo já deixou de ligar um dos dois aparelhos que tem na empresa para esperar a manutenção. “Nós só usamos esse de baixo aqui, o outro está parado há um tempo. Prefiro deixar sem usar, porque precisa de manutenção”, disse. Ela, no entanto, admite que só chama algum técnico para realizar uma manutenção no equipamento quando “dá problema mesmo”. “A gente mesmo faz a limpeza das telas, só chamamos um técnico quando tem que fazer limpeza maior, aí é de ano em ano”, contou.

Após o incêndio na última semana, Ângela diz que agora irá pesquisar para se informar melhor sobre o assunto e procurar uma boa equipe para fazer o serviço, uma vez que já chegou a deixar de realizar revisões por conta de preços. “Às vezes deixamos de contratar por conta de orçamentos abusivos. Já tive gente me cobrando mil reais só para limpar. A gente fica sem saber mesmo com quem fazer um trabalho seguro. Vou pesquisar sobre isso agora, até para poder consertar aqui”, afirma.

No andar de cima da loja, Ângela Zerart mantém um ventilador funcionando enquanto o ar-condicionado não passa por manutenção. Foto: Kléber Lima/Jornal de Brasília.

Importância da boa instalação

Segundo o proprietário e técnico da empresa Conserta Express, Pedro Rizzo, um curto circuito em ar-condicionado pode ser causado, principalmente, pela má instalação do aparelho. “Se o técnico não fizer um procedimento de vácuo na instalação, isso pode causar a explosão do compressor, o que chamamos de efeito diesel”, disse. Além dessa situação, ele explicou que outros fatores podem desencadear um acidente. “Um problema é uma pessoa inapta fazer a instalação, alguém não capacitado. Um outro é uma fiação ruim do imóvel, fraca para determinado aparelho”, afirmou.

Rizzo explica que um ar-condicionado mal instalado pode durar anos como se estivesse em bom estado e, em determinado momento, sofrer curto circuito. “Pode durar um segundo ou anos [para ocorrer um acidente]. Por isso, é necessário trabalhar com fio bom, fazer um bom isolamento”, comentou. De acordo com o técnico, problemas que podem levar a maiores acidentes podem ir desde a parte elétrica até a finalização do serviço de instalação. Por conta disso, ele reforça a importância da manutenção periódica no equipamento. “Existe uma revisão que a gente chama de higienização, que deve ser feita de seis em seis meses. Já na contratação desse serviço, a gente já faz uma revisão no ar condicionado”, diz.

Ele ainda alerta para a necessidade de realizar instalações de equipamentos elétricos sempre com profissionais capacitados. “Um técnico deve saber procedimentos básicos de instalação. Qualquer tipo de instalação elétrica, até um secador, pode causar [curto-circuito]”, explica. Segundo Rizzo, um curto-circuito não necessariamente irá causar um incêndio, que pode, então, ser evitado se o aparelho estiver bem instalado. “Nesse caso, o disjuntor vai desarmar e não vai haver nada”, finaliza.

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