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Brasília

Homem mata ex-mulher a facadas

O motorista de aplicativo Francisco Hebert Aragão Moura assassinou também o padrasto da vítima

Lindauro Gomes

16/04/2020 6h39

Larissa Galli e Pedro Marra
[email protected]

Silmara de Sousa da Silva, de 22 anos, foi morta ontem após ser esfaqueada pelo ex-marido Francisco Hebert Aragão Moura, de 25 anos, durante uma discussão na residência onde o casal morava na quadra 314 do Condomínio Del Lago II, no Itapoã. A mulher foi até o local para buscar seus pertences após ter terminado o relacionamento com o assassino. Silmara é a 6ª vítima de feminicídio no DF este ano.

Francisco matou também a facadas o padrasto de Silmara, Francisco Márcio Gonçalves de Sousa, 41 anos, que acompanhava a enteada e tentou apartar a briga entre o ex-casal. Amanda de Souza Farias, 19 anos, amiga de Silmara, testemunhou toda a ação.

Amanda correu para a rua pedindo ajuda a um vizinho para chamar a polícia. Logo depois, uma viatura da Polícia Militar (PMDF) chegou ao local, mas o suspeito, que é motorista de aplicativo, já tinha fugido em seu carro, um VW Voyage de cor branca. Ainda na residência, ele arremessou a faca usada no crime próximo ao portão. Até o fechamento dessa edição, Francisco ainda estava foragido.

Agressões anteriores

Silmara foi levada para o Hospital Regional do Paranoá (HRPra) na mesma noite com graves cortes no pescoço e no abdômen. Mas, por volta de 2h de ontem, foi confirmada a morte dela. “Eles nem chegaram para buscar os pertences e começaram a discutir quem ficava com o quê. Quebraram a TV, copos, armário. Ficou uma confusão. Os dois tinham um relacionamento de dois anos, e estavam morando na casa — que é alugada — há um mês. Temos relato de que ele a agredia e constantemente ela aparecia machucada, mas nunca registrou ocorrência”, afirma Jane Klébia, delegada-chefe da 6ª DP, do Paranoá, responsável pelo caso.

“Elas [mulheres] têm que denunciar, criar coragem e procurar uma ajuda. Ao primeiro sinal de agressão, como xingamento, ameaças, primeiras lesões, a mulher tem que denunciar para encerrar as agressões. Quem bate e fala que ama, não ama. Tem que fazer denúncia, procurar ajuda e, depois que denunciar, se manter longe do agressor”, acrescenta a delegada, que considerou o caso como homicídio seguido de feminicídio.

Ainda segundo a delegada-chefe da 6ª DP, o isolamento social devido à pandemia do novo coronavírus não pode servir de desculpa para agressão à mulher. “Eu acho precipitado dizer que o isolamento leva à violência doméstica. Se o companheiro está triste, desempregado, com ciúmes, viciado em bebida alcóolica, já são motivos para desencadear a violência. Em regra, o agressor usa várias desculpas. Tudo é motivo para descontar na mulher. É possível que o confinamento seja um gatilho para justificar a agressão, mas é difícil fazer essa associação e afirmar que o confinamento gera a violência”, pondera.

A denúncia anônima sobre o paradeiro de Francisco pode ser feita pelo telefone 197 da Polícia Civil. Mulheres que quiserem denunciar agressões podem registrá-las on-line pelo site da PCDF. Por telefone, continua sendo pelo 197, na opção 3. Há também como pedir medidas protetivas de urgência para a vítima e a família pelo telefone. Outro meio de registro é o WhatsApp da corporação: (61) 98626-1197.

Condomínio terá que notificar violência

O governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, sancionou na última terça-feira (14) uma lei que obriga os condomínios residenciais do DF a comunicarem aos órgãos de segurança pública a ocorrência – ou indício – de violência doméstica e familiar contra mulher, criança, adolescente ou idoso nos apartamentos, casas ou nas áreas comuns dos condomínios.

A denúncia deverá ser feita pelo síndico ou administrador a qualquer delegacia da Polícia Civil do DF e aos órgãos de segurança pública especializados. De acordo com o texto da lei, de autoria do deputado distrital Rodrigo Delmasso (Republicanos), a comunicação deverá ser imediata, por telefone, nos casos de ocorrência em andamento, e por escrito nas demais hipóteses.

O presidente da Associação Brasileira de Síndicos e Síndicos Profissionais (Abrassp) Paulo Melo disse ao Jornal de Brasília que a nova lei é positiva e vai ajudar a inibir ações de violência dentro dos condomínios. “É importante disponibilizar sinalizações e placas nos ambientes comuns dos condomínios para que os moradores tomem conhecimento da lei e possam também fazer a denúncia ao síndico ou mesmo à polícia”, afirmou Paulo, que também é síndico de um condomínio na Asa Sul.

Segundo Paulo, ao sancionar a lei, o DF se alinha às ações de outras unidade da federação de combate a violência. “Vários outros estados do país já possuem leis parecidas. O DF está sendo um dos últimos a aderir”, diz. O especialista em condomínios Nicson Vangel concorda: “Principalmente nesse momento de pandemia em que é necessário ficar dentro de casa, essa lei se mostra como mais um passo em direção ao enfrentamento a esse tipo de crime nos condomínios”, afirma.

Dados da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) mostram que os atendimentos feitos em casos envolvendo a Lei Maria da Penha aumentaram no mês de março em relação a fevereiro, mas diminuíram se comparado a janeiro. Em março, a PMDF foi acionada 2.034 vezes; em fevereiro, 1.951; e janeiro, 2.039. Até o momento, o mês de abril registrou 946 atendimentos da PMDF em casos de violência doméstica.

Uma moradora de Águas Claras que preferiu não se identificar relatou à reportagem uma cena de violência doméstica em um prédio ao lado de onde mora. “Noite retrasada, por volta meia noite, ouvimos gritos de uma mulher pedindo socorro. Vizinhos ouviram e comentaram no grupo do nosso condomínio. Os gritos vinham do prédio que fica atrás de onde eu moro“, conta.

Eu já flagrei um vizinho desse mesmo prédio agredindo a mulher. Comecei a gritar com ele que, se encostasse mais um dedo na mulher eu chamaria a polícia. A agressão parou, mas a partir daquele dia ele passou a deixar as cortinas e janelas fechada“, completa. Agora, situações como essa poderão ser imediatamente denunciadas.

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