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Brasília

“Há uma armação contra mim”

Deputado rebate acusações de que teria cometido golpe financeiro contra diversas pessoas

Marcus Eduardo Pereira

13/09/2019 5h57

Pedro Marra
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O deputado Luís Miranda (DEM-DF) escolheu o Jornal de Brasília para falar pessoalmente, pela primeira vez, desde que o programa Fantástico, da TV Globo, apresentou denúncia de que ele teria lesado diversas pessoas quando vivia nos Estados Unidos, em negócios de investimentos que parecem se assemelhar a um esquema de “pirâmide”. Miranda afirma ser vítima de uma “armação” de pessoas que queriam extorqui-lo, misturada a supostos interesses políticos no sentido de vê-lo fora de seu mandato e prejudicado em sua vida política.

Na tarde de ontem, Luís Miranda esteve na redação do Jornal de Brasília com assessores. Eles buscaram contestar o conteúdo da reportagem, publicada no mesmo dia, em que uma das supostas vítimas do deputado, Sandro Silveira Antonalia, 42 anos, relata ter sido ameaçado por Miranda e por pessoas ligadas a ele. O deputado nega as ameaças e informou que seu advogados ingressarão contra Sandro por denunciação caluniosa.
Uma espécie de fã

Luís Miranda não nega que tenha dívidas com pessoas que investiram em negócios nos Estados Unidos administrados por ele a partir da empresa LX Holding — mas afirma, porém, que Sandro não é uma delas. Segundo assessores de Miranda, ele seria o que eles chamaram de uma espécie de “fã” do deputado.

Nos Estados Unidos, Luís Miranda montou diversos negócios relacionados ao curso que ministrava, em que dava dicas de como uma pessoa deve fazer para viver legalmente naquele país.

Primeiro, criou empresas para amparar a chegada dessas pessoas, com hospedagem e aluguel de automóveis. Depois, criou o negócio no qual intermediava investimentos na América do Norte. A assessoria de Miranda afirma que Sandro foi para os Estados Unidos por conta própria que lá procurou se aproximar do deputado, que, no entanto, não teria se interessado em se associar a ele. “Ele queria montar uma empresa de lava rápido junto com o Luis Miranda”, diz a assessoria do político. Sandro afirma ter investido R$ 150 mil, sem obter retorno.

Sandro Antonalia diz ter ficado nos Estados Unidos numa casa com outras 25 pessoas. Segundo ele, todas elas teriam também ligações com os negócios de Miranda. Segundo a assessoria, era, porém, um imóvel alugado pelo sistema Airbnb na cidade de Tamiami, que fica a cerca de 12 km de distância de Doral (ambas cidades da Flórida). As demais pessoas seriam outros hóspedes.

Como informou o JBr., Sandro registrou um boletim de ocorrência no qual afirma que o deputado ameaçou matá-lo e à sua família, e que teria sido perseguido, quando estava numa padaria de sua cidade, no interior de São Paulo, por dois assessores de Miranda, Brutus e Jefferson Fernandes.

No Rio

Para contrapor as informações registradas por Sandro no boletim de ocorrência, a assessoria do deputado apresentou reservas de hospedagem e passagens que mostram que, no dia 15 de junho em que Sandro alega ter sofrido a ameaça, Miranda e Jefferson estavam no Rio de Janeiro. Brutus estaria, segundo a assessoria, nos Estados Unidos, embora não tenha sido mostrada confirmação.

O período de permanência apontado nas reservas de passagens e hospedagem teria sido entre os dias 13 e 16 de junho. No dia 14 de junho, Miranda, como presidente da frente parlamentar mista da Reforma Tributária, estava em uma reunião na sede da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan). Jefferson o acompanhava. O compromisso no dia 14 de junho na Firjan, no entanto, é o único anotado no Rio de Janeiro neste período.

Acusadores foram indiciados

Na linha do que Miranda afirma ser uma “armação” contra ele, há um inquérito na Polícia Federal contra alguns de seus acusadores (veja ao lado). No dia 27 de agosto, determinou-se o indiciamento na Delegacia de Repressão aos Crimes Cibernéticos (DRCC), da Polícia Civil do DF (PCDF) contra Giselle Sousa Pereira, Mauro Cavanha, Eder Santos Carvalho e Lauri de Matos Filho (vulgo Santista USA), citados no inquérito policial por crimes de extorsão, difamação e incitação ao crime.

Vale lembrar que um indiciamento não é uma condenação, mas o início de um processo de investigação judicial contra uma pessoa.

Em tese

A prática, segundo o indiciamento, “tipificaria, em tese, o delito de organização criminosa, tendo como modus operandi a ameaça de divulgação em sites de internet de vídeos com conteúdos ofensivos ao deputado federal Luis Claudio Fernandes Miranda, com o objetivo de obter indevida vantagem econômica, bem como incitando outros usuários da rede mundial de computadores a divulgar vídeos que igualmente denegrissem a imagem e a honra da citada vítima, sendo verificada ainda exigência de pagamento de valores para exclusão dos vídeos”.

O documento menciona o advogado que mora em Los Angeles, Mauro Cavanha, 34 anos, entrevistado na última reportagem do JBr..
Foi ele que produziu vídeo na internet denunciando Luis Miranda junto de outros dois investidores denunciantes.

No indiciamento, é afirmado que Cavanha “enviou um e-mail ao declarante, solicitando o pagamento de 10 mil dólares para que ele não divulgasse um vídeo no YouTube afirmando que o declarante se apropriou de valores de um cliente que havia adquirido aparelhos celulares mas não os recebeu”.
O e-mail com a suposta tentativa de extorsão teria sido enviado no dia 24 de março, conforme o indiciamento.

Saiba Mais: 

O deputado Luís Miranda teve 30% de seu salário bruto penhorado ontem, por ordem da Justiça do Trabalho do Distrito Federal.

O bloqueio destina-se a quitar, até que o valor seja o suficiente, dívida de R$ 35.553,95 com uma ex-funcionária de uma empresa que Miranda tinha, a Fitcorpus.

A decisão de bloqueio é da juíza da 4ª Vara do Trabalho de Brasília, Naiana Carapeba Nery de Oliveira, e permite que o oficial de Justiça requisite força policial “caso seja criado qualquer obstáculo ao cumprimento” do mandado de penhora.

De acordo com a Justiça, a dívida é oriunda da clínica de estética Fitcorpus, que Luis Miranda criou em 2005. Ele era sócio e responsável por vender franquias da empresa. A dívida existe desde 2012. A assessoria do deputado afirma que Miranda não foi notificado e não tem conhecimento da decisão.

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