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Brasília

Fugas em presídios no Entorno do DF expõem insegurança

Arquivo Geral

31/07/2018 7h00

Rayra Paiva Franco/Jornal de Brasília.

Jéssica Antunes
Tainá Morais
[email protected]

Quarta mais populosa do Brasil, a Região Integrada de Desenvolvimento do Distrito Federal e Entorno (Ride) tem 19 unidades prisionais, além do Complexo da Papuda. Juntos, eles abrigam quase 20 mil detentos dos regimes provisório, semiaberto ou fechado – e não são raros casos de fugas. Neste ano houve ao menos nove: cinco somente no último mês. Há 23 foragidos. Luziânia e Cristalina são campeãs de desertores.

No domingo, cinco presos arrancam barras de ferro e escaparam do presídio masculino de Luziânia, a 60 km do centro de Brasília. Ali, segundo o Governo de Goiás, há 392 detentos, quase quatro vezes mais que a capacidade. Tudo aconteceu dois dias depois que dez foram flagrados escondidos, prestes a fugir. Segundo a Diretoria-Geral de Administração Penitenciária de Goiás (DGAP), 19 homens deixaram a cadeia do município neste ano. Nenhum foi recuperado.

Em Cristalina, a cerca de 130 km de distância, seis dos 22 foragidos neste ano foram recapturados. O presídio, com capacidade de menos de 40 pessoas, abriga 162. Em Águas Lindas, a 46 quilômetros daqui, dois dos nove desertores voltaram às celas. Com capacidade para 300 detentos, o prédio abriga 700.

Convivendo com o medo

Não há penitenciárias com segurança reforçada nos municípios do Entorno do DF. Tratam-se de cadeias, que, conforme relatório divulgado neste ano pelo Tribunal de Justiça de Goiás, sofrem com baixo efetivo de agentes penitenciários. Normalmente, os muros que prendem criminosos são divididos com a rua por onde passam estudantes, trabalhadores, e fazem parte da rotina.

Em Luziânia, palco da última fuga, moradores se sentem ameaçados. Vizinha da unidade prisional, a manicure Cássia Soares diz que é difícil ter paz. “Eu já fui assaltada dentro da minha própria casa e isso resultou numa depressão e síndrome do pânico. Hoje ainda sofro por falta de segurança”, relata. Com medo, até a infância do filho, de três anos, é comprometida: “Não deixo ele brincar na rua”.

Aposentado e microempreendedor, Antônio Ferreira, 59 anos, já está tão acostumado com a criminalidade que consegue identificar quando alguém que passa por seu comércio tem segundas intenções. “Acho que deveriam reforçar o policiamento, até porque estamos sujeitos a crimes a qualquer hora do dia”, diz.

Ao mesmo tempo em que parte da população teme a proximidade com o presídio, há quem pense que isso é justamente o que os protege. “O último lugar que eles se esconderiam é aqui”, avalia Fernando Silva, 32 anos.

O que dizem os governos

De acordo com a DGAP, o Governo de Goiás trabalha em novas vagas com a construção de presídios. Neste ano, nas redondezas do DF, foi inaugurado o Presídio Estadual de Formosa, com 300 vagas. O mesmo número foi disponibilizado em Anápolis. Planaltina de Goiás, Águas Lindas e Novo Gama também devem ganhar novas unidades, abrigando 1.588 detentos.

Além disso, está em andamento um concurso público para a contratação de 500 agentes penitenciários goianos. A previsão é que o edital seja publicado em setembro. Ao mesmo tempo, o governo elabora licitação para a aquisição de scanner corporal e esteira de raio-X para as unidades de maior porte e videomonitoramento para aquelas que ainda não possuem a tecnologia.

Do lado de cá, a Secretaria da Segurança Pública e da Paz Social do DF informa que as áreas de inteligência da própria pasta, da Subsecretaria do Sistema Penitenciário (Sesipe) e da Polícia Civil mantêm contato constante entre si e com os sistemas prisionais das demais unidades da federação. “A integração e o compartilhamento de informações são importantes para o monitoramento e o controle das penitenciárias”, diz, em nota.

Ponto de Vista

Especialista em Segurança Pública, Antônio Flávio Testa avalia que o problema é histórico e parece longe de resolver. “Não há prisões no Entorno, apenas cadeias com segurança questionável e fugas constantes que causam impacto na sociedade local com muita sensação de insegurança”, alerta.

No entanto, ele aponta que a disputa política entre DF e GO pode ter interferência. “O governo de Goiás não faz tanto investimento em segurança pública. O DF, em tese, não tem atribuição, mas acaba sobrecarregado. É preciso definir o papel de cada um e isso transcende os governos locais. Talvez o Ministério da Segurança Pública resolva isso agora”, opina.

Memória

6 de janeiro. Luziânia. Onze presos responsáveis pela limpeza do corredor e fornecimento de alimentos para os internos fugiram. Eles serraram e estouraram os cadeados e a grade da cela 4 da ala A. Um detento chegou a filmar a ação.

17 de fevereiro. Anápolis. Quatro detentos escaparam após serrarem a grade de um corredor. Dois dias depois, presos tentaram fugir da mesma forma e foram impedidos por um militar, que disparou.

26 de fevereiro. Águas Lindas de Goiás. Nove presos fugiram por um buraco na parede dos fundos na cela 4B, que dá acesso à rua.

20 de março. Cristalina. Pelo menos 18 presos fugiram depois de quebrar a laje de uma das celas.

13 de julho. Formosa. Dois detentos fugiram após o banho de sol. Um guaritas de segurança avistou a ação, acionou os alarmes e, com apoio da PM, capturou a dupla.

16 de julho. Luziânia. Quatro presos serraram as grades, invadiram o consultório médico, subiram ao telhado e fugiram do local.

22 de julho. Cristalina. Quatro presos fugiram após abrirem um buraco no teto da cela. Eles teriam assaltado um ônibus em seguida.

27 de julho. Luziânia. Dez detentos tentaram fugir, mas agentes flagraram os presos escondidos em um banheiro do pátio com uma pequena serra, um celular e lençóis.

29 de julho. Luziânia. Dois dias depois da fuga frustrada, cinco detentos arrancaram uma barra de ferro e saíram. Eles aproveitaram o momento em que agentes levavam presos para banho de sol.

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