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Brasília

Exemplo: transformando a dor em amor

Família perdeu ente para a covid-19. “Ao invés de ficarmos tristes em casa, decidimos passar essas datas ajudando as pessoas”, relata Luiz

Redação Jornal de Brasília

31/12/2020 6h10

Mayra Dias
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Os últimos meses de 2020 foram, para a família Bonvini, uma montanha-russa. Após perder o pai para a Covid-19, em novembro, Luiz, a irmã, e a mãe, decidiram ressignificar as celebrações de fim de ano e transformá-las em momentos de solidariedade. “Ao invés de ficarmos tristes em casa, decidimos passar essas datas ajudando as pessoas”, relata Luiz, de 23 anos, que passou o Natal, e passará também o Ano Novo, fazendo o bem pelas ruas de Brasília.

“Eu e minha família sempre fomos muito ligados às questões sociais. Já morei em vários lugares com o propósito de conhecer novas culturas. Gosto de me conectar com pessoas diferentes para aprender coisas novas”, conta o jovem formado em Ciência Política.

No dia 24 de dezembro, Luiz Bonvini, juntamente com a ajuda da mãe, da irmã, da avó e de alguns amigos e familiares, decidiram passar a véspera de Natal doando cestas básicas para famílias carentes e marmitas para moradores de rua, juntamente com alguns brinquedos e roupas que conseguiram.

“A gente não estava no clima de fazer qualquer comemoração, mas queríamos que quem não tivesse condições pudesse comemorar”, relata o morador do Parkway.

“A idéia inicial era comprar um frango assado, fazer um arroz, uma farofa, e entregar para essas famílias, mas no final acabamos comprando 25 cestas básicas”, explica Luiz. O jovem conta que, após alguns amigos contribuírem com mais itens, a ideia da família foi, além das cestas, cozinhar e preparar marmitas para entregar às pessoas em situação de rua. “No dia 23 entregamos as cestas básicas e no dia 24 saímos por Brasília entregando as 98 marmitas que fizemos. Encontramos muita gente vasculhando o lixo, catadores, e fomos parando e entregando a comida. Levamos cerca de 4 horas”, relembrou.

Repercussão

Com o objetivo, apenas, de compartilhar com os mais próximos como tinha sido o seu dia 24, Luiz postou nas suas redes sociais um vídeo que havia gravado da ação. O que o rapaz não esperava era que, ao acordar no dia 25, tanta gente teria se comovido e curtido a história. “Acordei com cerca de 500 comentários e, no fim do dia, já tinha ultrapassado os 3 mil. Muita gente dizendo que estava passando pela mesma situação, e que também, apesar do momento difícil, queriam ajudar”, expõe com satisfação.

Após o sucesso do vídeo, Luiz conta que sentou com a família e compartilhou as boas notícias. “Era para ser apenas uma ação de Natal. Mas com tanta gente querendo ajudar, e lembrando também que, no Ano Novo, as pessoas mais necessitadas recebem menos ajuda que no Natal, decidimos realizar uma nova ação no dia 1”, explica o cientista político.

“Depois de 58 dias na UTI, ele morreu”

Com a mobilização de mais uma parcela da família, de amigos, e pessoas de dentro e fora de Brasília, seja com mantimentos ou com dinheiro, a família Bonvini distribuirá, novamente, as doações pelo DF.
Com divulgações na internet e com pontos de coleta de doações na Asa Sul, Sudoeste e Águas Claras, eles lanejam agregar um diferencial à ação da virada do ano. “No Natal, nós entregamos só marmitas, água e as roupas e brinquedos. Dessa vez queremos fazer algo um pouco diferente e montar também os kits de higiene pessoal para entregar”, explica Luiz. O gesto, que começou entre 4 pessoas, é agora um projeto que envolve moradores de vários cantos da cidade, e também de fora dela. “Recebemos muitas doações de dinheiro vindas de outros estados”, completa o jovem. Tudo será buscado e organizado para serem distribuídos no dia 1º.

Para a família de Luiz, as datas de Natal e Ano Novo ganharam um novo significado. “A sensação foi muito boa. É muito satisfatório ver a reação das pessoas sendo pegas de surpresa pelos presentes. Elas pegam a comida e na mesma hora já sentam e comem, pois estavam com fome”, aponta o rapaz. “Sempre fizemos atuações pequenas, e agora, com essa maior proporção, foi muito legal”, completa emocionado.

Ao explicar o início de tudo, Luiz relembra que, em setembro, mesmo seguindo rigorosamente a quarentena, todos na sua casa se infectaram. “A gente levou muito a sério a questão do isolamento, ficamos 7 meses literalmente trancados em casa. Só íamos no mercado e não recebíamos ninguém. Até que, controversamente, todos nós pegamos a Covid-19 e ficamos muito mal”, conta. Ele ainda relata que, apesar de todos terem ficado muito ruins, o seu pai, que era asmático foi o que mais piorou . “Ele ficou internado, da internação ele foi para a UTI e todo dia era uma incerteza. Ele só ia piorando e, depois de 58 dias na UTI, dia 22 de novembro, ele faleceu”, descreve.

Saiba Mais

Muito próximo do pai, Luiz ressalta que perdê-lo dessa forma foi um choque muito forte para a família.
“Éramos muito ligados. Foi um pilar da nossa família que caiu”, afirma.

Mas foi com o intuito de transformar a memória do pai em algo grandioso, que a família Bonvini decidiu se reerguer e transformar a solidariedade em pilar.

“O que decidimos foi celebrar todos os dias que a gente teve juntos, e tudo que a gente ainda tem”, afirma Luiz.

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