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Brasília

Ex-senador Luiz Estevão seria ‘mandachuva’ no sistema prisional do DF

Arquivo Geral

18/06/2018 10h21

Reprodução

Jéssica Antunes
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O ex-senador Luiz Estevão teria papel de manda-chuva no Sistema Penitenciário do Distrito Federal. Segundo a Polícia Civil, a biblioteca da ala em que o preso divide cela com José Dirceu parece um escritório do ex-empresário. No local de acesso comum a detentos, há pilhas de documentos de interesse dele. No meio da estreia brasileira da Copa do Mundo no domingo (17), a Operação Bastilha foi deflagrada para identificar irregularidades. “Se houvesse regalia, sabíamos que seria o momento ideal”, afirmou Thiago Boeing, delegado da Divisão de Repressão a Facções Criminosas (Difac).

“Temos indícios que o ex-senador desempenha papel de liderança e tenha regalias. Encontramos uma anotação de Dirceu lembrando de pedir que Luiz Estevão conseguisse visita fora do horário permitido. Isso demonstra que ele achava que o colega de cela teria influência para conseguir esse tipo de coisa. Ele seria o ‘rei’ do presídio, o ‘manda-chuva’ de lá”, explica o delegado. Enquanto as demais celas têm grupos de sete a dez detentos, o ex-empresário vivia com folga dividindo a área com apenas uma pessoa.

No momento da operação, Luiz Estevão ainda tentou se livrar de cinco mini pendrives portados irregularmente. Ele teria pedido para ir ao banheiro com os aparelhos “escondidos” em punho, mas os agentes não autorizaram e os itens foram jogados no chão quando o detento colocou as mãos na cabeça. Os pendrives foram recuperados e passarão por perícia. Ainda não se sabe como ele usaria esses itens.

Na cela, ainda tinha anotações, uma tesoura, chocolates e cereais. “Chamado para prestar esclarecimentos, ele ficou tranquilo e disse que os objetos já estavam lá anteriormente”, contou o delegado. Além do conteúdo dos itens apreendidos, os investigadores querem descobrir quem facilitou a entrada dos alimentos e das mídias.

A operação

Fernando César Costa, chefe da Coordenação de Combate à Corrupção e ao Crime Organizado da Polícia Civil do DF (Cecor) conta que a operação teve início em janeiro deste ano, após denúncias de uma série de ameaças contra servidores públicos do DF, como juízes e delegados. “A investigação veio verificar a veracidade dessas informações e o alcance disso. Vimos que as ameaças não existiam. Eram bravatas de presos no interior do sistema penitenciário”, diz.

Delegado Fernando César Costa. Foto: João Stangherlin/Jornal de Brasília

Durante as investigações, surgiram indícios de privilégios no bloco 5 do Centro de Detenção Provisória, onde Luiz Estevão e Geddel dividem cela. Desde abril, a Polícia Civil aguardava o melhor momento para deflagrar a operação com mandados de busca e apreensão nas mãos. “Avaliamos que, após o início do segundo tempo do jogo da seleção era momento ideal para colheita de provas”, explica o delegado. Ao todo, 25 policiais participaram da ação.

Tudo foi gravado em áudio e vídeo para que não houvesse contestação do que houve lá dentro. “Não houve qualquer situação de confronto ou constrangedora além do próprio cumprimento da medida. A Divisão de Operações Especiais fez a contenção dos presos no pátio, como é padrão, e deixaram as celas livres para ocorrer as buscas”, detalhou o chefe da Cecor. O material foi encaminhado à Justiça, que deve analisá-lo nos próximos dias.

Regalias antigas

Em março de 2017, uma inspeção encontrou itens proibidos nas dependências compartilhadas pelo ex-senador Luiz Estevão. A lista incluía chocolate importado, cafeteira elétrica, cápsulas de café e macarrão.

O político é acusado pelo Ministério Público do DF de financiar a reforma do bloco onde cumpre pena. Pelo menos três ex-gestores da Papuda também são listados no processo por supostamente terem sido coniventes com o empreendimento. A cela tem sanitário e pia de louça, chuveiro, cortina, tapete, cerâmica e paredes pintadas.

Comparação entre a ala reformada onde Luiz Estevão cumpre pena (esquerda) e outro ambiente da mesma unidade (Foto: Ministério Público do DF/Divulgação)

O ex-senador pelo DF foi condenado a 26 anos de prisão por fraudes e desvios nas obras do Tribunal Regional do Trabalho de São Paulo. Não cabe recurso. Em março, a pena foi ampliada em dois anos pelo crime de sonegação fiscal. A defesa recorre dessa sentença, e diz que o processo já perdeu a validade.

Saiba mais

– O ex-ministro de Temer, Geddel Vieira Lima, também foi alvo da operação. Na cela que divide com outras nove pessoas, foram apreendidas anotações.

– Ele foi denunciado na operação Cui Bono e está preso em Brasília desde setembro apos indiciado por corrupção passiva, lavagem de dinheiro, organização criminosa e obstrução de investigação. Uma mala atribuída a ele foi encontrada com R$ 51 milhões em malas e caixas em um apartamento em Salvador (BA).

– O Jornal de Brasília tenta contato com os advogados que representam os alvos da operação.

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