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Brasília

Estupros integrariam histórico de PM que teria matado ex-mulher e homem

Arquivo Geral

29/08/2016 7h28

Myke Sena

Manuela Rolim
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O suspeito de ter matado e carbonizado um casal de namorados na madrugada do último sábado em Águas Lindas de Goiás, a cerca de 50 km de Brasília, seria protagonista de outros crimes. O homem é um policial militar reformado do Distrito Federal e ex-marido da mulher assassinada. Antes do novo relacionamento da vítima com um colega de trabalho, ele teria abusado dela quando ainda estavam casados.

O relato é do atendente Samuel Barbosa Gama, 30 anos, irmão da coordenadora pedagógica Milena Barbosa de Melo, 33. O comportamento do policial militar Orlando Bernardino de Melo preocupava a família inteira.

“Ele a estuprou duas ou três vezes. A própria Milena nos contou. Inclusive, uma das vezes que ele não conseguiu violentá-la foi há pouco tempo, uns seis, sete meses atrás. Na hora, minha irmã falou que era lésbica, que ia vomitar e que tinha nojo. Fez isso para se proteger. Orlando odeia lésbicas, tanto que, depois, saiu de cima dela e começou a gritar, chorar”, relatou.

Agressões

Samuel contou que o policial batia em Milena e nas próprias filhas, de 11 e 15 anos. O casal estaria separado há cinco meses, mas aguardava o processo judicial para oficializar o divórcio. Essa seria a terceira vez que eles desistiam do relacionamento.

“Ele responde por Maria da Penha. Até o mandado de prisão já havia saído. Foi quando ele sumiu por uns tempos. Minha irmã teve que colocar grade no quadro de luz da casa, pois ele vinha e desligava. Além disso, escreveu ‘vende-se’ no portão sem autorização dela. Ele também espalhava pela vizinhança que a mataria se ela encontrasse outra pessoa”, contou.

Há dois meses, porém, Milena começou a namorar o professor de Biologia Antônio Vidal da Silva, 36 anos, chamado de Romeo pelos amigos. “Ela tinha começado a viver a vida dela. O namoro estava quase oficializado. As famílias estavam começando a se conhecer”, explicou o atendente.

Ambos trabalhavam no Colégio Estadual Emília Ferreira Branco, onde uma faixa preta foi colocada no portão após o crime. “Minha irmã dizia que um dia queria ser feliz ao lado de um homem que a respeitasse”, lembrou.

Último contato

No dia do crime, o casal iria a uma festa. As crianças ficaram com o irmão Samuel e uma tia da vítima. “Eu disse que ficaria com as meninas para ela poder se divertir. Peguei as duas na escola como combinado. Milena disse que estava sem dinheiro e não ia muito longe”, informou Samuel. A última vez que conseguiram falar com ela foi às 17h de sexta-feira. Por volta das 18h, o namorado foi encontrá-la.

Incêndio chamou atenção

Na madrugada do sábado, um vizinho ouviu um barulho e viu que havia um carro pegando fogo dentro da casa de Milena, na Quadra 56 do Jardim Pérola 2. Ele chamou a Polícia Militar e o Corpo de Bombeiros e, em seguida, comunicou a família.

“No início, achávamos que Orlando tinha matado a minha irmã e, em seguida, cometido suicídio. Depois, identificamos o carro que Romeo dividia com a irmã dele”, relatou. O crime ocorreu entre 2h e 4h.

Na área externa da residência, o veículo, um Fiat Palio cinza, estava completamente destruído, assim como o computador da vítima, que se encontrava ao lado do carro.
Dentro de casa, havia sangue no quarto do casal e no chão da cozinha, destacou Samuel. Em uma das paredes, o autor ainda escreveu “traição”. Os corpos estão no Instituto Médico Legal (IML) para perícia.

Para a família, não há dúvida de que Orlando é o autor. “Foi premeditado. Encontramos parte da farda na casa. Acreditamos que ele os pegou na rua ou na festa e, como estava vestido de policial, ninguém percebeu”, diz Samuel.

Família em estado de choque

O suspeito também colocou um colchão em cima do veículo antes de atear fogo. Segundo o irmão da vítima, Milena estava esticada no banco de trás, enquanto Antônio estava na mesma posição na parte da frente do carro. “Eles já estavam mortos, não aparentavam qualquer reação. Quando minha mãe viu aquela cena, passou mal. Ainda não tivemos tempo de chorar a morte dela”, lamentou Samuel.

Milena era muito estudiosa. Atualmente, fazia pós-graduação na área de educação e sonhava em passar em um concurso público, tirar a Carteira Nacional de Habilitação (CNH) e comprar um carro. “Ela era muito tranquila e meiga. Não conversava muito com quem não conhecia, mas era brincalhona com os mais próximos. Agora, só queremos justiça. Existe uma suspeita de que ele (Orlando) fugiria do Brasil, mas nada concreto. Se ele pegar dez, 20, 30 anos que seja, não vai trazer minha irmã de volta. As filhas dela vão ficar com a gente e terão muito carinho e amparo”, concluiu Samuel, que, recentemente, também perdeu o pai.

Até o fechamento desta edição, Orlando Bernardino de Melo permanecia foragido. Na ocorrência registrada no Centro Integrado de Operações de Segurança (Ciops) de Águas Lindas, ele aparece como autor do crime. O policial foi visto por alguns vizinhos nas proximidades do local do crime momentos depois do ocorrido.

Assalto

Depois do crime, a família da vítima limpou a casa e separou os móveis e eletrodomésticos para esvaziar o local. Na noite do sábado, no entanto, a residência foi invadida por criminosos e parte dos pertences da família foi roubada.

Nas redes sociais, parentes das vítimas demonstraram indignação pelo crime e lamentaram a perda. Já o irmão, Samuel Barbosa Gama, colocou uma foto de luto em seu perfil no aplicativo de mensagens Whatsapp.

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