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Brasília

Escolas públicas: “meu filho não volta, só em 2021”

Famílias de alunos da rede pública de ensino se posicionam contra decisão sobre retorno das aulas

Olavo David Neto

02/07/2020 7h26

Foto: Vítor Mendonça/Jornal de Brasília

Pais, mães e resposnáveis legais de alunos das redes pública e privada do Distrito Federal rejeitam encaminhar os filhos à escola na data anunciada pelo governador para retorno das aulas. As negativas vêm em reação à declaração de Ibaneis Rocha (MDB) de reabertura das atividades escolares presenciais a partir de 27 de julho, para as instituições particulares, e 3 de agosto, para as escolas geridas pelo Governo do Distrito Federal (GDF).

Mãe de Daniel, 4, aluno do Jardim de Infância da 114 Sul, Larissa Sena, 36, não enxerga sequer um cenário favorável às aulas presenciais ainda neste ano. “Meu filho não volta, só em 2021. Criança divide lanche, bebe suco no copo dos outros, não tem noção dessas coisas”, comenta a genitora. “Vai botar em risco a saúde dos próprios alunos e também dos professores, que nem vão conseguir controlar, não tem espaço suficiente para separar todo mundo”, completa. A retomada representa ainda um risco para a mãe, que é asmática.

Larissa também relata que somente agora pais, docentes e os próprios alunos estão se acostumando à plataforma de aulas virtuais, geridas pelo programa Escola em Casa, da Secretaria de Educação (SEE). “A aula online não é o ideal, mas é o que temos. Houve um esforço enorme até em identificar quem não tem acesso aos equipamentos, e finalmente os meninos estão se acostumando ao novo jeito”, revela. Para ela, a preocupação se estende aos professores. “Vão ter que cuidar da própria saúde e a das crianças. Como vão ensinar sem ter contato?”, questiona.

Mãe, madrasta e também profissional da educação, Fernanda Simões, 46, está afastada das atividades em decorrência da doença falciforme dos dois enteados – um de 21 anos, discente de gastronomia numa universidade privada, e outro de 7 anos, aluno de um colégio particular da capital. A enfermidade crônica enfraquece os glóbulos vermelhos, causando anemia e crises de dor, infecções e fadiga, além da baixa imunidade.

Segundo Simões, a filha, de 14 anos, está apta a voltar às aulas, mas passará por um esquema de isolamento da própria família, já que significará riscos à saúde dos irmãos. “Vamos precisar de um esquema especial para ela. Até as refeições ela vai ter de fazer sozinha”, lamenta a educadora. Ainda conforme o relato, ela, que trabalhou na Escola Classe do Varjão, não corrobora a atitude do governador. “As salas ficam lotadas, muitas janelas estão quebradas e não abrem. Tanto que às vezes fica um calor insuportável. Como voltar num ambiente assim?”, questiona.

Além dos perigos latentes, o retorno dos estudantes ao ambiente escolar pode elevar a contaminação de outros grupos de risco, de acordo com Fernanda. “Muitos alunos da rede pública moram com avós, em imóveis apertados, cujos c?modos são divididos por várias pessoas”, atenta a servidora da SEE. “Como garantir que não vai haver contágio?”, completa. Ela lembra ainda que, em função das cargas horárias e do estresse oriundo da atividade, professores possuem imunidade mais baixa em relação a outros profissionais.

Volta deve ser planejada

A indicação de reabertura dada por Ibaneis Rocha ainda carece de planejamento em várias áreas. A Secretaria de Educação afirmou que ainda traçará uma organização para receber os alunos nas instituições públicas, enquanto a Secretaria de Transporte e Mobilidade (Semob) busca uma forma de atender à demanda extra criada com o retorno.

Samuel Fernandes, diretor do Sindicato dos Professores no Distrito Federal (Sinpro/DF), ratificou as queixas de Fernanda. “Há escolas onde cubículos foram adaptados e fazem de salas de aula. Não tem ventilação e nem espaço”, aponta o sindicalista. A Associação de Pais e Alunos de Instituições de Ensino do DF (Aspa/DF), em conjunto com o Sindicato dos Professores de Estabelecimentos Particulares (Sinproep/DF) tentam diálogo com o GDF.

Distribuição de máscaras

A Secretaria de Educação do Distrito Federal deu mais um passo para o retorno das aulas após a suspensão devido à pandemia do novo coronavírus. Serão entregues gratuitamente 1,6 milhão de máscaras a várias escolas.

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