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Brasília

Em meio a polêmica, alunos protestam contra demissão de professor

Arquivo Geral

06/07/2018 12h58

Foto: Myke Sena/Jornal de Brasília

Tainá Morais
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Pais e alunos de uma escola particular em Taguatinga protestam contra a demissão de um professor. O docente lecionava na instituição de ensino há cerca de dez anos e foi demitido enquanto dava aula, na última sexta-feira (29).

De acordo com pais e estudantes do colégio Claretiano Stella Maris, o principal motivo do desligamento seria uma atividade religiosa pela qual o professor teria auxiliado uma aluna. Segundo o próprio docente, a adolescente estaria em situação “extremamente vulnerável espiritualmente” e, por isso, ele decidiu levá-la para a casa dela, em seu carro.  O professor redigiu uma carta de esclarecimento aos pais com sua defesa (leia a íntegra ao final da matéria):

“Em algumas dessas ocasiões, uma estudante, extremamente vulnerável espiritualmente, tendo participado de uma dessas atividades, passou por uma crise espiritual, psíquica e emocional muito forte. Sentindo-me responsável por ela, depois de retomar o equilíbrio conduzi-la para casa no meu carro. Porém, apesar da mãe ter autorizado a orientação espiritual da filha fui, estranhamente acusado pela família de ter feito mal à jovem. É uma situação tão injusta e delicada que não posso entrar em detalhes”, disse.

Após o episódio, a família da jovem (que preferiu não ser identificada) relatou à escola o que havia acontecido. Em seguida, o diretor pedagógico Sandro Pauletti o comunicou sobre o desligamento.

Em entrevista, a mãe de um aluno do Ensino Médio relata que o profissisonal é conhecido como um ótimo professor. “Ele sempre foi considerado um dos professores mais queridos e importantes para a formação de cada estudante”, disse. O aluno J., 15 anos, teme prejuízos no ensino. “Nós ficamos sem saber o que vai acontecer e nos sentimos prejudicados, até porque ele sempre esteve disponível para nos ensinar e tirar nossas dúvidas”, destaca.

Versão oficial

O diretor pedagógico da instituição, Sandro Pauletti, não quis se manifestar sobre o caso. O diretor geral da instituição, Wander Malaguti, por sua vez,  se contradisse ao ser questionado pela reportagem. Ele argumentou que a demissão é reflexo de cortes orçamentários, mas depois  informou que o funcionário está apenas afastado. “É normal que aconteçam essas demissões em fim de semestre ou fim de ano. Mas ele está apenas afastado por problemas de saúde”, justificou.

Porém, para os pais, a decisão é injusta. “O que nos deu a entender é que o diretor pedagógico está com motivos pessoais. Por isso, não iremos aceitar tal situação que venha a prejudicar nossos filhos”, disse uma mãe.

O professor não concedeu entrevista ao Jornal de Brasília até a publicação desta reportagem.

Reunião

Na tarde dessa quarta-feira (5), a escola convocou os pais para uma reunião de esclarecimento, mas nada foi resolvido. “Esperávamos que algo fosse providenciado, mas pelo visto vai ficar a mesma coisa. Continuamos sem resposta”, afirma uma mãe.

Carta

Leia a carta redigida pelo professor para os pais dos alunos do Ensino Médio:

Caros pais e responsáveis dos nossos estudantes do Claretiano Stella Maris,

Gostaria de prestar alguns esclarecimentos sobre as atitudes do Diretor Pedagógico que o levaram, equivocadamente a decidir pelo meu desligamento da Instituição.

Em primeiro lugar, além de professor de seus filhos, exerço atividades de cunho religioso, junto à Igreja Católica, devidamente autorizadas e acompanhadas por direção espiritual de um sacerdote. Ocorre que por lecionar ensino religioso numa escola confessional, muitos estudantes solicitam orientação espiritual e aconselhamento, estreitando os vínculos de relacionamento, dadas as dificuldades que enfrentam nessa etapa tão difícil de suas vidas.

Não são poucos os casos de filhos dos Senhores que me procuram buscando apoio que, infelizmente a instituição não oferece a contendo. Desse modo, dentro das condições que me são possíveis tento ajudá-los, acarretando que alguns me procurem nos encontros, retiros e atividades onde realizo pregações, momentos fortes de oração e cultivo da espiritualidade.

Entretanto em algumas dessas ocasiões, uma estudante, extremamente vulnerável espiritualmente, tendo participado de uma dessas atividades, passou por uma crise espiritual, psíquica e emocional muito forte. Sentindo-me responsável por ela, depois de retomar o equilíbrio conduzi-la para casa no meu carro. Porém apesar da mãe ter autorizado a orientação espiritual da filha fui, estranhamente acusado pela família de ter feito mal à jovem. É uma situação tão injusta e delicada que não posso entrar em detalhes.

A família procurou a escola para relatar a situação e sob a orientação equivocada do Diretor recebeu apoio em prejuízo à minha idoneidade moral e profissional. Felizmente tomadas as medidas judiciais cabíveis, como já era esperado, não foram confirmadas as acusações feitas a mim. Contudo a direção ao invés de cuidar dos profissionais, para garantir um ambiente saudável de trabalho, prefere agir e forma arbitrária e injusta.

Em função desses fatos e da repercussão provocada, por total inabilidade do Diretor, é que seus filhos são, mais uma vez prejudicados no seu direito à aprendizagem pela ausência de diálogo e transparência nos atos administrativos. Com isso nossa escola é extremamente prejudicada em sua missão educativa e tradição.

Escrevo, portanto, essa carta para esclarecer os pais sobre motivos absurdos alegados pela direção, que abusando de seu poder prejudica a todos nós e causa transtornos ao nosso ambiente escolar. E contando com vossa compreensão, oração e apoio agradeço pelo carinho e respeito com que sempre fui tratado pelos seus filhos e pelos Senhores.

 

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