Menu
Brasília

EAD: realidade de privilégios privados

Jovem estuda pela manhã, de 7h10 às 11h40, quando tem aula on-line ao vivo pelo sistema da escola e reconhece a melhor condição de estudo

Redação Jornal de Brasília

03/08/2020 6h11

Ensino a distância escancara desigualdade na pandemia

Vítor Mendonça e Pedro Marra
[email protected]

Se uns têm dificuldade para estudar com aparelhos eletrônicos, outros podem ter acesso a videoaulas ao vivo e até tirar dúvidas por chat.

É o caso de Pedro Thierry Almeida, 13, aluno do 8º ano do Ensino Fundamental II de uma escola particular de Taguatinga. Sua mãe, a advogada Tailândia Almeida, de 30, conta que atualmente cada um tem o próprio aparelho em casa, mas chegou a emprestar o telefone para o filho estudar.

“Ele já utilizou o celular também, pois eu e o pai dele estávamos trabalhando em casa [com dois computadores]. Agora, cada um usa um notebook. Aí comprei um e passei o meu antigo para ele”, explica.

O jovem estuda pela manhã, de 7h10 às 11h40, quando tem aula on-line ao vivo pelo sistema da escola. “Sempre deixam as aulas gravadas para vermos depois. Além do que também tem o chat com os professores, em que podemos mandar mensagem no privado se ficarmos com dúvida em algo”, conta.

Ele reconhece a melhor condição de estudo se comparado a outros jovens. “Muitas pessoas foram prejudicadas pela pandemia. Eu mesmo tenho uma colega da escola pública e as aulas dela começaram há poucos dias. A gente já começou há muito tempo — em abril — e eles só agora. Eu iria ficar muito triste se não tivesse como aprender com as aulas assim. No início das aulas on-line, eu usava o celular mesmo. Quando eu passei a usar o computador, teve a diferença no tamanho da tela, e o celular dava problema de vez em quando. É meio difícil ter concentração e foco, mas fui me acostumando”, analisa o garoto.

A mãe do estudante entende o privilégio do filho. “Infelizmente nem todos possuem as mesmas condições. Digo sempre ao Pedro que ele é um privilegiado. Estuda em escola particular, possui acesso a computador e celular. Mesmo quando estava sem um apenas para ele, estávamos nos revezando no computador para que ele pudesse estudar, quando não era possível, estudava no celular dele”, afirma.

“Notas melhoraram”

Com 12 anos, Ana Beatriz Araújo está no 7º ano do Ensino Fundamental II de uma escola particular da Asa Norte. Ela afirma que as aulas on-line fizeram bem para o rendimento dela nas disciplinas. “As minhas notas melhoraram exatamente pelo motivo de poder rever as videoaulas, porque o meu colégio disponibiliza aulas gravadas de manhã e lives à tarde. Eu até consigo me concentrar mais em casa por não ter todos os colegas para conversar”, diz a estudante.

Ana Beatriz também compreende que possui privilégio em ter um aparelho eletrônico para estudar. “Eu entendo que é preciso haver uma grande estrutura para ter aulas on-line e acesso às plataformas, já que muitas pessoas não têm. No meu caso, se fico com alguma dúvida, posso voltar à videoaula e ver de novo para revisar. Se surgiu alguma dúvida e eu tenho alguma curiosidade sobre o assunto, abro uma nova aba e pesquiso mais sobre o assunto”, conclui.

Quadro para anotações

Aluno do 9º ano do ensino fundamental, Victor Augusto Dórea, de 15 anos, se mudou de uma escola pública para uma particular em maio deste ano, mas acabou entrando de férias na unidade privada. Mas isso não o impediu de continuar os estudos, tendo até um quadro branco na própria residência para fazer anotações.

“Com as aulas de ensino a distância (EaD), acho que minha rotina ficou muito mais fácil, já que eu tenho mais tempo para estudar e fazer as tarefas. Uso o horário da manhã e da tarde para isso. Para não ficar muito cansativo, deixo alguns deveres para fazer à noite. E faço minhas anotações em um quadro branco, porque acho muito mais fácil para me organizar. Nessas aulas, consigo me concentrar pois posso estudar com conforto”, opina o jovem, que mora em Arniqueira.

Muito se fala sobre a retomada das aulas presenciais no Distrito Federal. Para Victor, esse não é o momento correto de voltar para a sala. “Acho muito arriscado, já que depois das aulas teremos que voltar para casa e podemos contaminar nossos familiares. Sem contar que pode haver muitos alunos ou professores que são do grupo de risco. Eles podem ter familiares em casa que também são desse grupo”, alerta.

    Você também pode gostar

    Assine nossa newsletter e
    mantenha-se bem informado