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Dias de coronavírus – É preciso diálogo e paciência com crianças neste momento, alertam psicólogos

Psicólogos alertam que, nessa fase, diálogo, paciência e cautela são as ferramentas principais para lidar com a criançada

Redação Jornal de Brasília

24/03/2020 18h42

Mayra Christie
Jornal de Brasília/Agência UniCeub

Tudo mudou. Agora, brincar é só para dentro de casa. As notícias que chegam para elas falam sobre o medo de um vírus que transformou a rotina de todos. Viver um período em que  tudo que se vê nos noticiários diz respeito à pandemia do coronavírus é um momento delicado para todos. Entretanto, quando se trata de crianças, passar essas informações requer um cuidado redobrado. Psicólogos alertam que, nessa fase, diálogo, paciência e cautela são as ferramentas principais para lidar com a criançada. 

Diálogo

O professor de psicologia Eduardo Legal, atenta para a importância da postura dos pais dentro de casa em dias como os que estamos vivendo. “Os pais e cuidadores são, nesse momento, os modelos que as crianças têm de resistência e resiliência diante da situação que se impõe”, afirma. Por isso, é necessário tratar a situação com toda a prudência e calma que for possível, conforme ele explica. “(É necessário) mostrar a realidade da situação sem pânico, mas com seriedade. Isso aumenta as chances das crianças aprenderem a lidar com esses estressores da melhor forma possível” completou. 

A psicóloga infantil Gemmima Bandeira afirma que é necessário identificar os conhecimentos prévios das crianças. “Antes de qualquer explicação, precisamos saber o que a criança já sabe sobre tudo o que está acontecendo”, explica Gemmima. É a partir dessas respostas que os pais saberão como conduzir essa situação de acordo com cada faixa etária. “Pode ser por meio de desenhos explicativos sobre os cuidados com a higiene ou com vídeos informativos infantis sobre o vírus”, explica a psicóloga.

“Expliquei que precisamos ficar em casa para cuidarmos uns dos outros” Nayara Monteiro, mãe de 3 filhos

Eduardo Legal acrescenta que a melhor forma de passar essas informações é não demonstrando pânico, e usando um vocabulário que seja de fácil compreensão para eles. “A tranquilidade na hora de falar com elas é fundamental para que se estabeleça o medo que leva ao zelo e não ao terror que leva ao sofrimento”.

As notícias

Saber filtrar as informações que chegam na sua casa é outra atitude importante. Não só para as crianças, mas também para todos que moram na casa. “O excesso de informação são geradores de ansiedade, e as crianças sentem todo o estresse do ambiente”, alerta Gemmima. “A ideia é que sirva para todos consumir o que for produtivo e gerador de repertório” completou. 

Mãe de três filhos, de idades entre 3 meses e 7 anos, Nayara Monteiro, conta que, na sua casa, eles evitam assistir à televisão. “Tento manter meus filhos distantes do excesso de notícias ruins. Eu expliquei toda a situação pra eles, mas não acho saudável que eles fiquem 24 horas envolvidos nisso. Me mantenho informada pelas redes sociais e transmito pra eles o que considero necessário”, explicou. 

Para quem não fica sem assistir aos noticiários, Eduardo Legal sugere que se diminua essa carga de informação escolhendo em quais momentos você irá ligar a televisão para vê-los. “Marcar hora específica para se informar (como no jornal da manhã, ao meio dia e a noite, por exemplo) pode diminuir  a carga de informação sobre o sujeito e facilitar a absorção dos impactos psicológicos das mesmas”, avalia.

A psicóloga infantil também explica sobre a importância de informar às crianças sobre as notícias positivas em meio a situação. “Mensagens positivas podem reduzir esse movimento apocalíptico. Sua criança sabe que estudiosos estão arduamente trabalhando em busca da vacina e remédios? Sabe que vocês como famílias estão garantindo a segurança delas? Diálogo e paciência serão antídotos para o momento”, alerta.

Atividades em casa

Quanto a manter as crianças ocupadas em casa, Eduardo Legal relembra algumas atividades que podem auxiliar tanto na hora de passar o tempo quanto no estreitamento dos vínculos familiares: “Atividades que envolvam brincadeiras, cuidados gerais com a casa e ambiente, leituras, reforço dos conteúdos da escola (no que puder), são ações que podem ajudar muito no enfrentamento dessa situação, tanto para as crianças como para seus pais” afirma. 

A psicóloga Infantil Gemmima também aponta, além das atividades, a necessidade de manutenção de uma rotina. “Precisamos manter o máximo de uma rotina básica (hora para comer, brincar, dormir, cuidados com higiene).”

Com isso, Nayara conta já ter utilizado de brincadeiras educativas para manter as crianças entretidas e informadas. “Eu fiz a experiência da água, orégano e sabão com eles, para explicar a importância de lavar as mãos. Esses dias pedimos uma pizza e a primeira coisa que minha filha falou quando o pai dela entrou em casa foi pra ele lavar a mão e passar álcool em gel”, comentou. Nayara também relata que procura fazer algumas atividades diferentes com os filhos, mas que nem todos os dias consegue ser criativa. “Ainda estou me organizando com relação a isso. Às vezes as crianças ficam super entediadas por ter que ficar em casa então tento ser criativa com as brincadeiras… Mas tem dias que eu só quero ficar jogada no sofá com eles sem fazer nada”. 

Cuidados

Diante da situação, o importante é sempre manter a calma. “O estresse do adulto afeta direta ou indiretamente a criança, que é mais impactado por isso do que pela própria pandemia”, acredita a psicóloga. Dessa forma, manter uma rotina tranquila e filtrar o que entra na sua casa e o que é passado para seus filhos, são as melhores formas de evitar assustá-los e criar um cenário caótico na cabeça desses pequenos. 

“Pandemias implicam em risco de infecção para as pessoas, e isso acarreta em medo, ansiedade e desesperança para muitos. Cuidar da saúde, de modo geral, é importante para se manter livre do agente infeccioso e também de risco de passa-lo adiante para outros”, relembra Eduardo Legal, que ainda atenta a questão de manter os esforços também na pós-pandemia, de modo a minimizar efeitos como depressão, estresse pós-traumático e transtornos obsessivos e  compulsivos. É logo agora que se preparam os corações dos pequenos: “vai ficar tudo bem”.

 

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