Menu
Brasília

Atraídos pelo homem, ratos tomam conta da capital

Arquivo Geral

10/08/2018 7h00

Atualizada 09/08/2018 21h06

Foto: Kléber Lima/Jornal de Brasilia

Raphaella Sconetto
[email protected]

O excesso de lixo nas ruas da capital traz prejuízos incontáveis. Alagamentos, poluição do solo e do lençol freático, e representa até o desperdício de dinheiro público. Mas também é problema de saúde pública, uma vez que atrai e facilita a proliferação de animais como ratos. A preocupação com os roedores voltou após um vídeo circular nas redes sociais, mostrando os bichos em contêineres em uma quadra do Sudoeste. O problema, no entanto, abrange todas as regiões administrativas. E apesar da negligência com o lixo por parte de muitos moradores e empresas, não há qualquer penalidade em relação ao estado dos contêineres – comumente vistos abertos e com lixo exposto ao redor.

Ao ano, são feitas 1,7 mil inspeções pela Vigilância Ambiental (Dival) relativas a ratos. Médico veterinário do setor, Laurício Monteiro pondera que a aparição de ratos acontece em toda a capital. “Vai desde o Setor Comercial Sul, Conic, áreas em Águas Claras em que há prédios abandonados, asas Sul e Norte e em pontos de tratamento do SLU e de esgoto”, enumera.

Assim que a presença dos animais é identificada, a vigilância faz o uso de raticidas. Nas tocas, é posto o pó do veneno. Em caixas de esgoto, são os parafinados. E em casos de locais de difícil acesso, é usado o raticida granulado. “O tratamento pode ser feito três a seis vezes. Depende de monitoramento e se vai baixar a infestação”, explica.

Há ainda instruções em prédios e residências para diminuir a proliferação. “Nossa orientação é focada em mostrar às pessoas que é preciso dar o destino adequado aos resíduos. Os ratos vivem no subterrâneo da cidade. Só sobem quando há falha no descarte de lixo orgânico. Ou seja, quando os restos alimentares estão à disposição deles”, alega o veterinário. Em casa, ele indica que as pessoas não deixem a caixa de esgoto aberta nem comida e rações em locais acessíveis.

Para empresas, a recomendação é sempre tapar os contêineres nas ruas. Apesar da necessidade do cuidado, não há penalidade caso os comerciantes descumpram a orientação. “É difícil constatar quem jogou o lixo de maneira errada. Os contêineres são coletivos. A empresa tem o dever sanitário de estar correta, por isso precisa do alvará sanitário e ambiental. Mas isso é dentro das dependências e, no geral, o problema acontece fora. Nossa ação é somente de conscientização”, destaca. “Rato é considerado praga urbana e tem em qualquer lugar do Brasil e mundo. Temos de mantê-lo em suas colônias no subterrâneo”, completa.

Ratos no sudoeste, lixo ajuda proliferação dos animais. Foto: Kléber Lima/Jornal de Brasilia

Roedores afastam a clientela

Gerente de um restaurante da Quadra 101 do Sudoeste, Rose Santos, 35 anos, é responsável por um dos sete contêineres que foram filmados com a presença de ratos. Ela alega que, por seu estabelecimento ser considerado grande gerador de lixo, uma empresa privada recolhe diariamente o resíduo produzido no estabelecimento. “Eles tiram e nós fazemos a limpeza e higienização todos os dias”, argumenta.
Há cinco anos no espaço, Rose conta que o problema com os ratos surgiram há pouco tempo. “A raiz da árvore levantou um buraco na calçada. Assim, os ratos começaram a sair”, afirma. “Também tem muito catador que mexe, revira o lixo e deixa aberto, isso acaba atraindo. Temos nossos cuidados, mas, infelizmente, acontece”, reconhece.

O zelador Severino José, do Bloco B da quadra, também se defende. “Faz tempo que colocamos veneno lá. Morre um ou outro. Mas parece que isso fez aumentar. Contratamos uma empresa de dedetização, jogamos veneno nesta semana e o governo também veio aqui. Não sei mais o que fazer, porque já batemos todo tipo de veneno e parece não resolver o problema”, lamenta.

Ele alega que os condôminos têm suas responsabilidades. “Devem ajudar a manter organizado. É para o jogar o lixo e fechar a tampa”, diz o zelador.

Comércio prejudicado

No Setor Comercial Sul também há relatos da presença dos ratos. A vendedora Tatiane Coimbra, 25 anos, critica a sujeira e a presença de muitas pessoas em situação de rua. “Reviram o lixo e ainda usam o mato como banheiro. Isso atrai os ratos”, diz. “Já chamamos o governo, mas nunca limparam. Nós tivemos que dedetizar e teve uma época que outros comerciantes trouxeram gatos para ver se diminuía. Não resolveu nada”, reclama.

O resultado é a queda nas vendas. “Tem cliente que chega perto, mas quando vê os ratos, sai. Eles acham que o quiosque é sujo, que não temos higiene. É uma situação complicada”, lamenta.

Lixo pela cidade ajuda a proliferação de ratos no DF (Setor Comercial Sul) Foto: Kléber Lima/Jornal de Brasilia

Saiba Mais

Para o biólogo Wanner Medeiros, a redução da população de ratos nas ruas do DF é de responsabilidade do governo, da sociedade e de empresas geradoras de lixo orgânico. “A Secretaria de Saúde, por meio da Zoonoses e da Vigilância Ambiental, é a responsável pelo controle, mas todos têm de fazer sua parte. O lixo tem que ser exposto só nos dias da coleta”, alerta. “Os predadores são cobras e algumas aves, mas não são animais urbanos. Gatos só comem ratos pequenos, então não influencia na diminuição da população dos roedores”, completa.

O biólogo explica ainda que os ratos possuem hábitos noturnos e são considerados gregários. “Sempre ficam em grupos”, resume. O contato com urina e fezes dos roedores pode causar doenças como a leptospirose, hantavirose e até a peste.

    Você também pode gostar

    Assine nossa newsletter e
    mantenha-se bem informado