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Brasília

Atos de vandalismo na Esplanada provocam mudanças na segurança

Arquivo Geral

01/12/2016 7h00

Atualizada 30/11/2016 21h31

Myke Sena

Jéssica Antunes
[email protected]

O rastro de vandalismo na Esplanada dos Ministérios foi o que ficou após o protesto contra a proposta que limita os gastos do governo pelos próximos 20 anos – aprovada em primeiro turno no Senado Federal na noite de terça-feira. O balanço da manifestação, que começou pacífica, é de 12 prédios depredados, 27 placas de sinalização arrancadas e amassadas, dois carros incendiados, cinco paradas de ônibus quebradas, 20 atendimentos médicos e seis detidos. O governo suspeita de infiltrados e determina mudanças para próximos atos.
Até a tarde de ontem, o Serviço de Limpeza Urbana (SLU) havia retirado dois caminhões de objetos quebrados e jogados nas vias. Dois caminhões-pipa foram utilizados para limpeza dos locais onde atearam fogo.

Pichação e fogo

  • Em cerca de seis horas, dez mil pessoas protestavam contra a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 55, que determina um teto para os gastos públicos durante 20 anos, e a medida provisória que propõe a reforma do Ensino Médio.
  • O ato começou por volta das 18h, quando os manifestantes picharam o Museu Nacional e o MEC. Após confronto com a polícia, danificaram e atearam fogo em banheiros químicos.
  • Na tentativa de dispersar os manifestantes, policiais militares dispararam bombas de efeito moral. Um grupo revidou, atirando paus, pedras e coquetéis molotov contra a tropa de choque da PM.
  • Cerca de mil policiais, entre tropas especializadas, como o Choque e a Cavalaria, e batalhões locais, estiveram no ato.

Desde a noite de terça-feira, mais de 90 profissionais atuaram na região da Esplanada dos Ministérios. De acordo com o Governo de Brasília, ainda não há um balanço final da quantidade de lixo recolhido na área.

O Complexo Cultural da República ficou por conta de trabalhadores terceirizados a limpeza. Água e sabão não foram suficientes para retirar as palavras de ordem dos vidros. Os funcionários tiveram de usar solvente. Por toda a extensão, retiraram pedras que foram arremessadas pelos manifestantes e recolheram obras de arte destruídas.
“Os vândalos se misturaram com os manifestantes decentes e deu nisso”, reclamou o encarregado da limpeza, que pediu para não ser identificado.

Monumentos

Ali, a fachada da Biblioteca Nacional foi pichada e teve várias placas de sinalização e de orientação derrubadas e danificadas, assim como a parada de ônibus localizada em frente. Além de tudo isso, a Catedral de Brasília ainda teve orelhões destruídos, um carro incendiado e um contêiner virado no estacionamento e o bicicletário destruído, situação semelhante ao Museu Nacional da República, que tem toda a sua base com escritos pintados.

Myke Sena

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Em busca da identificação dos autores de crimes

O governador Rodrigo Rollemberg esteve na Esplanada na manhã de ontem. O chefe do Executivo condenou os atos de vandalismo e informou que o governo trabalha para identificar os responsáveis e puni-los, inclusive com uso de imagens de segurança. Em reunião, a cúpula da Segurança Pública deliberou reforço no esquema de segurança e a volta de revistas na chegada à área central em dias de protestos.
Houve quatro reuniões com os movimentos participantes da manifestação, segundo o governo. A secretária de Segurança, Márcia de Alencar, disse que a presença de infiltrados está relacionada aos casos de depredação: “Os grupos perderam o controle porque outros grupos infiltrados vandalizaram” (leia abaixo a Versão Oficial).

“Força desproporcional”

Morador do Guará e estudante de Museologia da Universidade de Brasília, Cássio Rodrigues, 22 anos, esteve no protesto de terça-feira. “Estava pacífico, mas a polícia usou força desproporcional. Acredito que foi mais uma reação. Os manifestantes ficaram muito nervosos por causa das bombas”, defende. Apesar disso, ele acredita que “não tem revolução sem marcas”, como as deixadas nos prédios da Esplanada dos Ministérios.

Ontem, ele fotografava o Museu Nacional com o amigo Gabriel Lindenbach, produtor cultural de 24 anos que mora em São Paulo. Ele, como vários outros manifestantes de outras regiões do País, passou semanas organizando a caravana. Para o produtor, as intervenções são reflexo de como está a educação no Brasil: “intransigente”.

“Todo protesto é válido, mas o vandalismo, não”, opina o estudante Lourimar Bastos, 42 anos. Ele lembra que os bens públicos são para quem manifesta ou não. “Depois tem que ser reposto e o custo revertido poderia e deveria ir para bem popular. Para mim, foi total perda de razão dos manifestantes e completa falta de racionalidade. Há várias formas de manifestar”, acredita.

Seis detidos

Seis manifestantes foram detidos e encaminhados a delegacias da Polícia Civil. Eles assinaram termos circunstanciados por injúria, desacato, resistência e dano, além de lesão corporal, e liberados em seguida. Outras cinco ocorrências de dano foram registradas pela Polícia Federal. A Polícia Civil analisa imagens para identificar as pessoas envolvidas e responsabilizá-las. Identificadas, elas serão monitoradas em futuras manifestações.

Vinte atendimentos médicos foram realizados durante o protesto. Onze pacientes foram atendidos no Hospital de Base (HBB) com ferimentos leves, um outro foi atendido na mesma unidade com um corte profundo na perna, que necessitou de sutura.

Ali, dois policiais também receberam socorros: um com perfuração de faca nas costas e outro atingido na cabeça. Ambos necessitaram de sutura. No Hospital da Asa Norte (Hran) foram cinco por intoxicação por gás lacrimogêneo, e um com um corte no dedo.

Danos ao patrimônio vistos por toda parte

Myke Sena

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A Secretaria de Segurança Pública e divulgou um balanço dos prejuízos. Ao todo, sete prédios de ministérios foram pichados e tiveram vidraças quebradas, luminárias, lixeiras, orelhões e placas derrubadas e danificadas: da Educação; do Desenvolvimento, do Esporte e Controladoria Geral da União e Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade; do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão e do Desenvolvimento Social e Combate à Fome; da Agricultura, Pecuária e Abastecimento; da Integração Social e da Ciência, Tecnologia e Inovação; das Comunicações e dos Transportes; da Cultura e do Meio Ambiente. Este último ainda teve a parada de ônibus e o bicicletário em frente destruídos.

O Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços e o Ministério da Aeronáutica tiveram menos prejuízos, com paredes e calçadas dos fundos pichadas. Na Avenida das Bandeiras, além de pichações, os lábaros de todas as unidades da Federação foram arrancadas e alguns mastros acabaram danificados ou arrancados. Também foram quebradas ainda as vidraças de uma agência do BRB no Setor Bancário Sul.

Versão oficial

De acordo com a secretária de Segurança Márcia de Alencar, a revista dos integrantes de 318 ônibus não ocorreu por falta de apoio de corporações que ajudariam a Polícia Militar. “Havia previsão de ajuda do DER e PRF, mas restou aos militares, de forma que ficou impossível. Agora, independentemente disso, faremos o que chamamos de isca de peixe, com bloqueios pela Esplanada para vistoriar a todos e garantir que a manifestação seja democrática e plural”, explica. Para ela, a presença de infiltrados é clara. “São grupos de vândalos que tinham a intenção de depredar o patrimônio. Tomamos a decisão de uso progressivo da força para debelar esses vândalos”, garante. Para ela, o fato de não haver feridos graves ou mortos evidencia o funcionamento da ação.

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