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Brasília

Anderson Torres: “Missão sendo cumprida na Segurança”

Secretario de Segurança do DF comemora números que revelam os menores índices de criminalidade do país. “Estamos vencendo o desafio”, diz ele

Olavo David Neto

21/10/2020 5h27

fotos: Henrique Kotnick/Jornal de Brasília Entrevista SSP – Anderson torres (sec. de segurança)

Integração entre as forças é o trunfo da SSP para redução de índices no DF

“As forças de segurança são os protagonistas”

A reportagem do Jornal de Brasília entrou no gabinete do secretário de Segurança Pública do DF e encontrou o titular da pasta sorridente. Isso no dia seguinte à publicação do 14º Anuário de Segurança Pública, estudo do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), que geralmente traz análises negativas para os gestores da área.

Anderson Torres tem motivos para sorrir. Mais uma vez, o estudo aponta o Distrito Federal como a Unidade Federativa com menores índices de criminalidade do Brasil, mesmo após o desempenho de 2019, que resultou no recorde de menor taxa de homicídios em 35 anos. Neste 2020 pandêmico, até o feminicídio, crime tipificado em 2015 e que, desde então, vem em ampla ascensão, reduziu-se. Foram oito entre janeiro e junho, seis a menos que os 14 – que fecharam o ano como 33 – do ano passado.

Na conversa com o JBr, Torres comemorou a queda em todos os índices relacionados à violência contra a mulher, e classificou como missão cumprida a disputa feita “com nós mesmos”.

O ciclo do feminicídio (ameaça, lesão corporal e assassinato) apresentou queda segundo o Anuário de Segurança Pública em relação ao primeiro semestre de 2019. O que foi coordenado com as corporações para que as vítimas, que estão dentro de casa junto ao agressor, possam denunciar situações de violência?

Eu vejo dois aspectos: primeiro, nós temos uma câmara técnica de monitoramento dos feminicídios, acompanhamos caso a caso. Tudo é novo. O estudo é novo, as causas são novas. Tudo a gente está estudando e tentando entender. É um crime com questões culturais, emocionais, de sentimento de posse. É um crime de gênero, propriamente dito, que não envolve especificamente a Segurança Pública, que às vezes não tem muito o que fazer. Todos disseram que aumentaria muito o número de feminicídios. A gente preparou as delegacias e os policiais, trouxemos de volta a Meta a Colher [campanha de prevenção à violência de gênero] e os números caíram durante a pandemia. Ficamos muito felizes quanto a isso. O que nos cabe é conscientizar os agressores e a população.

Mas não há uma preocupação com subnotificações, por exemplo, dos casos de ameaças a mulheres?

Nesse sentido, temos a delegacia eletrônica, que abrimos durante a pandemia para todos os crimes no DF, justamente para chegar mais perto da vítima que está sendo agredida. Em tese, todos têm acesso a um celular com internet. Mas que é possível que haja subnotificação, é.

Desde a tipificação criminal do feminicídio, em 2015, há uma tendência de aumento nessa modalidade e redução do homicídio de mulheres, e o primeiro crime apresenta crescimento frequente. É possível que tenhamos o primeiro ano com redução em relação aos 12 meses anteriores?

Deus queira que sim. Estamos trabalhando muito para isso. Desde o início desse governo, o governador Ibaneis Rocha determinou que montasse uma estrutura de atendimento a mulheres vítimas desse crime, mas também de repressão a esses crimes. Não só a SSP, mas vejo a Secretaria da Mulher, a Secretaria de Justiça, o estado se mobilizou para acudir a essas pessoas. O resultado está aí, nos números. Há uma redução considerável em 2020 com relação aos feminicídios. O caminho é longo, mas o Governo do Distrito Federal está nesse caminho.

De janeiro a junho de 2019 foram quatro óbitos por intervenção policial, enquanto neste ano, no mesmo período de seis meses, foram oito abatimentos. Segundo a PM, apenas um se deu em operações. Como enxerga esse aumento e a atuação de quem não é mais do efetivo policial?

Cabe ressaltar que nós somos a Unidade da Federação com menos mortes em operação. Ninguém sai de casa para matar ninguém. Se o policial se viu numa posição de parar uma injusta agressão que viu, ele teve que fazer. A gente lamenta, mas repito: os números são baixíssimos. Mostra um preparo dos policiais no DF, mas também uma realidade diferente. É um Brasil de muitos Brasis. Eu atribuo a isso. Quanto aos policiais da reserva ou aposentados, eles ficam mais vulneráveis, mas ainda são policiais. Quando se deparam com um assalto, é natural que eles reajam. Por mim, isso não deveria estar na estatística. Letalidade policial é quando o agente está em serviço.

O que resultou na queda de homicídios? É investigação ou policiamento preventivo?

As duas coisas. Temos de parabenizar o trabalho da Polícia Militar, que é trabalho técnico e preventivo, não é mais só soltar viatura na rua. Temos operações em andamento, percorrendo todas as RAs do DF. Isso com certeza afeta os índices criminais. E, como eu disse, a desarticulação das organizações criminosas. Se não tiver uma estratégia, aqui em Brasília, não diminui o crime. Muitos homicídios são gangues contra gangues, se não prender os integrantes, não reduz.

Dá para estimar o quanto a pandemia influenciou nessa queda na criminalidade observada neste ano?

Eu não conseguiria estimar. No começo, óbvio, a população no lockdown, todo mundo em casa. Assim não tem assalto a pedestre, assalto a ônibus. Isso é lógico. Por outro lado, houve um direcionamento das forças de segurança para ajudar na repressão à covid-19. A Polícia Militar teve de se readequar e auxiliar hospitais, o Corpo de Bombeiros ajudou na transferência de pacientes para UTIs. Mas também diminuímos nossos efetivos para poder ajudar o estado. O intuito era salvar todo mundo e manter a segurança pública com um efetivo pequeno. Nós ainda estamos em pandemia, mas o começo foi muito grave, a gente não sabia o que vinha. Ao mesmo tempo que a população não estava na rua. A partir do terceiro mês, todo mundo voltou. Hoje está normal, e inclusive as pessoas deveriam respeitar mais. É uma doença muito séria.

O que o DF pode contribuir nacionalmente no combate à criminalidade?

Brasília tem muito a contribuir, é uma grande escola. Fazer Segurança Pública aqui é diferente, tem uma série de peculiaridades, como a sede dos Poderes, as embaixadas. É uma cidade que se move muito e a gente precisa fazer a segurança para todas as pessoas. A gente faz com dedicação, com inteligência, integração, e isso deve ser o modelo. Trocamos muitas experiências no Conselho Nacional de Secretários de Segurança Pública. Dá para ver o que está bom e podemos usar. Também aprendo muito com outras experiências.

No ano passado era o atendimento, mas o que ainda tira o sono do secretário de Segurança Pública da UF com menores índices criminais no país?

O que me preocupa é ver o crescimento da cidade, com vários bairros novos, aumento populacional. A gente quer chegar nessa população, o efetivo está muito baixo. Eu perco o sono querendo atender a tudo e a todos. É o que eu digo: você pode não usar Saúde e Educação públicas, mas Segurança Pública certamente você usa. Minha agonia é essa, fazer segurança para todos, e a cidade é muito grande. Tem de ser para todos o mais rápido possível. É uma continuação do ano passado. Temos de estar perto de todos.

Alguns especialistas apontam que o DF amadureceu nas políticas de Segurança Pública porque não há um rompimento com as políticas de gestões anteriores. Isso existiu na sua gestão à frente da SSP?

A nossa gestão conseguiu apaziguar a relação entre as forças de segurança. Eu sou brasiliense, acompanha há muito tempo. Quando as forças trabalham integradas, a gente acaba com a história de “esses dados são meus, isso é nosso”. Nada é nosso, é tudo público. Essa é a grande marca da nossa gestão, e atribuo grande parte dos nossos resultados a isso. Nós não somos comandantes, aqui eu faço o trabalho técnico, os protagonistas são as forças de segurança. Algumas políticas nossas vieram, sim, da gestão anterior, até porque eu acho errado chegar um gestor e encarar tudo o que estava antes como errado. Tem que manter e aprimorar o que estava certo e implantar o que você acha que dará resultados. Nosso trabalho foi esse. Herdei isso de um colega delegado da PF. Vi muita coisa certa e muita coisa que eu não concordava, mas não vale entrar nesse mérito.

Tivemos uma nova redução nos índices de criminalidade, após um ano que também registrou queda. O que foi feito?

O nosso grande mérito é aumentar a redução. Brasília vinha numa diminuição dos Crimes Letais Contra a Vida, mas neste ano nós potencializamos isso. Fizemos um estudo da questão do policiamento, direcionando o policiamento preventivo para áreas com grandes índices de violência. Orientamos as forças que reforcem essas áreas. Também potencializamos as investigações da Polícia Civil, que teve uma retomada grande em 2019. São ao menos três operações por semana. As operações de combate ao crime organizado têm um resultado muito efetivo, porque a gente prende traficantes, ladrões de carro, que é o público que mais se mata no DF. Desarticulando essas quadrilhas, a gente reduz o número de homicídios. O ideal é que fosse zero, mas são os menores números do Brasil.

Em 2019, o senhor comentou que o atendimento à população era um dos principais pontos que lhe tiravam o sono. O que foi feito junto à PCDF para mudar esse panorama?

Não foi só junto à Polícia Civil, mas também à Militar, que a gente conseguiu soluções. A Polícia Civil montou um grupo de trabalho para estudar o atendimento nas delegacias e propor um fluxo melhor de atendimento, não só nas [delegacias] especializadas. No âmbito do atendimento de emergência, estamos no meio da contratação de uma consultoria para mostrar para nós quais são os melhores modelos e implantar aqui no DF. Ninguém liga para o 190, 193 à toa. É um momento grave. Com relação ao que lhe falei no ano passado as coisas andaram. A gente quer chegar ao final do governo com uma mudança grande no atendimento à população.

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