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Brasília

A mudança começa por você

Não adianta dizer que o plástico é reciclável, se o Brasil é o 4º maior produtor desse tipo de lixo e, dele, recicla menos de 1% . Brasília começa a tentar se afinar a parâmetros globais contra o vilão

Marcus Eduardo Pereira

26/07/2019 6h23

Grace perpetuo
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Caro leitor: você também se incomoda diante de um copo de plástico de uso único? Pois saiba que não está sozinho. De alguns anos pra cá – a despeito dos alarmes soados há décadas por especialistas -, a consciência sobre o impacto ambiental inerente ao uso irresponsável desse material explodiu – e ao redor do mundo iniciativas vão surgindo como pequenas respostas pessoais, locais, municipais, nacionais e, quem sabe, globais.

Em Brasília não é diferente. Se tudo der certo, as sacolas plásticas, por exemplo, deixarão de circular por aqui no ano que vem: no último dia 11, o governador Ibaneis Rocha (MDB) sancionou a lei do distrital Leandro Grass (Rede) que proíbe a venda e a distribuição gratuita desse insumo por estabelecimentos comerciais locais. (A norma deve ser regulamentada em até 12 meses, quando começará a valer.)

Ainda assim, a iniciativa enfrenta apenas a ponta minimamente visível de um iceberg de proporções aterradoras.

A realidade é gritante e fala mais alto: a cada ano, cerca de 8 milhões de toneladas de plástico vão parar nos oceanos – a última instância daquele canudo usado por cinco minutos e descartado sem culpa em uma lixeira de recicláveis (talvez). Entre a costa oeste dos EUA e o Havaí, a Grande Mancha de Lixo já ocupa uma área pouco maior que a do estado do Amazonas e quase duas vezes e meio o da França.

Toneladas

A situação nacional é constrangedora. De acordo com um estudo divulgado em março pela ONG World Wildlife Fund (WWF) com base em dados do Banco Mundial, o país – eterno campeão dos placares negativos – é o 4º maior produtor de lixo plástico no mundo, e recicla menos de 1% desse material. Todos os anos, o país produz 1,3 milhões de toneladas de lixo plástico, ficando atrás apenas dos EUA, China e Índia. O índice brasileiro de reciclagem de lixo plástico é um dos menores da pesquisa e está muito bem abaixo da média global de 9%.

Somada a outras irresponsabilidades mundo afora, a conclusão é uma só: trata-se de uma tragédia de proporções inimagináveis. A solução, para muitos especialistas, está em tornar os produtores das embalagens plásticas responsáveis por seu descarte, e em decisões e ações macro por parte de governos aqui e no mundo.

Transformação pessoal

Cansadas de esperar pelas soluções governamentais, muitas pessoas e empresas vêm se comprometendo com uma transformação pessoal. Para elas, evitar o plástico de uso único está se tornando cada vez mais um modo de vida.

“Em 2016 comecei a sentir um grande incômodo diante das incontáveis garrafas que descartávamos todas as semanas”, diz a proprietária do movimentado bar Pinella (408N), Flávia Attuch. Ao lado da sócia Marta Liuzzi, em 2017 Flávia fez um manifesto para explicar aos clientes por que não mais serviria as garrafas long neck de quatro conhecidíssimas marcas de cerveja, “porque as empresas que as distribuem não fazem a coleta reversa desses produtos”.

A ideia pegou e ela se uniu a uma rede de outros restaurantes locais preocupados com o descarte consciente de resíduos. Além disso, Flávia atravessou a rua e, com a sócia, abriu em junho o Evolua Mercado Sustentável, onde ajuda a conscientizar o consumidor brasiliense por meio de uma série de produtos livres de plástico de uso único. Muito além dos já indefectíveis canudinhos de aço inox, há escovas de dentes e cotonetes de bambu e outros materiais naturais, por exemplo; garrafinhas, copos e lancheiras reutilizáveis; e produtos orgânicos embalados em folhas de bananeira (ou, ainda melhor, sem qualquer embalagem). Estão à venda também sabonetes, cremes e comidinhas produzidos localmente, e saquinhos e sacolas de pano para quem esqueceu de trazer os seus de casa. “A sociedade civil precisa fazer a mudança de seus hábitos para mostrar aos governos que existe um público consumidor avesso ao plástico”, observa Flávia, acertadamente.

A empresária faz uso dos serviços da empresa de compostagem Destino Certo, uma entre muitas que, mediante uma taxa mensal e um balde especial, se dispõe a coletar e transformar o lixo orgânico dos clientes em terra adubada, plantas, vida.

Tem dado certo: entre abril e agosto de 2018, a bordo da coragem de Flávia, o bar Pinella contabilizou um “impacto positivo” de 4,6 toneladas – na forma de 2 toneladas de resíduos orgânicos compostados; 1,4 de emissões evitadas pela compostagem; e 1,2 de composto orgânico produzido. São parâmetros que reiteram que, também aqui, estamos tentando enfrentar esse enorme problema global.

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