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“Viu, doutor Maurício? Isso é uma farsa”, dispara Adriana Villela ao MPDFT durante depoimento

Durante a fala, Adriana teceu críticas à investigação e relatou os próprios passos da segunda-feira em que os corpos foram descobertos

Redação Jornal de Brasília

01/10/2019 19h23

Foto: Vítor Mendonça/Jornal de Brasília

Olavo David Neto
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A segunda parte do depoimento da acusada de encomendar a morte dos pais, José Guilherme e Maria Villela, girou em torno do pós-crime e do início das investigações. Um plenário lotado acompanhou em transe o testemunho da ré. Durante a fala, Adriana teceu críticas à investigação e relatou os próprios passos da segunda-feira em que os corpos foram descobertos.

De acordo com o depoimento, Adriana e Carolina – filha da acusada – almoçaram mais cedo naquele dia, ocasião em que a neta do casal Villela manifestou preocupação, mais uma vez, com o sumiço dos avós. Segundo Adriana, não era costume se preocupar com o paradeiro dos pais. “Eu tinha uma falta de hábito de me preocupar com meus pais, porque sempre tiveram plena autonomia”, relatou a acusada.

Após duas ligações, porém, a preocupação aumentou. Conforme disse em resposta ao magistrado, uma colega da mãe que deu a Maria Villela um presente comprado em viagem ligou por não ter notícias da amiga. Pouco depois, Carolina ligou e relatou à mãe que os avós não foram trabalhar. Por vezes a mãe faltava ao trabalho, quando fazia compras ou ia ao salão, por exemplo, mas José Guilherme era religioso com a profissão. “Meu pai não comprava roupa, não comprava nada. Minha mãe que era a gestora de tudo isso.”

Neste momento, Adriana teria ligado para o ex-companheiro, Livino, que a buscou em casa, na QI 29, no Lago Sul, e, juntos, dirigiram-se ao apartamento. A rota traçada passou pela Ponte JK e pela L2 Sul, segundo o relato da depoente. Ao entrarem na parte comercial da 113 Sul, Adriana teria pedido para Livino parar o carro em frente à padaria onde o pai costumava tomar café. Lá, perguntou se alguém o teria visto, ao que responderam que não. “Era uma outra equipe, a equipe da tarde. Acho que nem conhecem meu pai”, disse a ré.

Conforme o testemunho, o comportamento dela antes de descobrir a morte do Casal Villela – amplamente divulgado pelos acusadores como quebra da normalidade para a situação -, deve-se ao pragmatismo herdado do genitor. “Meu pai sempre disse que em momentos de emergência a gente primeiro resolve as coisas, depois desmorona; foi assim que eu lidei quando eu perdi meu marido num acidente de moto”, declarou Adriana.

Fotos dos pais mortos

Pelo relato de ontem (1º), Adriana tentou entrar no apartamento quando soube da morte dos pais, mas foi impedida por um policial, que, segundo ela, achou que ela adulteraria a cena do crime. “Eu queria ver minha mãe, mas ainda bem que não me deixaram entrar”, declarou a ré, afirmando que teria mais complicações caso tivesse subido. Quanto aos corpos dos pais, que ela assegura não ter visto pessoalmente, alegou ter visto apenas fotos dos cadáveres. “Essas fotos passavam por horas na minha cabeça antes de dormir. Eu não saberia dizer como foi ver essas imagens”, disse a acusada, sempre em voz calma e grave.

Adriana também questionou os métodos de comparação dos depoimentos dos executores e o dela e classificou como “farsa” o processo movido contra ela. “Nunca foi feita uma acareação entre eu, o Leonardo, o Paulinho e o Mairlon. Porque a única coisa que desmoronaria seria essa farsa montada pela acusação. Viu, doutor Maurício? Isso é uma farsa”, declarou.

Gol prata, não preto

Um dos pontos altos do depoimento veio quando Adriana Villela classificou o carro pessoal como “prata”, o que difere das versões apresentadas pelos executores para sustentar a tese de um crime de mando. Segundo os depoimentos e reconstituição feita por Leonardo, no dia dos assassinatos, Adriana passou por eles no ponto de ônibus do Eixo W Sul por três vezes num Gol preto, tendo parado na última oportunidade para entregar aos executores o pagamento pelo serviço.

Ela se defendeu, inclusive, de acusações feitas pelo Ministério Público de que teria informações privilegiadas sobre os grampos em seus telefones e no veículo que utilizava. “Dava para ouvir as falhas nas ligações, cortava, dava eco. Com relação ao carro, o meu voltou quebrado depois da perícia e eu peguei o do meu pai. Por isso ficou parado por tanto tempo”, defendeu-se a acusada.

“Ensaiado”

Em entrevista fora do plenário, a acusação atacou a versão apresentada por Adriana, classificando-a como “um depoimento plenamente ensaiado.” Quanto à recusa em responder perguntas da acusação, o procurador Maurício Miranda considerou a estratégia pior para a ré. “Não a ajuda a construir a tese de sua inocência”, declarou o representante do MPDFT.

Dia D

De acordo com informações do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (MPDFT), o julgamento de Adriana Villela não passa desta quarta-feira (2). A previsão era que a ré falasse ao Júri e o debate entre as partes fosse realizado ainda hoje, mas, assim, a sessão se estenderia madrugada adentro.

Badalado

O plenário do Tribunal do Júri esteve cheio durante as 9h30 em que Adriana falou até o fechamento desta matéria. O espaço tem capacidade para 224 pessoas. Do lado de fora, foi esquematizado um sistema de senhas para novos ingressos no local. A fila se estendeu para além de 350 fichas, distribuídas entre curiosos, alunos de direito, amigos dos envolvidos no caso e servidores do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios.

Estratégias

Ainda antes do início do interrogatório à Adriana, o advogado de defesa Antônio Carlos de Almeida Castro, Kakay, se manifestou e informou que, por decisão dos defensores da ré, a acusada não irá responder aos questionamentos que seriam feitos pela acusação do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT).
Ao fim das perguntas do juiz, este confirmou com a ré se ela realmente não responderia perguntas da acusação, como dito de início. “Eu quero responder às perguntas do Ministério Público, eu só não vou responder às perguntas do doutor Pedro Calmon, que tem sido muito grosseiro.” Ao longo da semana, o assistente de acusação protagonizou discussões com os defensores de Adriana.

Ao se referir à decisão dos defensores, ela agradeceu à equipe que atua por sua absolvição desde 2011. “Meus pais deixaram essa equipe de herança para mim através dos amigos, principalmente você, Kakay”, disse, em tom carinhoso.

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