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Brasília

Vicente Pires pede socorro por transtornos causados por obras de infraestrutura

Arquivo Geral

22/11/2018 7h00

Foto: Raianne Cordeiro/Jornal de Brasilia

Raphaella Sconetto
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Um pedido de socorro. Moradoras de Vicente Pires lançaram uma petição pública com o intuito de sensibilizar a população e o governo sobre os transtornos que a comunidade vem passando por conta das obras de infraestrutura. Além do recolhimento de assinaturas, um grupo foi formado para tirar dúvidas e sugerir soluções: o SOS Vicente Pires.

A fisioterapeuta Gabriella Lourenço, 30 anos, e a bancária Erika Cintra, 37 anos, são as responsáveis pela petição pública. Tudo começou com uma postagem no Facebook, em que Erika citava os problemas da região. “Uma caminhonete foi engolida, um buraco enorme ficou aberto na Rua 8, um cavalo foi eletrocutado. Em todos esses casos, tratam como se fossem pontuais. Não são. Tudo é falta de organização da obra”, relembra.

Diante da repercussão, Erika e Gabriella se uniram e criaram a petição. Apesar da liderança, elas garantem que não se trata de uma iniciativa pessoal. “Somos pessoas comuns, cansadas de todos os problemas. Não estamos defendendo político A, B ou C. Somos milhares de moradores, isso quer dizer que são milhares de olhos que estão atentos, são milhares de pessoas fiscalizando e são milhares de pessoas com ideias”, alega.

A bancária diz entender a importância da obra, mas avalia que deveria ter sido melhor planejada. “Estão enxugando gelo. Tiram a lama e tapam buraco, mas os problemas são maiores do que isso. Sabemos da necessidade de obra. Tem que ser mais organizada. Se um caminhão dos bombeiros precisar entrar, tem rua em que ele não passa. Caminhão de lixo também. Estão tirando nosso direito de ir e vir”, critica.

“Grileiros”

A iniciativa já foi alvo de críticas. Na petição, comentários chamam moradores de Vicente Pires de “invasores” e “grileiros”. “Mas eu pergunto: No Distrito Federal, quais foram as cidades que foram planejadas? Pouquíssimas. Nós, de Vicente Pires, pagamos IPTU há anos. Nesse tempo, todas as obras de melhorias foram feitas por moradores e o recurso não era empregado aqui”, comenta Erika.

“A gente sabia que o processo de regularização e o progresso iriam chegar, e que a obra é necessária. Quando tem esse estigma da falta de regularização, não faltam críticas. Aguentamos por muito tempo achando que a situação iria melhorar. Só que chegamos num ponto em que não dá mais para aguentar”, completa.

Conforme a bancária, o grupo se reunirá a fim de pensar em soluções. “É um pedido de socorro e também um momento de sugestão. Queremos ajudar. Sabemos que precisamos unir forças”, afirma.

Por isso, os moradores que participam do grupo vão montar um documento com dúvidas e ideias de o que pode ser feito para que a obra acabe sem mais contratempos. “Por que estão fazendo todas as ruas de uma só vez? Por que cada rua ficou com uma empresa?

Por que começaram a pegar pesado na obra dois meses antes de começar a chuva? São perguntas que a gente, como cidadão, quer resposta, mas temos sugestões”, pontua.

Mais um ano inteiro de dificuldades

A previsão de entrega geral das obras em Vicente Pires é dezembro de 2019. No entanto, conclusões parciais serão feitas no decorrer do ano. O projeto foi dividido em 11 lotes, distribuídos nas três glebas. O lote mais avançado está com 63% dos trabalhos de drenagem e 50% de pavimentação.

A divisão confusa dificulta o acompanhamento da população. Também por isso, o grupo de moradores espera estreitar o diálogo com as autoridades. A petição será entregue ao administrador regional, Charles Guerreiro, a equipes do atual governo e à equipe de transição. “Vamos pensar, juntos, e achar saídas para o que estamos enfrentando”, diz Erika Cintra.

Enquanto isso, os moradores acumulam prejuízos. A empresária Márcia Campos, 48 anos, tem uma loja de aluguel de itens para festa. Ela conta que o número de clientes reduziu drasticamente depois do início das obras. “Não consigo abrir minha loja, porque nenhum cliente chega mais aqui. Tenho que fechar contrato pelo celular, sem nenhuma assinatura, tendo que confiar nos clientes. Esses dias uma cliente me mandou mensagem dizendo que tentou vir à loja duas vezes, só que não conseguia chegar”, reclama.

Márcia diz que os transtornos são diários. “Não consigo pagar meu aluguel, porque não fecho mais contrato como antes. Minha loja está suja. Não adianta nem limpar”, acrescenta.

O autônomo Ildemar Francisco da Silva, 78 anos, presta serviços há 20 anos na região consertando eletrodomésticos, panelas e outros utensílios. Para chegar a Vicente Pires, ele precisa ir de ônibus. “Está difícil. Quando chove, a parada fica inundada. Acho que aqui vai melhorar só no ano que vem. Não vai resolver passar máquina se a chuva vier e destruir tudo”, considera.

A professora Raquel Fernanda Cardoso, 38 anos, foi pega de surpresa. Há dois meses deixou sua residência, na Rua 10, e foi a Cabeceiras (GO) para cuidar da mãe. Ontem, ela chegou de viagem e assim que desceu do ônibus ficou em choque ao encontrar a rua sem asfalto. “Quando saí, estava inteira. Parece que aqui acabou de vez. Vão ter que construir Vicente Pires do zero”, prevê.

Ildemar, 78 anos, relata a dificuldade dos passageiros de ônibus. Foto: Raianne Cordeiro/Jornal de Brasilia

Versão Oficial

Em nota, a Secretaria de Infraestrutura e Serviços públicos esclareceu que realiza reuniões semanais com os responsáveis pelas empresas. Além disso, fiscais da pasta e da Novacap atuam diariamente nas obras de Vicente Pires e estão em contato permanente com os funcionários das empresas. “A Sinesp informa, também, que realiza encontros com moradores da região e participa de reuniões organizadas pelas próprias associações de moradores e/ou Administração local”. Apesar dos transtornos, não houve nenhuma alteração no planejamento das obras, mas as intervenções estão em ritmo mais lento, “em função da impossibilidade de realização de serviços, especialmente de terraplanagem e escavação de valas, que exigem solo seco para serem executados”. Diante disso, a pasta também informou que as empresas contratadas estão em alerta e à disposição para atender às demandas da população. “Uma equipe de engenheiros da Sinesp e da Novacap, juntamente com técnicos de outros órgãos do Governo, está mobilizada, mapeando pontos críticos e monitorando a situação com o intuito de contornar os transtornos ocasionados pela chuva”, alegou. Questionada sobre a possibilidade de as obras serem realizadas rua por rua, a Sinesp alegou que isso demoraria mais tempo de intervenções e traria mais problemas de mobilidade. “As obras seguem um planejamento e, até o momento, o ritmo está de acordo com o cronograma traçado.  Executar a drenagem pluvial rua por rua significaria aumentar o prazo de execução da obra a um período inviável, assim como abrir várias frentes de drenagem tornaria impossível a circulação”.

 

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