Francisco Dutra e Manuela Rolim
[email protected]
Com a queda livre dos investimentos na educação do Distrito Federal, especialistas e professores projetam mais um ano de dificuldades nas escolas públicas. Segundo a secretário de Educação, Júlio Gregório, a gestão Rollemberg (PSB) espera reverter a escassez dos investimentos com a captação de R$ 129 milhões em recursos federais e a racionalização dos gastos atuais, incluindo aluguel de imóveis para a contenção dos gastos com transporte escolar. Enquanto isso, filas de pais, que viram a madrugada em busca de vagas para os filhos, são o retrato dos desafios da rede pública local.
Ontem, o JBr. revelou que, no decorrer dos últimos quatro anos, o volume de investimentos do governo encolheu vertiginosos 73,5%, caindo do patamar de R$ 82,2 milhões para apenas R$ 21,8 milhões, entre 2013 e 2016. Os números partiram de uma pesquisa no Sistema Integrado de Gestão Governamental (Siggo).
A justificativa o governo para queda nos investimentos começa pela crise financeira nacional. Em função da falta de dinheiro, não haveria fôlego para grandes obras e a prioridade é pagar em dia a folha de professores e demais profissionais da pasta. Mesmo com escasso desembolso, o Executivo garante o cumprimento dos percentuais mínimos exigidos pela legislação.
“Nos anos de 2013 e 2014, o governo recebeu mais de R$ 63 milhões da União para a construção de creches. Depois disso, os repasses diminuíram muito”, argumentou o secretário. Também pesou sobre os ombros da pasta de Educação a dívida de R$ 783 milhões deixada pelo governo de Agnelo Queiroz (PT).
Para este ano, conforme o relato de Gregório, a pasta tem a previsão de receber R$ 19 milhões da União para a construção de creches e outros R$ 110 milhões para investimentos da bancada brasiliense no Congresso Nacional. “Também vamos racionalizar nossas despesas ao máximo, sem perder a qualidade do ensino”, prometeu.
Nesta linha, o governo planeja transferir gastos com transporte escolar para o aluguel de imóveis, que receberão escolas em regiões como Paranoá, São Sebastião, Recanto das Emas e Ceilândia. Apenas no passado, o GDF desembolsou R$ 140 milhões em transporte de alunos. Além da economia, a medida buscará oferecer melhores condições aos estudantes.
Para o diretor do Sindicato dos Professores (Sinpro), Cleber Soares, a precariedade não atinge apenas as salas de aula. Sem a atenção devida do poder público, os arredores de várias escolas viraram praças de compra e venda de drogas.
Pais acampam em escola
No Centro de Ensino Médio Setor Oeste (Cemso), na 912 Sul, pais de alunos acampam na entrada da escola para garantir uma vaga na unidade. Primeiro da fila, o militar da Aeronáutica Anderson Nogueira, 37 anos, está ali desde o último sábado. “Meu filho vai para o 1º ano, o mais disputado de todos. Estamos nos revezando para conseguir uma vaga aqui porque é o colégio mais perto da nossa casa”, explica ele, que é morador da Asa Sul.
Ao todo, a lista informal já tem 36 nomes. A expectativa era de que o número de vagas seja divulgado hoje, mas ainda há incertezas. A matrícula, no entanto, será feita somente amanhã. “Eu não tenho barraca. Estou acampando no carro mesmo. Não gostei do colégio para o qual meu filho foi direcionado, por isso estou tentando a transferência para esse. É um grande sacrifício. Fico revoltada com o governo de ter que passar por isso”, conclui a autônoma Ijupiara Machado Campos, 35.
Ponto de vista
“O declínio dos investimentos revela a falta de compromisso do governo. O aluno ainda não é o centro da escola. Sofremos com a ausência de plano que unifique estudantes, professores e pais. E Rollemberg ainda não apresentou proposta alguma”, alerta o doutor da UCB Afonso Galvão, que atualmente é professor visitante da Alberta University (Canadá) e da Flórida State University (EUA). O especialista também aponta a perda de recursos nas áreas-meio: “No Canadá, a educação pública é prioridade. Cada escola recebe verba para pagar tudo, inclusive professores. Elas são constante- mente avaliadas. Se um colégio que vai mal, é fechado; demite-se todo mundo e recomeçam do zero. Existe muita preocupação com a qualidade. Isso poderia ser aplicado no DF. Basta querer”.