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Brasília

Um passeio por Paracatu para celebrar os 223 anos da vizinha de Brasília

A região teve muita influência na construção de Brasília, o que também impactou para sempre a vida dos paracatuenses

Redação Jornal de Brasília

01/11/2021 15h46

Amanda Karolyne

Separada por 232 quilômetros de Brasília, a cidade de Paracatu comemorou 223 anos no mês de outubro. A região teve muita influência na construção de Brasília, o que também impactou para sempre a vida dos paracatuenses.

Com show Valencianas, apresentação da Orquestra de Ouro Preto junto de Alceu Valença, inauguração do maior painel interativo de arte urbana de Minas Gerais e outras coisas, companhia de mineração Kinross participou da celebração do aniversário do município com a realização da Tur Paracatu para mostrar pontos da cidade que contribuem para a cultura e riqueza da região.

Com público presencial, o maestro Rodrigo Toffolo e Alceu Valença tocaram juntos com a Orquestra de Ouro Preto, pela primeira vez depois de muito tempo. Em 2015, o espetáculo foi consagrado com o Prêmio da Música Brasileira na categoria Melhor Álbum de Música Popular Brasileira. Para Rodrigo Toffolo, esse concerto é um momento especial que marca o retorno dos shows com público. “A classe artística sofreu muito, assim como todo mundo, mas foi a primeira a parar e a última a voltar com tudo o que aconteceu”, afirma. Ele cita a importância da cultura, que além de entretenimento, é um instrumento de geração de renda.

O maestro complementa que está nos planos que esse concerto aconteça no Brasil todo, principalmente em Brasília. “O público de Alceu é muito grande em Brasília, tem até bloco para ele. Com toda certeza iremos assim que der”, conta.

Entre as músicas performadas por eles, a aclamada Anunciação e La Belle de Jour. O evento contou com todos os protocolos da Organização Mundial de Saúde, como uso máscara, aferição de temperatura, álcool em gel, distanciamento e número limitado de pessoas.

Para além do concerto, a mineradora Kinross, preocupada em conservar as riquezas da região, realizou a Tur Paracatu por alguns pontos importantes da cidade com a parceria da Guiastur. A Kinross comemora junto do aniversário da cidade, o marco de dez anos do programa Integrar, uma plataforma que investiu cerca de R$30 milhões na educação, cultura, geração de renda e trabalho, e educação ambiental. A empresa organizou uma visita ao restaurante de uma personagem importante para a cidade: a casa da Concessa, um lugar aconchegante com comidas típicas e café coado na mesa.

Museu do Quilombo

Logo depois, a visitação seguiu rumo a comunidade quilombola de São Domingos. Lá se encontra o Museu do Quilombo, onde Valdete Lopes, 65, recebe os turistas para contar a história da família e da região. Ela é filha do membro mais antigo da comunidade, o senhor Aureliano Lopes, de 107 anos. Ele ajudou a construir Brasília e trabalhou como zelador na W3 Sul e no Banco do Brasil. Assim como o pai de Valdete, muitos membros da comunidade foram trabalhar na construção da nova capital do Brasil.

Valdete conta que teve de parar as atividades durante a pandemia. “Temos muita esperança de que daqui para frente seja melhor, e com a vivência que tivemos agora vem o pensamento de que devemos dar mais oportunidade para o próximo”, reflete. “Com o vírus, a gente percebe que somos todos iguais, não tem dinheiro que nos separe”.

Ela conta que sentiu muita saudade dos turistas, e que esse período foi uma lição de vida. Valdete perdeu a irmã Magna Aparecida dos Reis Souto, de 63 anos, que faleceu de covid-19 em abril deste ano.

Agora ela tomou a frente das apresentações do Museu, uma antiga casa de 92 anos feita de adobe, que eles mantiveram conservada para contar a história da comunidade. “Somos descendentes de escravos, e é um orgulho para nós conhecer nosso passado”, conta. A história daquela comunidade é a história de sua família. Seu pai construiu a casa de adobe, um tipo de tijolo feito de barro, capim seco e estrume de gado. Em casa, eles plantavam tudo o que comiam, só precisavam comprar o sal. Enquanto o pai participava do turismo na região e era agricultor, a mãe fazia chapéu de palha para vender no armazém. Eles também sobreviviam do ouro, que fez parte da história de Paracatu.

A mãe de Valdete faleceu faz um ano, mas costumava dizer para os turistas que os visitavam: “Sapateia minha gente, aproveita a mocidade. Quando a velhice chega, só traz saudade”. Para ela, contar a história da comunidade quilombola é aprender também com quem os visita. “Quem vem aqui buscar, também traz mensagem, porque quando passamos aprendizado, a gente também aprende”.

A Kinross é parceira do quilombo, auxiliando em projetos para capacitação e geração de renda para a comunidade. A fábrica de biscoitos é um desses projetos, onde através da cozinha, das receitas de vó passadas de geração em geração, acontece o empoderamento de mulheres do quilombo. A matriarca Irene, responsável pela fábrica, conta sobre o hábito de ensinar as meninas a cozinhar, que foi transformado nesse projeto junto com o Integrar em 2013. A fábrica foi inaugurada em setembro de 2016 e dentre os quitutes que lá são produzidos estão o bolo zumbi (uma receita do tempo dos escravos, que leva rapadura, cravo, canela e fubá torrado); mané pelado (bolo de mandioca); pão de batata; nhoque ou rosquinha gaúcha; e claro, o pão de queijo.

O quintal de Angela

Fazendo parte do patrimônio imaterial da cidade, o quintal de Angela Resende, uma das quitandeiras da cidade, é um produto de turismo. No quintal de sua casa, são realizados eventos culturais turísticos e gastronômicos, além de ter comemorações de aniversário, chá de bebê e outros.

O quintal tenta ser o mais sustentável possível. De lá é retirado tudo o que se produz para os cafés, como o coco, a pitaya e a manga. Angela acredita na cozinha afetiva, então considera seu quintal como um quintal de vó.

“O mineiro gosta de comida na mesa, e uma mesa farta”, brinca. Dentre os quitutes que Angela oferece, estão a queijada, a desmamada (comida que as negras escravizadas davam para seus recém nascidos, já que o leite era destinado para os filhos dos senhores); pão de queijo com carne seca; e mané pelado (com abacaxi e tradicional). Dona Angela conta com a ajuda de sua nora, Bruna Golçalves, para preparar os quitutes.

Dona Angela tem 28 anos de quitandeira, e passou quase dois anos sem receber ninguém. “Para a gente foi difícil, estamos voltando aos poucos a abrir”, comenta. Segundo ela, há uma demanda grande vinda de Brasília para visitar seu quintal.

Painel interativo de presente para a cidade

Para marcar o aniversário do município, a artista plástica Janaína Campos junto da Kinross, preparou o maior painel interativo de arte de Minas Gerais. São 30 painéis com temas que levam trechos do hino de Paracatu, ciclo do ouro, tropeiros, mulata fidalga, largo do rosário, culinária, quitandeiras, folia de reis, careta, etc. Foram 50 dias para a obra ficar completa. Para Janaína, uma das coisas mais legais no painel é o desenho da casa de cultura e da paróquia Nossa Senhora do Rosário, pois é “muito a cara da cidade”, de acordo com a artista.

A artista plástica tem uma carreira de mais de 30 anos, com muitas vertentes e estilos. Fora o painel, na cidade podem ser encontrados mais 18 murais criados por ela. “Gosto do muralismo, porque é a arte à disposição de todos, com uma infinidade de experiências”, comenta.

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