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Brasília

Um jornal construído por grandes profissionais

Jornalistas consagrados que passaram por nossa redação relembram momentos inesquecíveis de um veículo que se tornou símbolo da capital federal

Redação Jornal de Brasília

07/12/2022 0h35

Gabriel de Sousa
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Ao longo destes 50 anos, o Jornal de Brasília contou com a dedicação de grandes jornalistas para conseguir trazer a melhor informação ao leitor da capital federal. O nosso veículo se orgulha também de ter sido essencial para a construção de grandes carreiras no jornalismo brasileiro, e acredita que o nosso prestígio se deve, acima de tudo, ao trabalho dos colaboradores, sejam eles os já consagrados na profissão ou os que começam a trilhar o reconhecimento na carreira.

Para conseguir consolidar a nossa confiança perante os leitores, os profissionais relataram com maestria os acontecimentos que viveram e marcaram Brasília e o país neste meio século. Onde a atenção era necessária, os nossos repórteres sempre estiveram presentes para apurar, noticiar e apresentar os fatos com credibilidade ao público da capital.

Graças a essa preocupação constante em fazer bom jornalismo, que sempre foi o norteador das diferentes gerações de profissionais que passaram pela redação, o JBr coleciona diversas honrarias que são motivo de orgulho para todos nós. Uma delas foi o Prêmio Engenho de Comunicação, na categoria de melhor jornal impresso, vencido em 2013. No ano seguinte, o Prêmio PaulOOctávio de Jornalismo reconheceu o bom trabalho dos nossos colaboradores em três categorias.

Além do Prêmio Esso de Fotografia conquistado em 1985 com a foto “Circo no Congresso”, citado na edição especial de ontem, o jornal também venceu dois Prêmios Esso de Jornalismo, que hoje é conhecido como Prêmio ExxonMobil de Jornalismo, sendo prestigiado por ser a mais importante distinção conferida aos profissionais de imprensa do país. A primeira conquista, em 1975, três anos após a nossa inauguração, foi a primeira a ser entregue a um veículo fora do Eixo Rio-São Paulo, e condecorou a linha editorial inovadora que foi adotada já naquela época, com as minúcias da política para perto do leitor. O segundo Prêmio Esso foi vencido pelo jornalista André Gustavo Stumpf, autor de uma série de reportagens que contaram os pormenores da sucessão presidencial entre o presidente Ernesto Geisel e João Baptista Figueiredo em 1978, durante a ditadura militar.

A cobertura rendeu o livro “A segunda guerra: Sucessão de Geisel”, escrito em parceria com o colega Merval Pereira, do O Globo, que detalha mais o trabalho feito pelos repórteres. Stumpf, hoje com 76 anos, tem a série de reportagens como um dos maiores orgulhos de sua carreira premiada, e relembra com carinho os tempos vividos como colaborador do Jornal de Brasília. “Foi um período muito bom para mim, gostei demais, muito legal. Fiz amigos para toda a vida, desde aquela época até hoje”.
“Nós éramos jovens. Os jornais brasileiros grandões estavam saindo da censura, e como tínhamos acesso direto aos generais lá da Presidência da República, sabíamos os limites de até onde podíamos ir. Tinha o lado do pessoal que queria a redemocratização e incentivava a gente, queriam que eu fosse mais fundo, porque desmanchava o pessoal da direita. Foi muito gostoso”, relembra o jornalista.

Stumpf entrou no Jornal de Brasília em 1976, quando foi convidado para assumir a direção da redação. Segundo ele, a sua equipe de jornalistas era de ótima qualidade, o que permitiu que a produção estivesse no mesmo nível de outros veículos mais conceituados e antigos. “Tivemos a ideia na época de fazer o jornal mais bem informado em política brasileira, além de também uma boa cobertura de política externa e de economia”, conta.

Outro orgulho de Stumpf é o reconhecimento popular que dura até os dias atuais. Mesmo estando fora do JBr há tanto tempo e ter trabalhado em outros órgãos, o jornalista conta que ainda é lembrado pelo seu papel na cobertura política feita no passado. “Até hoje, o pessoal que está na faixa dos 70 anos e tal, me reconhece como André do Jornal de Brasília, porque tem um pessoal que se lembra das coisas que a gente fez”, afirma.

Stumpf coleciona histórias que viveu durante o seu período de trabalho no jornal. Uma delas é lembrada com humor pelo profissional, mas foi um dos momentos mais tensos nos 50 anos de história da nossa redação.

Na segunda metade da década de 1970, em meio à censura e a repressão do regime militar, confrontar o governo não era uma boa ideia a ser adotada pelos jornais. Quando os militares começaram a promover a abertura política que deu origem à Nova República, Stumpf lembra que recebeu panfletos que atacavam as personalidades da oposição ao regime. Após conversar com a equipe, o JBr decidiu publicar panfletos obtidos pela redação que estavam carimbados como “secretos”.

Uma semana após a divulgação, um homem misterioso ligou para a redação e deu um aviso: havia uma bomba plantada em um carro do jornal, e ela poderia explodir a qualquer momento. Uma secretária, desconfiada de que se tratava de um trote, desligava o telefone repetidamente. Insatisfeito, o interlocutor pediu para falar com um dos jornalistas, até que a real gravidade da situação foi percebida por todos.

“O cara ligou umas quatro, cinco vezes e ela desligava o telefone. Até que ele pediu para falar com alguém, dizendo que tinha uma bomba e que queriam explodir aquele jornal. Aí vimos que tinha mesmo, e chamamos a Polícia Federal. Colocaram a kombi no meio do pátio e atiraram nela até a bomba explodir”, conta o ex-diretor de redação.

UMA ESCOLA DE JORNALISMO

O Jornal de Brasília também é conhecido entre os jornalistas por sempre ter sido um “jornal escola” para estudantes e jovens repórteres que procuram adquirir experiência no início da carreira. Na busca do conhecimento prático do dia a dia que só a vivência na redação pode oferecer, profissionais de renome tiveram grandes ensinamentos de editores e outros colegas que se tornaram essenciais para a construção de seus currículos.

Uma das grandes jornalistas que passaram pelo JBr foi Helena Chagas, que trilhou sua carreira no O Globo, Agência Brasil, SBT e TV Brasil, além de ter exercido a função de ministra-chefe da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República no goverto Dilma Rousseff. Reconhecida pelo seu trabalho na cobertura política, foi no no jornal que ela, com apenas 18 anos, fez sua primeira matéria no Congresso Nacional.

“No começo, eu fiquei um pouco assustada, eu não queria ir, queria ficar cobrindo Cidades mesmo, mas depois eu vejo que foi uma oportunidade excepcional para eu entender a política, além de conversar com políticos e jornalistas mais experientes do que eu”, relembra a filha do consagrado jornalista Carlos Chagas.

Helena conta que um dos momentos mais marcantes de seu período como estagiária no JBr foi o seu contato com o hoje lendário repórter Jorge Bastos Moreno, que a auxiliou durante as suas primeiras experiências na cobertura política. O momento para adquirir aprendizado não poderia ser melhor: era o período da abertura política, onde novos políticos e lideranças estavam surgindo no país. “Me lembro de uma vez que estava datilografando e escrevi ‘Partido Trabalhista’, e aí o Moreno me disse ‘Não, não, o nome do partido do Lula vai ser Partido dos Trabalhadores’. Eu nunca me esqueci disso”, conta.

Perguntada sobre a importância do veículo na sua trajetória, Helena Chagas destaca que foi no JBr onde aprendeu a cobrir política, possibilitando o sucesso posterior que a sua carreira conquistou. “Eu devo isso a eles. O jornal tinha uma possibilidade de ser um laboratório de criatividade, onde os editores podiam inventar. Me lembro que era um jornal que dava espaço para as pessoas darem a sua opinião e exercitarem essa criatividade”, conclui a jornalista.

FOCO NO INTERESSE DA POPULAÇÃO

Para o colunista Eduardo Brito, que atualmente comanda o Alto da Torre e já foi editor-chefe no final dos anos 90, o sucesso do JBr foi motivado pela implementação, desde seu início, de um rigoroso modelo de qualidade que buscou trazer apurações precisas ao longo de sua história. “O Jornal de Brasília foi fundado na época em que se passou a valorizar intensamente o jornalismo investigativo, em especial nas áreas política e econômica, dentro de um processo mundial, a partir de investigações de grande impacto, como o caso Watergate”, lembra. Muitos sonhavam com um Washington Post brasileiro. “Foi um período muito interessante porque se valorizou o bom jornalismo, o jornalismo investigativo e a precisão jornalística. Você tinha um novo padrão de qualidade, e o Jornal de Brasília veio com tudo nisso”, diz.

Além desse primeiro fator, Brito observa que a procura de uma originalidade das pautas, isto é, buscar aquilo que ainda não foi explorado pelos outros veículos, trouxe uma marca especial para o jornal. Somado a uma edição criteriosa, que está atenta ao surgimento de informações duvidosas, esta é a receita perfeita para o bom jornalismo praticado pelo periódico.

Brito destaca que, na sua época como editor-chefe, teve o prazer de contar com uma equipe de jornalistas que trouxe uma maior capacidade para cobrir os acontecimentos que aconteciam no DF e no país. Paulista de nascença, ele acredita que Brasília é a melhor cidade para se trabalhar com a informação, tanto pela oportunidade de se achar profissionais talentosos, como também por conta da facilidade de se chegar até as fontes tão necessárias a um repórter.

“Sempre você teve profissionais de muita competência por aqui, além de que os veículos sempre investiram por aqui pelo peso das decisões nacionais. [..] Eu me considero brasiliense de todo jeito. A cidade é maravilhosa sob todos os aspectos. É como você trabalhar dentro de uma imensa obra de arte, com gente que faz parte dessa obra de arte”, diz o jornalista.

Quando editor-chefe, dentro do esforço para manter a cobertura de alto nível, Eduardo Brito viveu um processo importantíssimo, a informatização da redação. Esse período trouxe ainda momentos interessantes, quando o jornal decidiu apostar mais nas coberturas de interesse do público local, como a economia pessoal, aproximando ainda mais os conteúdos da população brasiliense.

O colunista de política relembra quando uma capa de edição destacou uma matéria despretensiosa, mas voltada para o grande público. Seu título era “Limpe o seu nome na praça”. Foi um grande sucesso, esgotando o jornal nos pontos de distribuição, gerando uma reflexão para o jornalista: “Estourou em vendas, você não achava mais o JBr em nenhuma banca de jornal. Era algo muito a ver com a economia local e com aquilo com que as pessoas estavam se preocupando no momento, demonstrando que o verdadeiro jornalismo deve atender às demandas imediatas da população”.

UMA NOVA OPÇÃO PARA OS LEITORES

Outro jornalista premiado que passou pela redação foi Andrei Meireles, vencedor de dois Prêmios Esso e três Prêmios Embratel. Na sua primeira passagem, Andrei fez parte da primeira equipe de repórteres do Jornal de Brasília, produzindo reportagens antes mesmo do lançamento da primeira edição em 1972.

Segundo ele, a fundação de um novo veículo de informação na capital federal era necessária para trazer uma nova opção para os leitores. “O Jornal de Brasília, por ter começado pequeno, abriu o espaço para uma discussão com novos olhares, dando uma sacudida com uma nova concorrência”, explica.

Segundo Meireles, um dos melhores momentos vividos pelo veículo aconteceu justamente na segunda metade da década de 1970, quando o JBr foi agraciado pelos seus dois Prêmios Esso. Naquele período, o ex-presidente dos Estados Unidos, Richard Nixon, renunciou ao seu cargo devido ao intenso trabalho de dois jornalistas do Washington Post,
que trouxeram à tona o escândalo Watergate.

O acontecimento impulsionou a ideia de se fortalecer o jornalismo político das capitais de países mundo afora. Aqui no Brasil não seria diferente, e coube ao então editor Luiz Gutemberg transformar totalmente o Jornal de Brasília no Washington Post brasileiro”, o que rendeu bons frutos de renda e de crítica.

Para fazer com que este projeto ambicioso desse certo, era necessário enfrentar a censura imposta pela ditadura militar. Meireles relembra que a redação adotou um método de publicar os assuntos que eram proibidos pelos censores. Os conteúdos que os jornalistas sabiam que não podiam publicar, o jornal dizia que as informações vinham de fontes do Rio de Janeiro. “Nisso, o Jornal de Brasília divulgava e depois outros jornais vinham. Começou a se desmanchar, reduzir e derrubar a censura por ali”, destaca Andrei Meireles.

Em outra passagem, Meireles trabalhou no JBr durante 12 anos, entre 1983 e 1995. Neste intervalo, o jornalista se lembra com carinho de quando conseguiu dar um furo de reportagem que se mostrou ser um dos momentos mais importantes da política brasileira. Em 1993, o deputado Miro Teixeira, fonte do repórter, foi o primeiro a saber que Fernando Henrique Cardoso seria o novo ministro da Fazenda do então presidente Itamar Franco. Durante o seu período ministerial, FHC comandou a implementação do Plano Real e foi eleito presidente em 1994 e reeleito em 1998.

“Eu dei o furo da escolha do Fernando Henrique, foi um negócio muito maluco porque o jornal já estava fechado. Quando o Miro Teixeira conversou com o Fernando Henrique, que estava em Nova Iorque, ele disse que o Itamar o tinha convidado para ser o novo ministro da Fazenda. Aí eu reabri o jornal, eu fiz aquela coisa que os jornalistas dizem: Parem as máquinas!”, brinca o jornalista.

Amanhã, os articulistas e os que adoram escrever para a sessão “Cartas do Leitor”

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