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Brasília

Há 50 anos, Brasília era presenteada com um jornal inovador

No dia 10 de dezembro de 1972 chegava às bancas do DF a primeira edição do Jornal de Brasília

Redação Jornal de Brasília

05/12/2022 12h00

Gabriel de Sousa
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Há meio século, no dia 10 de dezembro de 1972, nascia, motivado por um sonho inovador, um jornal empenhado em fornecer, com qualidade e credibilidade, informações sobre os acontecimentos do Brasil, do mundo e, sobretudo, da capital da República. Ao longo destes 50 anos, o JBr, como logo passou a ser carinhosamente conhecido, acompanhou o crescimento da nossa cidade, sendo ativo na construção do pensamento crítico dos cidadãos brasilienses.

Naquele dia, os moradores do Distrito Federal viram ampliada a oportunidade de ter acesso a tudo o que acontecia ao seu redor, graças ao trabalho apaixonado de várias gerações de repórteres e editores que se impuseram o desafio de informar um público já exigente e ávido por um bom jornalismo.

A ideia de se criar um novo jornal para Brasília surgiu em 1969, quando a cidade não havia sequer completado uma década de inauguração. O projeto do Jornal de Brasília saiu do papel graças à ambição do jornalista e político Jaime Câmara, que, junto com uma equipe de comunicadores e empresários, idealizaram a criação de um veículo que deveria ter uma vinculação forte com a comunidade.

Nascido em 1909 no interior do Rio Grande do Norte, Jaime Câmara foi, ainda jovem, tentar a vida no estado de Goiás. Pioneiro por vocação, ele participou ativamente da inauguração de Goiânia em 1935 e criou o jornal O Popular, até hoje o mais influente da imprensa goiana. Com a construção da capital, Câmara decidiu fundar um novo veículo impresso para a sua população, que até então só contava com o Correio Braziliense.

O Jornal de Brasília chegou com o objetivo de ser um integrante ativo da formação da capital federal. O desejo dos idealizadores era criar um veículo que tivesse grande conexão com a cidade e, ao mesmo, tempo ajudar a incentivar o espírito de nacionalidade dos cidadãos aqui residentes.

Moradores queriam um novo jornal

Para criar este afeto junto aos moradores, era necessário redefinir o que se pensava sobre um veículo jornalístico. De acordo com os seus criadores, o novo jornal não deveria se resumir a notícias, fotografias, comentários e anúncios, e nem mesmo a máquinas, papéis e tintas. Antes de tudo, era necessário se dedicar à defesa da liberdade e do desenvolvimento do país.

Cativar os moradores de Brasília por meio da informação era realmente um grande desafio. Conhecidos por serem exigentes com os conteúdos jornalísticos, os brasilienses não só desejavam saber mais do que acontecia no poder que os avizinhava, como também exigiam ter mais contato com as principais novidades das outras cidades que compõem o Distrito Federal.

Os três pilares fundamentais do nascente jornal foram a democracia, o desenvolvimento e a segurança. Estes preceitos representavam o esplendor de Brasília e toda a sua importância para a evolução política e econômica da nação. Por isso, era necessário construir um jornalismo de qualidade e credibilidade.

Uma das principais inspirações para a criação de mais um jornal em Brasília veio após uma pesquisa popular realizada naquela época, que atestou a necessidade do surgimento de um novo “companheiro” no dia-a-dia dos moradores: 82% dos brasilienses achavam que a vinda do JBr era “absolutamente necessária”.

A vontade popular foi atendida e, após dois anos de planejamento, a sede do Jornal de Brasília foi inaugurada em uma área que, na época, foi considerada a maior de toda a região Centro-Oeste para um jornal impresso. Apostando na garra e no poder de renovação dos jovens jornalistas que viviam na cidade, 90% da nossa primeira redação foi formada por estudantes de comunicação, política considerada inovadora à época.

O comando do jornal foi composto pelos diretores Wagner de Goes e Jaime Câmara Junior. O corpo de repórteres contava com jornalistas e fotógrafos que se destacavam pela competência e profissionalismo, como Gildete Rocha, Carlos Zarur, Egnaldo Araújo, Pedro Antônio e Salomon Cyrtvnowicz.

A cerimônia de inauguração da sede do JBr aconteceu no dia 7 de dezembro de 1972, três dias antes da circulação da sua primeira edição diária (foto). A data ficou marcada na história da capital por conta do grande comparecimento de autoridades e diplomatas no prédio que seria a primeira redação do jornal, localizada no Setor de Indústrias Gráficas (SIG), bairro onde o jornal funciona até hoje, mas em outro endereço próximo.

Quem cortou a fita simbólica do prédio da redação foi o então governador de Goiás, Leonino Caiado, que sagrou a estreia do JBr junto com os convidados, a direção e a primeira equipe de colaboradores do jornal. Compareceram à cerimônia ministros, senadores, deputados, diplomatas internacionais e também nomes de destaque do jornalismo nacional.
Todos tiveram a oportunidade de presenciar o nascimento do Jornal de Brasília, que 50 anos depois daquele 10 de dezembro de 1972 mantém seu compromisso histórico de estar a serviço de quem realmente importa – o leitor .

Um dia de festa e de surpresas

Logo após desatada a fita de inauguração, o prédio do Jornal de Brasília recebeu a bênção do arcebispo Dom José Newton de Almeida, na época a autoridade máxima da fé católica em Brasília. A ação religiosa destacava a importância daquela data para a cidade, já que, em 1960, o eclesiástico também havia abençoado a capital federal no dia da sua inauguração.

Após terem a oportunidade de vislumbrar as modernas máquinas que produziriam as nossas edições impressas, os convidados conheceram mais dos ideais do novo projeto. Os primeiros repórteres foram intensamente abordados por colegas e diplomatas que buscavam conhecer mais sobre o projeto do que seria um dos jornais mais respeitados do país.

Como era previsível, aquela inauguração não foi um dia de descanso para os funcionários. Assim que se encerrou a cerimônia de inauguração da sede do jornal, repórteres e editores retornaram à redação para dar continuidade aos preparativos da edição que chegaria às bancas no dia 10 (foto).

Um dos presentes naquele histórico dia, no meio de grandes autoridades e políticos da nascente capital, foi o então jovem repórter Andrei Meireles, com apenas 20 anos na época. Estudante de jornalismo na Universidade de Brasília (UnB), ele fez parte da equipe da redação que produziu as primeiras edições diárias. Com mais de cinco décadas de uma prestigiada carreira, Meireles conta que se lembra bem de como toda essa história teve início.

Durante o batismo do JBr, o jornalista conheceu figuras que faziam parte dos altos setores da sociedade brasiliense e nacional. Segundo ele, o tamanho do prédio onde funcionaria a redação impressionava todos os convidados. “Foi um festão. Veio toda a família Câmara, o velho Jaime Câmara, o Júlio Câmara, tinha muito político. Foi bem animado. O Jornal de Brasília começou dentro de um prédio que, na época, era uma coisa fantástica”, relembra Meireles.

Outra lembrança do repórter foi de quando viu o parque gráfico do jornal pela primeira vez. No dia da inauguração, aliás, o personagem de destaque não era um político ou um diplomata de renome, e sim a impressora Cottrell-845, que tinha um funcionamento totalmente eletrônico, algo revolucionário para a época e único na capital do país.

“O parque gráfico era uma coisa impressionante, era tudo moderno. O diretor de tudo que cuidava disso aí era o Wilson Pedrosa. Quem veio para cá viu que era uma coisa grandiosa. O que impressionava também era a camaradagem dos jornalistas. Tinha até uma cozinha, era uma festa tudo isso aí”, conta o jornalista.

Aprendizado que se leva para a vida

Foi no Jornal de Brasília onde Andrei Meireles teve as suas primeiras experiências práticas da vida de jornalista. Ele começou a carreira como repórter policial, uma das editorias que mais atraíam e ainda atraem os leitores brasilienses. Sem internet, ele precisava cruzar diariamente as ruas do Distrito Federal em busca de notícias que pudessem garantir informações de qualidade para os primeiros leitores do veículo.

Para Meireles, essa vivência foi determinante para a sua prestigiada carreira como jornalista político, reconhecida com diversos prêmios que o destacaram como um dos mais dedicados, talentosos e bem informados profissionais da imprensa brasileira.

“O caminho profissional de um repórter, quando você ia estagiar nestes jornais, era começando na área de polícia. Você ia para a delegacia levantar casos porque isso te facilitava a virar repórter e de saber perguntar. Foi um período muito legal”, destaca.

A fim de tornar a primeira equipe de redação pronta para lidar com as notícias urgentes que surgissem, os editores criaram uma forma diferente de treinar os jornalistas. Antes da primeira edição entrar em circulação, os repórteres tiveram que escrever matérias sobre acontecimentos fictícios que teriam acontecido em Brasília.

“A minha primeira matéria que fiz foi uma fictícia. Chegaram até mim e outros repórteres e falaram: ‘Imaginem um acidente na W3 Norte e escrevam sobre isso”, conta Andrei Meireles, ao se lembrar com nostalgia do seu início de carreira no JBr.

Amanhã, reportagens que marcaram a trajetória do Jornal de Brasília

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