Menu
Brasília

Tradição junina atrai clientes ao comércio

No Setor Taguacenter, lojistas percebem aumento na busca por itens típicos das festas dos santos católicos populares

Vítor Mendonça

08/06/2021 0h10

Apesar das tradicionais Festas Juninas serem atrapalhadas pela pandemia da covid-19, a celebração não vai passar despercebida no Distrito Federal. No Setor Taguacenter, lojistas e consumidores começaram a vender e comprar itens típicos das festividades, o que pode ajudar no reaquecimento econômico do comércio local após os prejuízos causados durante a crise.

Na loja Dr. Palhaço, por exemplo, pequenos chapéus, vestidos e outros acessórios decorativos são procurados principalmente por quem pensa em fazer uma festa familiar ou por docentes de escolas, que planejam, mesmo on-line ou com restrições, enfeitar o ambiente escolar com o tema típico desta época do ano. É o que conta a proprietária da loja, Fabiana Luíza.

“As pessoas estão procurando aquelas coisas mais básicas, como bandeirolas e outros enfeites de chapéu e tiarinhas. Coisas mais simples mesmo”, afirmou a comerciante, que administra a loja há três anos. Em comparação com o período junino sem pandemia, as vendas estão muito mais baixas. “É outro tipo de venda, que começava em maio e seguia até agosto. A procura era bem maior”, pontuou.

Apesar da redução no consumo desse tipo de item típico, Fabiana acredita que ainda consegue fazer boas vendas. “Mas eu acho que [o movimento] até que está bom pelo momento de não poder reunir pessoas e aglomerar. As pessoas ainda estão fazendo as comemorações de maneira mais simples em casa. Mas a melhora mesmo só vai acontecer quando liberarem as festas”, destacou.

Fabiana tem visto o movimento aumentar por professores que desejam lembrar da data, nem que seja com uma festa on-line entre os estudantes. “É importante que as pessoas não deixem de comemorar [em família], mesmo com toda essa crise da pandemia. Essa alegria dá para ser vivida com as pessoas que a gente ama. É uma questão de se adaptar ao momento”, finalizou.

Na Confecções Yamaguti LTDA, há 40 anos no Setor Taguacenter, a proprietária Beatriz Bernardes Yamaguti, de 70 anos, está reaproveitando o estoque do ano passado para fazer as vendas deste ano, de vestidos e acessórios típicos das festas, com panos coloridos e estampados. “Ano passado a população estava mais temente e não saindo tanto na rua no mês de junho. Agora as pessoas têm saído mais. Esse ano as vendas estão um pouco maiores que em 2020, mas não passa de 30% a mais”, disse.

“A Festa Junina é tradição na minha loja. Vendo todos os anos, mesmo na crise. Agora na pandemia, o pessoal compra para fazer festas em família, fotos de crianças, e algumas escolas também vêm”, destacou. “Já tivemos 20 lojas fechadas em algumas crises, mas eu sobrevivi. Tenho os pés no chão e, se estou vendendo pouco, compro pouco. Não deixo a firma endividar.” Atualmente, no geral, a venda tem sido 50% a mais que no ano passado.

Até o momento, por mais que seja sua festividade preferida e que sinta falta da celebração, Beatriz ainda não pretende festejar com os netos na chácara que possui, mas pensa na possibilidade. “Para começar, as roupas são todas muito bem feitas. Eu, mesmo nessa idade, costumo colocar uma camisa xadrez, ou até um vestido, com um chapeuzinho ou uma tiara. É a festa que eu amo”, relatou.

Ajuda das redes sociais

As danças que têm se popularizado nas redes sociais atualmente têm incentivado a venda das roupas temáticas. Boa parte dos compradores, segundo Beatriz, também são de famílias que querem comemorar os aniversários dos filhos de idade entre 0 e 2 anos. As fotos, pensadas na temática junina para a publicação em redes sociais e para recordação posterior dos filhos, ajudam a comerciante a ter mais itens vendidos durante o mês junino.

O casal Deivid Rocha, 33, e Graciete Costa, 33, pais da pequena Sofia Liz, de apenas 3 meses, decidiram comprar um vestido junino colorido para celebrar o “mêsversário” da filha, celebrado no último domingo (6). A ideia é produzir uma foto com a temática do período para publicar nas redes sociais e divulgar para a família o crescimento da bebê.

“Vimos ideias na Internet de como fazer uma foto com roupinha de festa junina, e já sabíamos que o [Setor] Taguacenter era o lugar. Não tem outro lugar para comprar essas roupas de fantasia e com temática”, contou Deivid. Em casa, juntamente com os outros quatro filhos – dois dele e dois dela. “Vamos fazer um arraial somente com a família mesmo. Vamos tentando mudar e diversificar um pouco para não ficar na monotonia em casa”, complementou.

Para ele, a maior falta nesse período é a reunião com o restante da família, que diz ser grande e sempre muito entusiasmada com a festa junina. Criado em escolas com apresentações de quadrilha, ele conta que dançou na época festividade desde o ensino infantil até o último ano do ensino médio. Em Ceilândia, neste ano, a dança será feita em casa.

Busca por kits

De acordo com o vice-presidente do Sindicato do Comércio Varejista do Distrito Federal (Sindivarejista), Sebastião Abritta, a estimativa de crescimento neste mês de junho com a venda de itens específicos da festa junina gira em torno de 2% em relação ao ano passado. Em 2020, porém, a queda nas vendas foi de 43%, conforme explicou o especialista à reportagem – em 2019, antes da pandemia, este mercado havia crescido em 20%.

“Neste ano as pessoas estão em busca de kits com bandeirolas, chapéus de palha, toalha para mesa, além das comidas típicas, para fazer festas mais reservadas. Como não se pode fazer aglomerações, as comemorações vão ser a nível familiar e virtual. E a venda acontece tanto no e-commerce quanto nas lojas físicas, que já estão com a decoração da festa”, explicou Abritta.

A representante de laboratórios Erika Pereira Marinho, de 40 anos, também esteve no Setor Taguacenter em busca dos kits citados por Abritta, a fim de diferenciar os produtos de dermatologia que vende. “Quero algo que possa destacar o meu produto junto com a data comemorativa da festa junina, tanto nos consultórios médicos quanto nas farmácias”, pontuou a consumidora. “Tento ser criativa para destacar junto com a alegria da festa.”

“Vejo que eles [clientes] se sentem acolhidos por ter um diferencial para promover o consultório ou o ponto de venda para possíveis clientes”, disse ainda. Além disso, ela também pretende rechear a cesta do kit com guloseimas típicas. Erika acredita que “pessoas curam pessoas” e que a aproximação, mesmo que à distância com os kits em cestas, é “essencial” para haver “humanidade” entre as pessoas.

Erika também sente falta da festividade e do contato humano proporcionado por ela. “Gosto muito da canjica, do feijão tropeiro, das comidas maravilhosas. A alegria das pessoas voltarem a ser crianças de novo, dançar aquelas músicas lindas – despertar a infância que existe em cada um”, comentou. Ela deve se encontrar com a família para celebrar a festa junina em casa.

SAIBA MAIS

  • A tradição da festa junina começou ainda em Portugal e Espanha – a chamada Península Ibérica.
  • Durante a colonização do Brasil pelo país português, os costumes religiosos presentes na Europa foram importados, sendo, desde o século XV, portanto, festejados.
  • Sempre no mês de junho, a prática remete aos dias de três santos católicos diferentes: Santo Antônio (13), São João (24), e São Pedro (29).

Veja a galeria:

    Você também pode gostar

    Assine nossa newsletter e
    mantenha-se bem informado