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Brasília

Servite demite vigilantes que são do grupo de risco

Funcionários denunciam ameaças e se dizem surpresos com as dispensas

Pedro Marra

27/07/2020 3h24

Cerca de 30 funcionários da Servite, empresa que terceiriza a contratação dos porteiros da Universidade de Brasília (UnB), foram demitidos na última quarta-feira (22), na Central de Segurança do Campus Darcy Ribeiro, sem justa causa. Eles tiveram que ir até o local — mesmo fazendo parte do grupo de risco do novo coronavírus — para assinar o aviso prévio, com a condição de receber a rescisão contratual em 30 dias.

Uma das ex-funcionárias, de 61 anos, conta que exercia a função desde 1994 na UnB, e que há quatro anos trabalhava para a Servite. “Me ligaram na quarta-feira dizendo que tinha de estar lá às 14h porque tinha chegado um papel para eu assinar. Eu achava que era para organizar mais um mês meu na empresa. Quando cheguei lá, me mandaram assinar, dizendo que a rescisão sai daqui a um mês com o seguro desemprego. Ainda escutei de um colega que estavam mandando embora o pessoal que foi afastado devido ao risco [de contágio da covid-19]”, detalha a agente de portaria, que preferiu não se identificar por medo de represália.

Outro porteiro demitido, de 67 anos, prestava serviço há dez na UnB, e diz não ter entendido a razão da dispensa. “Nunca dei motivos para isso. Eu esperava mais respeito ao nosso trabalho. Deveria haver um consenso, pois somos idosos e estamos sendo descartados. Isso é uma falta de respeito”, critica.

“Foi dito a outros que tudo vai ser pago em agosto. Vou aguardar, pois não sou de me precipitar”, pondera o ex-funcionário.

Ameaça de demissão

Mesmo após a primeira denúncia do Jornal de Brasília, no último dia 30 de junho, as perseguições e ameaças da empresa contra funcionários continuam a ocorrer. É o caso de uma agente de portaria do Campus Darcy Ribeiro, na Asa Norte. “Um funcionário chamado Ruanito, que é coordenador da Servite aqui na UnB, espalhou para o pessoal do ciclo dele que estava super indignado, querendo saber quem estava fazendo essas denúncias. Inclusive, falando para outros colegas que iria colocar gente dele para descobrir quem fazia isso. E que iria demitir se descobrisse quem foi. Entrei em desespero, porque ele fica perseguindo as pessoas nos postos de trabalho”, relata a mulher, sem querer se identificar.

Novas contratações

Representante da Central Sindical e Popular (CSP Conlutas-DF), Francisco Targino contesta a transparência da empresa. “É uma covardia da Servite em demitir os terceirizados do grupo de risco. Uma irresponsabilidade dos funcionários em não dizer do que se trata e depois demiti-los. Alguns já estavam próximo de se aposentarem. E a empresa também colocou em risco a saúde e vida desses trabalhadores ao fazê-los irem à UnB assinar avisos prévios em plena pandemia”, comenta.

Targino adianta que irá acionar a empresa novamente. “A CSP Conlutas fará uma nova denúncia no Ministério Público do Trabalho. Agora, sobre essas demissões dos porteiros do grupo de risco. Este ano, já registramos quatro petições no MPT sobre as irregularidades das empresas”, afirma o líder sindicalista.

O sindicalista acrescenta que outros porteiros terceirizados já foram contratados pela empresa. “Nesse mesmo período que demitiu os porteiros do grupo de risco, a Servite já está contratando mais de 20 novos porteiros”, denuncia.

Em nota, a UnB explicou que solicitou informações sobre o caso à empresa de portaria. “A Servite encaminhou à Universidade de Brasília um pedido de reequilíbrio econômico-financeiro em que afirma depender desse ajuste para manter a força de trabalho. Antes de analisar a solicitação, a Universidade pediu esclarecimentos e correções à Servite. A UnB empreenderá, com boa vontade, todos os esforços para chegar a bom termo com a empresa e, assim, evitar demissões. A Universidade não foi comunicada oficialmente sobre a entrega do aviso prévio aos funcionários. Tomamos conhecimento por intermédio de telefonema recebido do gabinete da deputada Érika Kokay e, agora, por meio da reportagem”, diz o texto da instituição.

Procurada pela reportagem, a Servite não se posicionou até o fechamento desta matéria.

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