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Brasília

Pandemia: Infectologista acha cedo para liberar máscaras

O uso obrigatório de máscara já havia sido liberado em ambientes abertos no DF no dia 4 deste mês

Redação Jornal de Brasília

10/03/2022 20h15

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Por Evellyn Luchetta e Luiz Cláudio Ferreira
Jornal de Brasília / Agência de Notícias do UniCEUB

A decisão de prefeituras e governos no país (entre eles do Distrito Federal) que libera as pessoas da obrigação de usar máscaras em lugares fechados é inadequada, segundo a médica Margareth Dalcomo, uma das principais pesquisadoras sobre a covid-19 no Brasil.

“Essa é uma decisão que mais atrapalha que ajuda. Neste momento da pandemia, enquanto nós ainda temos um número de mortes de algumas centenas por dia, é precoce a suspensão da recomendação do uso de máscara em ambientes fechados”, afirmou em entrevista ao Jornal de Brasília / Agência UniCEUB.

No Distrito Federal, a decisão foi anunciada nesta quinta (10), pelo governador Ibaneis Rocha (MDB). O uso obrigatório de máscara já havia sido liberado em ambientes abertos no DF no dia 4 deste mês. A rotina de se manter com a proteção no rosto passa a ser facultativa.

A médica Margareth Dalcomo é professora e pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Referência mundial na pesquisa sobre doenças infecto contagiosas, a especialista afirma que a decisão foi tomada no momento errado. Segundo ela, a medida só deveria ser considerada quando a situação pandêmica do país fosse mais leve.

“Até que fosse feito, pelo menos, uma nova avaliação da taxa de transmissão. Até ela estar pelo menos perto de 0, o número de mortos abaixo de 50 e com um número baixo dos infectados com a variante circulante que, hoje é, a variante ômicron”, detalhou. No DF, a taxa de transmissão foi registrada em 0,60 nesta quarta-feira, 9.

Desproteção

Segundo Margareth Dalcomo, pessoas com máscara estarão protegidas ainda que estejam próximas de quem não usar o acessório. “Essas pessoas estarão correndo algum grau de risco e podem eventualmente se infectar. Temos que nos atentar para não causar relações de hostilidade, mas as pessoas têm que ter consciência de que a máscara ainda pode ser exigida”.

A médica exemplifica que ela exigirá máscara em seu consultório. “Eu, como médica, não vou permitir que nenhum paciente venha em alguma consulta comigo, ou algum acompanhante, sem máscara. Então, essa decisão foi deixada para o arbítrio de todo mundo, a recomendação que eu daria é que essa escolha fosse usada a favor do bem comum, e o bem comum é usar a máscara”, considera.

Para a pesquisadora, deixar o uso da máscara à decisão da população é perigoso. “Essa decisão cria confusão, ela deixa à consciência de qualquer um usar a máscara ou não, e isso não é bom. Está todo mundo cansado da pandemia, todo mundo traumatizado e, ter bom senso seria quase terapêutico neste momento. O bom senso diz que em ambientes fechados, é para manter máscara”, finaliza.

Gestão deve prestar esclarecimentos

Após a decisão do governo, o Ministério Público do DF e Territórios (MPDFT) requisitou que a Casa Civil do DF esclareça a medida. Isso porque houve uma manifestação técnica do Centro de Operações de Emergências em Saúde Pública (COE), que recomendou a manutenção do uso de máscara em ambientes fechados e que a liberação ocorresse apenas após a garantia de que a população pediátrica tenha a oportunidade de receber as duas doses da vacina contra covid. O MPDFT quer entender o porquê dessa recomendação ter sido ignorada.

Para isso, abriu um prazo de 10 dias para que a Casa Civil informe quais estudos técnicos embasaram a decisão do governo

O MP ainda alertou que ainda não foram realizados estudos epidemiológicos que elucidem os possíveis efeitos gerados após as festividades de carnaval e depois da flexibilização da utilização de máscaras em locais abertos, a partir do dia 3 de março, que podem impactar o cenário epidemiológico.

O governo também deverá dar informações a respeito da obrigação do uso e fornecimento de máscaras em estabelecimentos públicos, industriais, comerciais, bancários, rodoviários, metroviários e de transporte de passageiros nas modalidades pública e privada, isso porque ainda está em vigor a Lei Distrital nº 6.559, de 23 de abril de 2020, que obriga o uso do equipamento nesses locais.

“Eu não me sinto segura”

A estudante brasiliense Danielle Nunes, concorda com a médica. Segundo ela, apesar do decreto, não vai deixar de usar a máscara. “Eu não me sinto segura para isso, ainda mais se tratando de um ambiente fechado. Não acredito que seja o caso, ainda está muito recente, é prematura uma medida dessas. Agora que as coisas estão voltando a presencialidade”, conta.

Para Danielle, chega a ser confuso encontrar pessoas sem a máscara, tamanha a naturalidade com que o uso do objeto se adaptou em seu dia a dia. “Se eu chegasse na minha faculdade, por exemplo, e lá tivessem pessoas sem máscara, eu acharia estranho, incômodo, e não me sentiria segura no espaço”.

“Eu acredito na consciência das pessoas”

No DF, as opiniões são diversas. A estudante de publicidade Amanda Moreno, por exemplo, gostou da decisão do GDF de desautorizar o uso obrigatório das máscaras. Diferente de Danielle, a jovem já esperava ansiosa o anúncio. “Eu esperava por conta da autorização em outros estados. Isso me deu bastante da esperança sobre o fim da pandemia. Se o governo liberou, então nós já estamos seguros o bastante para isso acontecer. Estamos cada vez mais próximos do fim”, contou.

Apesar de ter gostado da novidade e de adotar o desuso da proteção em alguns momentos, Amanda não tem a intenção de deixar o objeto sempre de lado. “Eu não pretendo parar de usar em todos os ambientes. Vou continuar usando em lugares muito lotados como transporte público, elevador… Mas, ao ar livre, ou com determinada distância, acho ok parar. Somente em aglomerações que eu prefiro usar”.

Para ela, a certeza de que a adoção da medida será bem sucedida é a confiança no outro. “Eu acredito na consciência das pessoas que eu convivo, de usar a máscara sempre que estiverem com algum sintoma, seja do que for. Eu vou adotar isso para minha vida, é uma coisa que eu vou carregar sempre comigo, de usar a máscara diante de qualquer sintoma e proteger as pessoas ao meu redor”. 

Anúncio no DF

Em sua conta no Twitter, Ibaneis atribuiu a decisão à evolução da vacinação contra a doença. “A partir de hoje (10), o uso de máscaras deixa de ser obrigatório também em ambientes fechados no DF. O avanço na vacinação contra covid-19 e a queda no número de casos foram essenciais para a medida. Destaco que estamos abrindo mais leitos adulto e pediátrico”, disse o governador no comunicado.

Ainda no comunicado, Ibaneis chegou a dizer que usa quem quer. “É importante ressaltar que quem quiser continuar usando a máscara pode continuar. Não é obrigatória retirada da máscara, mas, sim, deixa de ser obrigatória a utilização. Chegou a hora de tentarmos voltar a ter uma vida normal. Continuem se prevenindo e não deixem de se vacinar!’, finalizou.

Pelo Brasil

Entre as administrações que, como no Distrito Federal, liberaram o uso de máscara em lugares fechados, estão os governos do Mato Grosso do Sul e a prefeitura do Rio de Janeiro.

Minas Gerais, por sua vez, deixou a decisão ao cargo dos prefeitos das cidades. Belo Horizonte, por exemplo, já desobrigou a medida.

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