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Brasília

Moradores reclamam de líquido estranho despejado próximo ao Melchior

Líquido escuro e com cheiro de esgoto escorre de usina do SLU até afluentes do rio que separa Samambaia e Ceilândia

Lucas Neiva

18/08/2021 5h00

Atualizada 17/08/2021 19h32

Foto: Lucas Neiva/ Jornal de Brasília

Chacareiros e moradores de Sol Nascente que vivem próximos ao rio Melchior perceberam o despejo de um estranho líquido despejado pela usina de compostagem do Serviço de Lixo Urbano (SLU) em direção aos córregos que deságuam no rio Melchior. Além da cor escura, o líquido apresenta um mau cheiro que aparenta o odor de esgoto.

A reportagem esteve no local e identificou o trajeto percorrido pelo líquido, que sai da usina e atravessa um percurso formado por manilhas expostas e declives escavados em direção aos afluentes da região. Em alguns pontos, acumula-se e forma poças, sem qualquer estrutura que impeça o líquido de contaminar o solo ao redor. Duas das poças localizadas estavam a menos de 500m da usina.

Newton Vieira, policial militar morador próximo da região e ativista ambiental que acompanha a situação da poluição no rio Melchior, conta que soube do despejo do líquido quando por meio dos chacareiros, que o procuraram pedindo ajuda para entender o que era esse líquido. “Os moradores nos alertaram que viam um líquido estranho escorrendo próximo das suas residências, mas não sabiam muito bem de onde ele vinha”, relata.

O ativista conta que recebeu o aviso dos moradores em julho, e desde então vem acompanhando o despejo do líquido, que em alguns dias escorre em grande quantidade e, em alguns dias, é interrompido. Diante da possibilidade de estar lidando com um crime ambiental, abriu boletim de ocorrência na Polícia Civil.

Foto: Lucas Neiva/ Jornal de Brasília

O ambientalista Alzirenio Carvalho, que também acompanha a evolução da poluição no Melchior, afirma que não há dúvida de que o líquido chegue até o rio. “Quando chove, o destino certo é o rio. Mas não é somente com a chuva que isso pode acontecer. Essa região é de precipício e rica em córregos e nascentes. Esses córregos vão até o rio Melchior”, explica.

Alzirenio alerta que o despejo de líquidos poluentes na região pode comprometer a fauna e a flora locais. “De imediato, ele contamina o solo, criando um foco de contaminação altíssima. Em seguida, vai até o rio, impactando a qualidade da água, que já está em péssimas condições”.

Contatados pela reportagem, a assessoria de comunicação do SLU informou que uma equipe foi enviada ao local para analisar a origem do líquido, que foi garantido não se tratar de chorume. A assessoria informa que o chorume produzido na usina não é despejado na mata, mas sim em piscinas de chorume, que no momento se encontram vazias.

Relembre o caso: um rio ameaçado de morte

O rio Melchior, que separa as cidades de Samambaia e Ceilândia, tornou-se alvo de preocupações por parte de moradores locais desde o início do ano, quando se percebeu uma grande quantidade de espuma com mau cheiro formando-se próxima às tubulações de tratamento de esgoto que desaguam no rio.

A situação se agravou quando, no último mês de maio, moradores encontraram um grande número de tartarugas mortas próximas às margens do rio, sem indícios de ferimentos nos animais. A poluição chamou a atenção de parte dos parlamentares na Câmara Legislativa do Distrito Federal, que no mesmo mês realizou uma audiência pública com órgãos de controle da região para debater as condições do rio.

Após a audiência, as condições do despejo de esgoto no Melchior foram estudadas pela Secretaria de Meio Ambiente, que, em despacho, concluiu que deve ser feito“tudo para que seja possível o lançamento no Rio Melchior de um efluente de melhor qualidade, mesmo o rio sendo classificado como Classe 4 e não tendo perspectiva de melhoras devido a sua baixa vazão (o volume de esgoto lançado é quase três vezes maior que a vazão do próprio rio)”.

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