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Brasília

Moradores do Arapoanga opinam sobre a criação de nova região administrativa

Em breve, o GDF deve enviar proposta de lei para que o bairro de Planaltina se torne uma nova região administrativa

Redação Jornal de Brasília

24/10/2022 17h30

Foto: Banco de imagens

Gabriel de Sousa
[email protected]

Em um futuro próximo, duas novas regiões administrativas podem surgir no mapa do Distrito Federal. O Governo do Distrito Federal (GDF) está preparando a elaboração de duas propostas de lei que buscam criar a RA de Água Quente, que hoje é um bairro do Recanto das Emas, e a RA do Arapoanga, que pertence à Planaltina.

A emancipação da última é um desejo antigo da sua população, que vê a criação de uma administração independente como uma alternativa para a melhoria da infraestrutura local, além da implementação de políticas públicas que possam atender os moradores com uma maior proximidade e atenção.

A ocupação do bairro do Arapoanga começou em 1992, quando uma grande porção privada de terras foram vendidas para moradores, sem uma aprovação prévia de projetos urbanísticos ou a emissão de uma licença ambiental, o que tornou a região irregular e com falta de infraestrutura básica. A regularização do bairro começou apenas 17 anos depois, no ano de 2009, e, até os dias atuais, o GDF busca normalizar a situação imobiliária de todos os seus habitantes.

De acordo com a edição de 2021 da Pesquisa Distrital de Amostra por Domicílios (PDAD), feita pela Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan), o Arapoanga possui 47.829 moradores. Em comparação, toda a RA de Planaltina possui 186.498 habitantes, o que indica que apenas o bairro corresponde a um quarto da população planaltinense.

Segundo a pesquisa, a renda média do trabalho principal dos moradores do Arapoanga é de R$ 1.680, enquanto que a renda domiciliar é de R$ 2.270. Os números são considerados baixos, já que os indicadores do DF, como um todo, apontam um rendimento individual de R$ 3.801, e de R$ 6.938 por domicílio.

A Codeplan também indicou que a maioria dos estudantes do bairro frequentam escolas que ficam distantes de sua casa, já que 34,5% precisam usar um ônibus, enquanto que 24,6% conseguem ir a pé. Dos jovens de 18 a 29 anos, 38,4% fazem parte do grupo “nem-nem”, ou seja, não estudam e nem trabalham.

O PDAD também apontou a existência de problemas de infraestrutura nas proximidades dos domicílios. 40,3% dos moradores responderam que havia entulho em suas calçadas, 6,4% relataram existência de esgotos a céu aberto, 30,5% informaram que as pistas costumam ficar alagadas em ocasiões de chuva e 5,2% disseram que as ruas próximas eram esburacadas.

Necessidades de novas obras

O funcionário rodoviário David Sotero, 20, nasceu e foi criado no bairro do Arapoanga, e lembra das melhorias que demoraram para chegar até a sua vizinhança. Segundo ele, a criação da nova região administrativa poderia ser uma forma de trazer desejos de longa data dos moradores, como um hospital próprio, uma escola de ensino médio e uma delegacia.

Além disso, o jovem conta que a criação de um terminal rodoviário é importante para o impulsionamento da região. A obra é um dos principais projetos do governador Ibaneis Rocha (MDB) para o seu novo mandato, que começa em janeiro. “Deveria ter um terminal rodoviário próprio para o Arapoanga. Como eu trabalho na garagem de Planaltina, metade da frota é praticamente para o Arapoanga, mas isso não é suficiente para garantir uma boa mobilidade para a população”, explica David.

Quando era pequeno, David conta que tinha vergonha de dizer que morava no Arapoanga para os seus colegas, preferindo dizer que residia perto do centro de Planaltina por “medo de ser julgado”. Ele conta que a emancipação da região traria um espírito de reconhecimento e orgulho da sua origem, fazendo com que a nova geração local não tenha o mesmo sentimento de inferioridade.

O funcionário rodoviário explica que uma das primeiras medidas que devem ser adotadas após a emancipação é a criação de postos de trabalhos locais, já que, de acordo com o morador, a maioria dos moradores precisam sair do bairro para os seus locais de trabalho. “Somos muitos dependentes ainda de Planaltina. Primeiro deveria ser trabalhada a geração de mais empregos no Arapoanga, porque a maioria dos empregos está em Planaltina, ora os que trabalham no Plano”, conta.

Mais segurança

O estudante Renan Matheus, 20, conta que uma das principais atenções do GDF com a nova região administrativa deveria ser o reforço da segurança pública. O jovem conta que já foi assaltado em oito ocasiões, sendo seis delas no Arapoanga. Segundo ele, o policiamento nas ruas acontece em raras oportunidades.

“As delegacias ficam todas em Planaltina, no centro. Não conheço nenhum posto militar no Arapoanga, não vejo viaturas periodicamente, quando vemos é algo raro. Acontece mais quando tem blitz em alguns pontos, mas também não tem uma regularidade”, explica Renan.

Para o morador, a criação da região administrativa faria muita diferença em regiões em que “não têm muita visibilidade do Estado e da administração regional”. Matheus mora no bairro do Quintas do Amanhecer II, que faz parte do Arapoanga e possui um contraste social quando comparado com outras partes da RA de Planaltina.

“A criação de uma RA, ajudaria na distribuição econômica e na utilização de recursos justamente para essas áreas onde são pouco vistas, onde falta asfalto, saneamento básico e ônibus. Acho que contribuiria para uma distribuição mais dinâmica desses recursos”, conta o estudante.

Melhorias no trânsito

A criação de postos de trabalho também deve ter uma atenção especial do GDF após a criação da região administrativa para a costureira Cleide Neves, 51, que possui uma loja de conserto de roupas no centro do bairro. “Eu espero sinceramente que melhore, principalmente na geração de emprego para o pessoal daqui. Se bem que pode colocar fábricas e fábricas, do jeito que tem muita gente nesse Arapoanga, acho que não dá para todo mundo”, explica a moradora.

Cleide mora no Arapoanga há apenas uma década, quando a região começou a ser regularizada pelo governo distrital. Nascida e criada no bairro da Vila Buritis, no centro de Planaltina, a costureira compara que as melhorias de infraestrutura que a cidade recebeu ao longo dos anos não chegaram até o seu bairro.

“Em vista do que eu vi do que já fizeram ali e também do que fizeram em outras cidades-satélites, no esquema de fazer tudo com corrimão, rampa, degrau, tudo direitinho e caprichado, seria bom a criação de uma nova cidade”, explica.

A loja de costura onde Cleide trabalha fica na rua principal do bairro, conhecida informalmente como “Avenida da Água de Coco”. A moradora a considera pequena para o tráfego dos carros e linhas de ônibus, que obrigatoriamente se locomovem por aquele caminho. Segundo ela, outras alternativas para a circulação dos automóveis deve ser uma prioridade para o GDF, a fim de tornar o trânsito mais eficiente na nova RA: “Quando isso daqui dá seis horas, seis e pouco, meio dia, engarrafa tudo”.

Parlamentares vão discutir a criação da RA

A proposta de lei para a criação da região administrativa do Arapoanga está sendo aguardada pelo presidente da Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF), o deputado Rafael Prudente (MDB/DF), onde, após enviada para a legislativo, será encaminhada o mais breve possível ao plenário. “É um pedido antigo da população”, afirma o parlamentar.

“Há um entendimento junto ao governo, e a expectativa é que os dois processos [junto ao da criação da RA de Água Quente] vão para o Conplan para serem aprovados; e, quando aprovados, a expectativa nossa é que dentro de dez dias eles estejam dentro da CLDF, e aqui vamos dar prioridade para votação”, explica Prudente.

Outros integrantes do GDF também demonstram uma positividade para o surgimento da RA do Arapoanga. Para o secretário de Cidades, Valmir Lemos, a criação da região administrativa “atenderá a um forte anseio da população local e tende a contribuir para o desenvolvimento integrado de toda região”.

Já o titular da Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Habitação do DF (Seduh/DF), Mateus Oliveira, destacou a importância da medida para os moradores que desejam ter uma maior proximidade do Estado: “A criação das regiões administrativas representa uma gestão pública mais eficiente e próxima da população”.

Já o governador reeleito Ibaneis Rocha (MDB/DF) afirmou ao longo da sua campanha eleitoral que irá se empenhar na criação da nova região administrativa, e relembrou as obras que estão sendo feitas no bairro. Além disso, o mandatário local destacou que o terminal rodoviário, desejo de moradores como David Sotero, sairá do papel em breve. “Para a rodoviária, já temos um projeto pronto, e o restaurante comunitário é uma prioridade. […] Nós temos feito obras no Arapoanga, seja de iluminação, seja de reforma do campo sintético.”, disse.

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