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Brasília

Mobilidade: ciclistas pedem sinalização e mais segurança na ciclovia da W4 Sul

Fiscalização ineficiente para autuar motoristas que estacionam em local proibido e bloqueiam os acessos à ciclovia, falta de conexão dos trechos e de sinalização são as principais cobranças

Afonso Ventania

04/12/2023 5h00

Atualizada 03/12/2023 22h36

Na capital federal que foi concebida para os carros é cada dia mais comum perceber a presença de ciclistas nas pistas e nas ciclovias de Brasília. Muitos brasilienses utilizam a bicicleta como meio de transporte, para o lazer ou para treinamentos. Com o investimento de pouco mais de R$ 27 milhões em ciclomobilidade desde 2019, o Distrito Federal já conta com 664, 77 km de ciclovias instaladas em 30 regiões administrativas e espera atender a demanda crescente pela mobilidade sustentável. O incentivo garantiu Brasília como a cidade brasileira com a segunda maior malha cicloviária, atrás apenas de São Paulo que tem 722, 1 km.

A estrutura das ciclovias, no entanto, tem gerado algumas críticas por parte dos usuários em relação à estrutura em algumas regiões do DF. A moradora da 713 Sul, Aline Pinheiro, optou pela bicicleta como modal de transporte há alguns anos. Ela, o marido e os dois filhos utilizam a “magrela” para o deslocamento urbano todos os dias. “Faço compras de bicicleta, os meus filhos vão para a escola pedalando e o meu marido vai para o trabalho. É um meio de transporte mais econômico e saudável”, diz. O bikerrepórter do Jornal de Brasília, Afonso Ventania, pedalou com Aline e o seu filho de 12 anos, Marcus Paulo Filho, no trecho entre a 709 e 713 e registrou algumas deficiências.

Entre elas, a falta de sinalização vertical e horizontal confunde pedestres que utilizam a ciclovia em vez da calçada que passa ao lado. “Queria entender o motivo de a ciclovia das 700s da Asa Sul não ser pintada e nem sinalizada com placas para diferenciá-la da calçada. Constantemente temos problemas com pedestres distraídos ou levando cães para passear na ciclovia. Alguns pensam que é calçada e ainda reclamam porque estamos de bicicleta”, conta.

Helena Alves costuma passear na ciclovia com o filho em um carrinho de bebê. “Não há marcação para mostrar que aqui é uma ciclovia. Tá deixando a desejar, mas, em termos de acessibilidade, caminhar aqui (na ciclovia) ainda está melhor do que na calçada. A verdade é que não temos muita opção”.

Ana Júlia Pinheiro, coordenadora de Comunicação da ONG Rodas da Paz, critica a ausência de política integrada na ciclomobilidade e atribui a falta de pintura e de sinalização ao planejamento ineficiente por parte do governo. Segundo ela, cabe aos administradores das regiões administrativas decidir onde ou não pode ser construída uma ciclovia. Para a jornalista, a decisão deveria partir de um colegiado, uma comissão integrada pelos órgãos competentes no setor de mobilidade. “Não dá para entender, porque existe conhecimento técnico na Secretaria de Mobilidade Urbana (Semob), por exemplo, para pintar e sinalizar as ciclovias. Há poucos engenheiros e arquitetos especializados na estrutura de governo, mas são muito qualificados”.

Outro problema verificado durante o pedal foi o estacionamento irregular por parte de alguns motoristas. Diversos carros estacionam em frente aos acessos à ciclovia e, assim, bloqueiam a passagem dos usuários de bicicleta. “A pior região é entre a 709 e a 710 Sul, próximo ao Hospital Naval, ao Hospital Alvorada e aos centros clínicos. Apesar de haver bolsões de estacionamento no meio das quadras, os motoristas preferem estacionar no início das ruas para não precisarem andar muito para fazer suas consultas”, lamenta Aline.

O acesso dos carros dos moradores das casas que precisam atravessar pela ciclovia para estacionar nas garagens também foi apontado como uma falha de planejamento pelos ciclistas que pedalam pela ciclovia da W4 Sul. “O peso dos carros acabam avariando a ciclovia e cria desníveis e rachaduras perigosas que põem em risco a integridade física de quem pedala. Além disso, já dei de cara com carros trafegando aleatoriamente em cima da ciclovia”, afirma Aline.

A estudante Evelyn Dailane usa a bicicleta para ir para o colégio e reclama da falta de iluminação na ciclovia das 700s. “Muita gente sai da escola à noite de bicicleta e acaba ficando perigoso para os ciclistas e para os pedestres”, comenta.

Por meio de nota, o Departamento de Trânsito do Distrito Federal (Detran-DF), disse que “vai enviar equipe técnica para verificar se a sinalização vertical, que é de responsabilidade da empresa contratada para a realização da obra, foi feita ou não, e tomar as devidas providências. Em relação à fiscalização de trânsito para coibir desrespeito dos motoristas, informamos que o Detran realiza, diariamente, ações para coibir irregularidades de trânsito e, diante da demanda, vai intensificar as operações no local indicado”.

Sobre as questões estruturais, iluminação e pintura da ciclovia, procurada pela reportagem, a Novacap indicou que precisa receber solicitações da Administração do Plano Piloto para executar os serviços necessários. Por email, o órgão afirmou “não ter encontrado solicitações por parte da administração local. Seria importante verificar com a mesma se eles têm algum pedido ou projeto para essas ações”.

Procurada, a Administração do Plano Piloto não respondeu à reportagem.

Integração

Em resposta às críticas pela falta de conexão das ciclovias no DF, o governo anunciou licitação para criar mais 105 km de ciclovias em diversas cidades, fazendo a interligação dos trechos já existentes. De acordo com a Semob, 19 novos trechos estão no projeto de readequação do mapa cicloviário e serão construídos em diversas regiões administrativas, dentre elas Samambaia Norte, no perímetro do autódromo, entre outras.

“É importante aumentar a oferta dessa estrutura viária e fazer a conexão das diversas vias já existentes”, admitiu o secretário de Mobilidade, Flávio Murilo Oliveira, em entrevista à Agência Brasília no primeiro semestre deste ano. A legislação distrital prevê a construção de ciclovias em todos os projetos de implantação e pavimentação de rodovias.

Para Ana Júlia Pinheiro, da ONG Rodas da Paz, as ciclovias não têm resolvido a mobilidade ativa na capital federal. “Elas não cumprem o seu papel por não serem interligadas e por não permitirem as pessoas que residem no DF façam o seu trajeto de lazer, para o trabalho, para os seus locais de estudo utilizando a bicicleta. É necessário interligar todas as ciclovias das cidades do DF para desafogar o trânsito e oferecer um transporte mais barato e eficiente para a população. Afinal, não é todo mundo que possui veículo motorizado individual no DF”, conclui.

Atualmente, o Plano Piloto é a regional com o maior número de pistas para bicicletas: 138 km. Em segundo lugar no ranking aparece o Lago Sul, com 58.233 km. Em seguida, Park Way (50.68 km), Lago Norte (33.88), Ceilândia (33.62 km), Santa Maria (33.14 km) e Gama (35.87 km).

Confira a quilometragem de ciclovias das demais cidades

  • Águas Claras: 23,43 km
  • Arniqueira: 2,24 km
  • Brazlândia: 6,05 km
  • Candangolândia: 1,37 km
  • Guará: 24,15 km
  • Itapoã: 5,69 km
  • Jardim Botânico: 20,64 km
  • Núcleo Bandeirante: 5,52 km
  • Paranoá: 23,92 km
  • Planaltina: 12,49 km
  • Recanto das Emas: 28 km
  • Riacho Fundo: 1,19 km
  • Riacho Fundo II: 22,49 km
  • Samambaia: 22,91 km
  • São Sebastião: 11,76 km
  • SCIA: 1,97 km
  • SIA: 5,27 km
  • Sobradinho: 8,15 km
  • Sobradinho II: 21,99 km
  • Sudoeste/Octogonal: 10,72km
  • Taguatinga: 9,12 km
  • Varjão: 0,62 km
  • Vicente Pires: 11,59km

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