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Brasília

Mais de 80% das famílias brasilienses têm dificuldade para pagar as contas, diz estudo

Dados são da Confederação Nacional do Comércio (CNC) e mostram que 94% das pessoas endividadas têm dívidas por conta do cartão de crédito

Redação Jornal de Brasília

29/05/2023 18h18

Foto: Marcelo Camargo / Agência Brasília

Manter as contas em dia nunca foi uma das tarefas mais fáceis do dia a dia. No entanto, isso tem se tornado uma dificuldade cada vez maior na capital do país. É o que aponta uma pesquisa com dados levantados pela Confederação Nacional do Comércio (CNC), em abril de 2023. Segundo o estudo, em 82,3% dos lares do DF essa é uma dura realidade. O número de famílias inadimplentes supera a média nacional do Brasil, que é de 78% da população.

Liderando o ranking dos tipos de dívida, está o famoso cartão de crédito. Segundo a pesquisa, 94% da população brasiliense tem dívidas com esse objeto que é tão pequeno mas causa tanta dor de cabeça. Depois dele, o segundo principal motivo das inadimplências são os carnês.

Integrando o grupo de candangos que encontrou dificuldades para manter as contas em dia nos últimos meses, está a enfermeira Gabriela Silva, de 30 anos. Ela conta que, para conseguir manter o nome limpo, quebrou seus cartões de crédito e se absteve de fazer compras que não fossem estritamente necessárias por alguns meses. “Foi a única alternativa que encontrei. Quando você está com o cartão em mãos, você sempre encontra uma desculpa para gastar com o que não precisa, e eu não podia mais fazer isso”, disse.

Ela conta que, tomar essa decisão, foi fundamental para que ela conseguisse quitar tudo que tinha para pagar e aprender que dá pra viver sem certos luxos.

O que acontece é que, nem sempre em todos os casos, apenas se livrar dos cartões basta. Muitas pessoas, como o jovem Pedro Santos, de 26 anos, precisou fazer um empréstimo com a operadora de seu cartão para conseguir pagar tudo que devia. “Hoje, tudo que eu ganho é para pagar esse empréstimo. Não gasto com nada fora das necessidades do mês”, compartilha o técnico em TI.

Por mais que seja uma alternativa, o empréstimo pode trazer ainda mais problemas se não for feito de forma consciente e como última opção. Como explica o economista Newton Marques, especialista do Conselho Regional de Economia do DF (Corecon DF), recorrer à essa medida significa mais uma dívida na lista. “Os prós dessa decisão são as facilidades e a possibilidade de conseguir pagar o que precisa, mas os contras são os elevados custos deste crédito”, explica. Segundo ele, nesses momentos, é necessário fazer um bom planejamento financeiro e não gastar sem necessidade, para que isso não se torne uma “bola de neve”. “Algo que só aumenta, aumenta e aumenta”, finalizou.

Renan Silva, que também é economista, ressalta que o endividamento das famílias encontra-se em patamares recordes, agravado em razão da pandemia a partir de 2020. “Com relação às dívidas no cartão de crédito, podemos afirmar que esse instrumento é o mais oneroso, considerando que as taxas médias chegam a 410% ao ano e, em alguns casos, chegam ao patamar de 720% ao ano”, pontuou o especialista.

O cartão de crédito, como ele destaca, é facilmente contratado, em razão da bancarização, e trata-se de um crédito sem burocracia, o que representa uma armadilha para os desavisados. “Uma vez que o tomador recorra ao crédito rotativo do cartão de crédito dificilmente ele sai ileso, devido as taxas estorvivas”, explicou Renan.

Segundo o profissional, no caso de inadimplência, o importante é buscar por uma renegociação das dívidas na instituição financeira a taxas menores, procurando concentrar todas as dívidas, incluindo as do cartão de crédito, em um único contrato que seja mais palatável. “Cabe lembrar que as dívidas poderão ser portabilizadas para um outro banco que ofereça condições melhores, inclusive Cooperativas de Crédito, cujas taxas muitas vezes são menores”, aconselha Renan. “Não podemos esquecer que é necessário mudar os hábitos de consumo, eliminado as despesas desnecessárias ou adiáveis. Com uma disciplina financeira as chances de regularização aumentam consideravelmente”, relembra o economista.

Ele ainda destaca que o ideal é desenvolver o hábito de criar reservas para provisões. Em geral, uma regra mínima de separar de 20% a 30% da renda auferida para provisões evitam a tomada de empréstimos emergenciais, cujas taxas são abusivas. No Brasil, como explica Renan, as taxas de juros são proibitivas, devido à escassez de recursos na economia. “Os bancos preferem financiar o Governo a financiar a sociedade e isso faz com que os juros sejam extremamente altos. Por sua vez, os empréstimos podem alavancar os negócios de qualquer porte e, com um bom plano de negócios, as empresas podem acessar juros menores. Contudo, cabe uma boa dose de cautela no planejamento de faturamento futuros do empreendimento”, reiterou.

Por fim, Renan Silva salienta que para não ter o nome sujo é essencial o entendimento de que boa parte do consumo advém de um desconforto emocional. “Na sociedade do consumo, as pessoas buscam recompensas e prazer no ato de consumir, mesmo quando endividadas. É certo que as famílias precisam de um orçamento para controlar os gastos e gerar poupança. Naturalmente, este orçamento deverá contemplar realização de sonhos e lazer, mas de forma planejada e dentro de suas posses. Infelizmente, esse planejamento não se aprende em casa e nem nas escolas, com raras exceções”, finalizou.

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