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Brasília

Lázaro: a mente criminosa de um preso em fuga

Quem é Lázaro? Suspeito de uma série de crimes no Distrito Federal e em Goiás, ele está foragido desde 2016 e tem extensa ficha criminal

Redação Jornal de Brasília

27/06/2021 7h52

Por Carlos Arouck*

No Brasil, o sistema jurídico criminal foi desenhado para proteção dos criminosos, ou seja, de somente um lado da relação jurídica: o acusado. A vítima, por vezes, sequer é considerada pelo aparato estatal. A influência do pensamento voltado para os direitos humanos resultou em uma série de legislações que elevaram o criminoso à condição de vítima da “própria sociedade”, sendo que a verdadeira vítima não receberia as mesmas garantias constitucionais que o cidadão que cometeu o crime em algumas ocasiões.

Esse fato gera impotência e desânimo por parte dos integrantes das forças policiais. Muitos segmentos sociais começaram a enxergar na figura do assassino o revolucionário que desafia as forças policiais. É o que ocorre no momento, com Lázaro Barbosa. O fugitivo, que recentemente matou quatro pessoas de uma mesma família, passou a ser um dos criminosos mais procurados, e lentamente despertou no público um certo fetiche por sua pessoa e, com essa ideia equivocada, a certeza de que o crime compensa.

Quem é Lázaro? Suspeito de uma série de crimes no Distrito Federal e em Goiás, ele está foragido desde 2016 e tem extensa ficha criminal. Fugiu de presídios e já tinha sido condenado por estupro, porte ilegal de arma e roubo. Segundo a polícia, é um psicopata imprevisível, impulsivo, que faz uso de extrema violência. A força tarefa para capturá-lo inclui as secretarias de segurança pública de Goiás, do Distrito Federal e as polícias rodoviária estadual e federal, juntamente com a inteligência da Polícia Federal, não há um comando único, o que pode tornar mais complexa a operação. Faz uso de helicópteros, cães, drones e bloqueio de vias. Por mais difícil que seja, até o momento a perseguição se baseou nos princípios de legalidade, necessidade e moderação.

Os ataques realizados por Lázaro em um curto espaço de tempo e as informações divulgadas pela polícia sobre sua personalidade levaram os internautas a chamarem o suspeito de ‘serial killer do DF’. Um assassino em série é aquele que comete ao menos dois assassinatos. O FBI inicialmente considerava que um criminoso poderia ser denominado serial killer quando matasse ao menos quatro pessoas, mas o órgão mudou esta definição nos anos 1990, quando passou a considerar um assassino serial quem matasse três vítimas ou mais. Um laudo psicológico feito no Complexo Penitenciário da Papuda atestou o comportamento agressivo, a instabilidade emocional, as preocupações sexuais e a falta de controle e equilíbrio de Lázaro. Um especialista em comportamento criminal, um perfilador, tem como objetivo caracterizar o criminoso através dos comportamentos que pode exibir perante um crime. Trata-se da técnica de “Profiling”, mais conhecida no Brasil devido às séries na TV, como “Criminal Minds”, muito útil para se ter uma ideia do criminoso em questão.

Foto: Reprodução

Esse estudo comportamental mostraria que Lázaro tem uma mente criminosa. Serve para auxiliar os investigadores a conhecer as características criminais, a elaborar perfis vitimológicos, a orientar a tomada de decisões e por fim, contribuir para a resolução do caso. Muitas revelações sobre o criminoso surgiram com o tempo. As boas práticas de perseguições das policiais recomendam, nesse momento, “dar linha na pipa” afrouxando o cerco e utilizando o modus operandi do criminoso a favor da polícia, principalmente com uso de informações provenientes da inteligência policial. Significa sair do impasse atual, uma vez que Lázaro se limita a se esconder. A atuação deve, ainda, priorizar sua captura sem pôr em risco a comunidade, a qual a polícia tem o dever de proteger. Usando os princípios do pensamento tático, é possível reduzir, substancialmente, os riscos e ampliar as vantagens a favor dos policiais.

A Defensoria do DF pediu garantias para manter a integridade física do assassino. O recado foi dado implicitamente para os policiais que estão na sua captura. Uma de suas tarefas será levar o infrator à justiça, o que não se confunde com “fazer justiça”. Há o temor de que Lázaro acredite que não haveria saída para ele caso se rendesse. Nos Estados Unidos, alguns estudiosos analisam um fenômeno que ocorre em situações como a atual, chamado “suicide by cop” (suicídio pela polícia, ou por policial) ou “police assisted suicide” (suicídio assistido pela polícia), normalmente associado aos cercos policiais que ocorrem com certa frequência no país, envolvendo múltiplas vítimas e um atirador cujo modus operandi usualmente não prevê uma fuga com vida.

Um grande aparato policial e equipamentos modernos estão sendo usados, visto a repercussão do caso, mas as características do terreno dificultam a ação. Depois de mais de duas semanas sem conseguir achar Lázaro, os meios empregados devem ser revistos. As forças de segurança estão sob pressão, mas sabem que é errônea a interpretação de combate ao crime a qualquer custo. A perseguição ganha cada vez mais espaço na mídia, o que aumenta o cuidado para não se transformar em um espetáculo de vícios ilegais. Acusar a polícia de fracassar nessa captura é acusar todo o sistema de segurança pública de fracasso também, e com a conivência do Judiciário, já que a liberdade foi concedida mesmo com o laudo negativo do perito médico do sistema prisional. Ficou claro que nenhuma tentativa de ressocialização surtiu efeito. Ele é um bandido armado e perigoso, que está cansado e acuado, protagonista de uma fuga que já durou mais que o necessário. É importante tirar Lázaro das ruas para que ninguém mais sofra o que Cleonice sofreu.

*Policial Federal, Carlos Arouck é formado em Direito e Administração de Empresas

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