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Brasília

Jovens enfrentam dificuldade para achar primeiro emprego

Ao concluir, a pesquisadora Andrea afirmou que a maior oportunidade de jovens empregados estão concentradas na zona central de Brasília

Vítor Mendonça

02/06/2022 18h06

Foto: Agência Brasília

A inserção dos jovens no mercado de trabalho do Distrito Federal precisa de mais incentivos para acontecer com maior facilidade, segundo nova pesquisa realizada pelo Observatório de Políticas Públicas do DF (Observa-DF). Em um grupo focal, o instituto fez uma série de questionamentos aos entrevistados para entender uma questão que intitula o nome da pesquisa: “O que o jovem quer?”

A busca pelo primeiro emprego é a parte mais difícil, segundo o que foi apurado pela pesquisa, tendo muitas vagas exigindo uma experiência prévia e contatos que os encaminhem para a posição. Em outras situações, a dificuldade acontece quando os requisitos para as vagas de emprego não são condizentes com a atual condição de muitos que procuram uma oportunidade.

Neste aspecto, as exigências por outros idiomas além do português, como o inglês e/ou o espanhol, são um dos inibidores para se entrar em uma oportunidade de emprego. No DF, conforme destacou o relatório, apenas 4,1% dos jovens cursam uma escola de línguas estrangeiras. No âmbito geral de toda a população do DF, a porcentagem chega a apenas 2,9% dos cidadãos da capital.

“Teve uma vaga que eu vi que estava pedindo inglês, espanhol e diferencial alemão”, relatou uma jovem de 25 anos, parda, com superior completo e desempregada dentro do grupo de pesquisa focal. Uma outra também parda e desempregada, de 24 anos, que está cursando o nível superior, relatou que “a pessoa às vezes só vai carregar papel e ela tem que saber três línguas”.

“Os programas de reforço para o primeiro emprego viabilizarão aquela primeira experiência, que eles colocam como difícil para romper a barreira do primeiro acesso [ao mercado de trabalho]”, resumiu uma das pesquisadoras, doutora em Economia, Andrea Felippe Cabello.

Empreender não é opção

O empreendedorismo, saída para muitas pessoas durante a pandemia da covid-19 para conseguir uma renda devido ao desemprego, não é tido pelos jovens como primeira opção viável para conseguir trabalhar. Essa é uma escolha a ser feita apenas em casos de extrema necessidade, conforme apuraram os pesquisadores nas entrevistas com o grupo.

“Acabam empreendendo para sobreviver, e não viver”, disse um jovem de 21 anos, preto, com o ensino médio completo e desempregado durante a pesquisa. Por outro lado, uma mulher parda, de 24 anos, que está desempregada e que cursa o ensino superior na capital, afirma que “seria ótimo um programa de [incentivo ao] primeiro emprego”. A opinião refletiu a de todos dentro do levantamento feito em abril, segundo o Observa-DF.

A pesquisa pretendeu levantar hipóteses e percepções sobre a transição da etapa escolar para a vida profissional dos jovens, que acontece durante a juventude. Como contexto, o Observa-DF se utilizou de dados estatísticos das principais pesquisas populacionais e de emprego da capital, realizadas pela Companhia de Planejamento do DF (Codeplan).

Sendo assim, diante da taxa de desemprego para jovens até 29 anos chegando a quase 40% – 39,6%, segundo a Pesquisa de Emprego e Desemprego de 2022 da Codeplan –, o Observatório apurou que, além dos que estavam desempregados, também existia o grupo de pessoas que não estavam estudando – os chamados “nem-nem”, que nem trabalham nem estudam.

Na capital, dentre os jovens, as porcentagens corresponderam a 39,7% do sexo feminino e 23,5% do sexo masculino. Por haver uma diferença percentual de pouco mais de 16 pontos, o Observatório levantou a hipótese de que, na hora de conseguir um emprego, poderia haver preconceito. Ao questionar os jovens do grupo focal, porém, as respostas não foram unânimes, e um problema diferente foi ressaltado.

“Isso [a estatística] nos levou a perguntar se existia preconceito. O que os jovens relataram foi que algumas áreas são mais tipicamente femininas e outras tipicamente masculinas. Mas que não sentiam como uma questão de preconceito [quanto ao sexo], porém com relação ao preconceito de raça. Na hora de se inserir no mercado de trabalho, eles sentem esse preconceito, principalmente pretos e pardos”, destacou Andrea.

Informalidade para sobreviver

Conforme sugere a pesquisa, a informalidade nos vínculos trabalhistas está relacionada à necessidade de sobrevivência, sem nenhuma outra possibilidade de renda para a subsistência própria ou da família. O levantamento indica que 26% dos que têm carteira assinada são jovens, enquanto, no total do grupo entre 18 e 29 anos, 55% não tem carteira assinada.

“Ou seja, daqueles 60% que conseguem emprego, somente 45% [dentro da porcentagem] conseguem carteira assinada. Isso é algo que os jovens relacionam às oportunidades que têm e à necessidade de remuneração. Muitas vezes, em vínculos informais, essa remuneração é um pouco maior. A informalidade acaba surgindo como resultado dessa pressão por busca de renda e remuneração mais alta pelos jovens”, disse a Andrea.

Assim, uma das conclusões tidas pelo Observatório é que há uma dualidade entre a necessidade de aceitar empregos “ruins” – termo empregado pelo grupo focal – e a necessidade de acumular experiência para vagas melhores.

Ao concluir, a pesquisadora Andrea afirmou que a maior oportunidade de jovens empregados estão concentradas na zona central de Brasília, conforme levantamento do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged/2021). “Eles também chamam atenção para a questão da oferta de cursos, para que estes tenham uma aderência maior, um reflexo maior nas habilidades que o mercado de trabalho exige na prática”, finalizou.

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