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Brasília

Iphan lança edital com R$ 7,5 milhões para patrimônio imaterial

Projetos podem concorrer em três principais áreas de pesquisa e promoção da cultura. Potencial do DF é na cultura nordestina.

Vítor Mendonça

25/07/2023 20h16

Foto: Vítor Mendonça

O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) lançou ontem, após sete anos, um novo edital do Programa Nacional do Patrimônio Imaterial (PNPI). A quantia destinada para o desenvolvimento de projetos para a valorização de patrimônios culturais imateriais no Brasil é de R$ 7,5 milhões. O valor do financiamento, que dependerá do tipo de proposta, vai variar entre R$ 150 mil e R$ 500 mil por projeto.

Para Valdério Costa, 57 anos, artista xilogravurista da capital, o projeto “é fundamental”. Segundo ele, a pertinência do fomento dará evidência às pessoas que trabalham com cultura popular no DF, que são muitas, mas não tão conhecidas. “Elas são um pouco invisibilizadas e esse tipo de iniciativa é fundamental, louvável, para que o artista popular ou outros que trabalham com os saberes tradicionais tenham cada vez mais entusiasmo e repassem o conhecimento para a população”, destacou.

Ele é um dos que pretende participar do edital, para propor um projeto de artes visuais com oficinas de xilogravura popular em escolas e cidades. A arte consiste na gravação de imagens cravejadas em madeira, que, com a diferença dos relevos, formam uma espécie de carimbo para serem reproduzidos em outras superfícies. A manifestação artística imaterial é conhecida por ilustrar grande parte dos cordéis típicos da região nordeste, de onde também veio.

“Como sou professor de escola pública também, estou sempre tocando nesse assunto, fazendo com que seja resgatado uma coisa que é genuinamente nossa, da cultura popular brasileira. É a nossa cara. As pessoas sempre se reconhecem como brasileiras quando veem uma manifestação como essas. Essa iniciativa é importantíssima, fico feliz que haja esse fomento. Vamos levar o que é do povo para o povo, que é esse saber [cultural e artístico]”, afirmou.

Foto: Vítor Mendonça

De acordo com Valdério, ter uma continuidade de produções culturais tradicionais brasileiras é importante para que a história do país não se perca nem haja esquecimento quanto às matrizes culturais presentes em cada região. O Distrito Federal, por sua vez, tem muitas referências nordestinas, uma vez que recebeu, no início de Brasília, muitas famílias imigrantes do Nordeste. “A ideia é que esse saber tradicional possa ser perpetuado por outras mãos”, defendeu.

Natural do Rio Grande do Norte, mas em Brasília desde os anos 80, o artista possui atualmente um ateliê na Asa Norte, onde expõe algumas das principais obras e produz novos materiais. Em 2017, ele venceu o Prêmio Culturas Populares, na categoria Mestres, do Ministério da Cultura. “A Xilogravura para mim é uma forma de reconectar com a tradição nordestina, do povo, de onde vim. Nunca cortei esse cordão umbilical com essa origem e esse saber regional”, finalizou.

Frentes de investimento

O novo edital do Iphan, além de apoiar e fomentar os?bens culturais já existentes no Brasil, ajudando a melhorar o desenvolvimento e difusão das manifestações, poderá também beneficiar novas pesquisas de identificação de bens culturais imateriais, como também oferecer maior espaço para as investigações sociolinguísticas, parte do do patrimônio brasileiro por vezes menosprezada.

De acordo com Leandro Grass, presidente do Iphan, esse é o maior Edital já lançado na história do patrimônio cultural voltado aos patrimônios imateriais. São dois principais objetivos com a abertura do projeto na tarde de ontem. “Queremos primeiro fomentar e estimular ações e projetos em torno das expressões culturais. Em segundo lugar, queremos produzir conhecimento, porque ele também vai permitir que desdobremos outras políticas públicas”, destacou.

As duas linhas de investimento em pesquisa e a terceira em fomento direto para as manifestações, especificadas no edital (confira em SAIBA MAIS), segundo ele, representam uma retomada importante da valorização do patrimônio imaterial brasileiro, uma vez que o PNPI não acontece desde 2015 – à época com pouco mais de R$ 1 milhão investido.

Neste ano, uma das prioridades que receberá avaliação diferenciada na fase classificatória para o vencimento do edital são os projetos que abrangem as culturas indígena e de matriz africana, com certa priorização nas análises. “[Queremos] fazer com que a população acesse a cultura popular e possa entender melhor, passar a contemplar cada vez mais”, finalizou Grass.

O lançamento do edital aconteceu na tarde de ontem, no SESI Lab, e contou com a participação da coordenadora de Cultura da Unesco, Isabel de Paula, e da ministra da Cultura, Margareth Menezes.

SAIBA MAIS

Foto: Vítor Mendonça
  • São três principais frentes de investimento no novo edital do Programa Nacional do Patrimônio Imaterial (PNPI):
  • Entre R$ 200 mil e R$ 500 mil para projetos-piloto de identificação de referências culturais que se proponham a utilizar a nova versão do Inventário Nacional de Referências Culturais (INRC), disponível em https://inrc.iphan.gov.br;
  • Entre R$ 150 mil e R$ 400 mil para projetos de pesquisa sociolinguística que utilizem como referência o Guia do Inventário Nacional da Diversidade Linguística (INDL) visando a instrução de processos de reconhecimento de línguas como Referência Cultural Brasileira;
  • Entre R$ 100 mil e R$ 300 mil para projetos de apoio e fomento aos bens inscritos em um dos Livros de Registro do Iphan (https://brc.iphan.gov.br).

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