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Brasília

Homem é resgatado de trabalho análogo ao de escravidão em Formosa

Ele morava com sua esposa e cinco filhos. Na casa não havia água, nem luz. O mato era utilizado como banheiro

Redação Jornal de Brasília

18/08/2021 10h15

Imagem: AFT

Em Formosa (GO), está em andamento uma operação de fiscalização composta por auditor tributário do Ministério do Trabalho, advogado do Ministério Público do Trabalho, advogado da Defensoria Pública Federal e policiais. Um homem foi resgatado de um trabalho semelhante ao de escravidão na semana passada, em uma fazenda na região.

Ele morava com sua esposa e cinco filhos. Na casa não havia água, nem luz. A energia chegou, uma semana antes da fiscalização. A pouca comida estava sob a poeira da mineração de calcário que ocorria perto de seu alojamento.

Para o blog do Sakamoto, do portal UOL, a esposa do trabalhador relatou: “Escorpião é ótimo, são muitos. Um me pica e minhas pernas ficam dormentes por seis meses. Acordei com uma cobra enrolada no pescoço. Há coral. Papa -pinto … Se eu não colocar o fio no chão e tapar o buraco da casa todos os dias, os escorpiões vão picar meus filhos. Todos dormem no mesmo lugar. Por isso eu sempre presto atenção nos animais.”

Além do trabalho pesado, o mato era usado como banheiro, na casa não havia energia elétrica e a água era a salobra de um poço. A energia elétrica chegou uma semana antes da operação que constatou as condições degradantes que a família vivia.

Para o UOL, o proprietário da fazenda, por meio do advogado Ítalo Xavier: “que, até o momento, não teve acesso integral aos autos do procedimento de inspeção. O representante afirmou que o cliente colaborou com os trabalhos da fiscalização, firmando Termo de Ajuste de Conduta com o Ministério Público do Trabalho, para atender todas as exigências que entenderam pertinentes”, destaca a reportagem.

Segundo o portal de notícias UOL, a casa ficava a menos de 100 metros da empresa de mineração e a 200 metros do canteiro que extraía calcário. A produção fazia muito barulho e levantava um pó branco que cobria as pessoas, roupas e comidas. Para a auditora fiscal Andréia Donin, coordenadora da operação, “A quantidade de pó era impressionante”, disse. Vai ser investigada a situação da saúde da família pela exposição prolongada ao produto.

“Toda hora você tinha que limpar a casa e ficar com pano no nariz porque era pó demais”, afirma Marilene. “Eu tô com caroço no pescoço, perdendo a voz. Fui ao medico e ele disse que isso foi causado pela poeira. Tenho que ir pra Goiânia para operar, mas quem vai ficar com as crianças?”, disse para o UOL.

Tiago Cabral, procurador do trabalho, acompanhou a operação e disse sobre a precarização “Eles não conhecem seus direitos, são vítimas fáceis do trabalho escravo. O pai da família havia sido vítima de trabalho infantil. É a receita da superexploração. O empregador sabendo dessa situação colocou o trabalhador próximo de um local com extração mineral, aspergindo poeira sílica”, afirma.

As crianças não sabiam o que eram televisão. “Tenho dois filhos que nem sabem o que é uma televisão. Olhava para eles e chorava muito. No tempo da chuva, a gente tinha que ficar enrolado num canto porque a goteiragem era demais. Muita muriçoca, muito inseto. O fogão de lenha era dentro, tinha fumaça demais. Pó da firma [de mineração] e a fumaça do fogão… Sempre pedíamos uma casa melhor, e não faziam nada”, afirma. “Se o senhor visse a casa, ia ficar besta. Eu mandava meus filhos pra escola com roupa de goteira”, revela.

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