Realizada em abril, no Estádio Nacional Mané Garrincha, a quinta edição da Campus Party Brasil promoveu um concurso voltado para a união entre tecnologia e moda, chamado de Campus Party Fashion Tech e os vencedores do concurso foram estudantes do curso Técnico em Vestuário do Instituto Federal de Brasília (IFB), que apresentaram uma jaqueta jeans customizada, que foi transformada em um colete. Esse colete possui um protótipo de um coração humano, impresso em impressora 3D, o qual é aceso com luzes internas quando o usuário recebe mensagens via Whatsapp. A peça vai compor o figurino de shows da cantora Bianca Jhordão, da banda Leela.
A peça criada é denominada como uma “wearable tech”, ou seja, aquela onde os dispositivos eletrônicos e tecnológicos são incorporados à roupa. No concurso, o trabalho começou com um treinamento intensivo sobre o universo dessas peças, onde os participantes puderam conhecer e aperfeiçoar dispositivos, programas e conectá-los a roupas, acessórios e calçados. Ao Jornal de Brasília, uma das criadoras da peça, Grazielle Raiane Mendes da Silva, de 33 anos, contou: “O colete foi inspirado nas roupas que Erasmo Carlos e Chico Science usavam, e tem como base o upcycling”. O upcycling consiste no reaproveitamento de objetos antigos, dando uma nova utilidade a ele.
“O projeto foi baseado na reutilização de roupas e aviamentos. Com exceção do coração 3D, todos os outros itens do colete já faziam parte de nosso acervo pessoal. Usamos uma jaqueta jeans e tiramos as mangas e bordamos as missangas. O bolso onde fica a bateria, na parte interna das costas, foi criado com uma das mangas da jaqueta”, contou a Grazielle à reportagem. “Alterando a programação ele pode receber mensagens de outros apps, mas não seria intuitivo, e por isso, é usado um aplicativo de mensagens instantâneas”, argumentou. Para o show de Bianca Jhordão, foi planejado um telão com um QR Code o qual o público poderá acessar para enviar emojis à cantora e assim, acionar as luzes dentro do coração 3D.



“Todas as decisões foram tomadas em grupo. Cada um colaborou para que o colete fosse o vencedor”, comentou Grazielle sobre o processo de criação junto a seus colegas. Agora, o grupo deve viajar para São Paulo para apresentar a peça na Campus Party Nacional, do dia 25 a 30 de julho: “Lá eu espero aprender mais sobre o assunto, conhecer outras pessoas que estudam e trabalham com wearables. Essa participação vai ser muito rica para minha formação”, destacou. Para a estudante, a união entre moda e tecnologia proporciona experiências que vão além do estético e do artístico: “É ser funcional, ter um valor e importância social”, finalizou.
Segundo os profissionais da educação, a Campus Party Fashion Tech proporcionou aos estudantes uma experiência imersiva de aprendizagem, com estudo teórico e prático, a fim de fomentar a criatividade e ideias inovadoras. Professora do curso Técnico em Vestuário, Juliana Rangel, 39, disse ao Jornal de Brasília que com o advento da tecnologia, as formas de ensino foram aprimoradas e com isso surgiram as metodologias ativas. “Por meio dessa metodologia, os alunos são inseridos no processo de aprendizagem de forma em que eles se deparam com o conteúdo teórico ao mesmo tempo em que recebem uma atividade prática, que chamamos de projeto ou problema. Os alunos em grupo devem se organizar para tentar resolver o problema”, detalhou Juliana.
De acordo com a professora, essa experiência possibilita exercer a liderança e ser liderado, o trabalho em grupo, respeito a opiniões e conhecimentos diversos. “Atualmente, diante da tecnologia, a criatividade e a proatividade são habilidades importantes para os alunos se colocarem no mercado”, completou. Quando questionada sobre o que lhe chamou a atenção no projeto de Grazielle e dos amigos, Juliana Rangel relatou: “Eles fizeram um planejamento e por conta do tempo eles viram que começar uma peça do zero não seria ideal. Os outros grupos concorrentes que começaram do zero não conseguiram concluir e não houve apresentação do produto. Esse olhar que eles tiveram foi interessante”.
Por fim, Juliana elogiou os alunos e o resultado obtido por eles: “Para conseguir terminar a atividade eles tiveram que ouvir uns aos outros, foram muito disciplinados e tiveram foco. Essa peça é algo que vai conectar a cantora com a platéia, é algo interativo e muito interessante”. O Campus Party Fashion Tech promove a instrumentalização dos participantes no universo da eletrônica e materiais flexíveis, e depois, times de quatro a cinco pessoas são formados para começar a ideação e prototipação com uso de eletrônica, fabricação digital e máquinas de corte e costura. Ao final do concurso, um desfile foi feito para exibir as peças produzidas e também foi realizada uma mostra das peças.