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Brasília

Greve à vista: sindicatos e associações se articulam para o próximo governo

Arquivo Geral

29/11/2018 7h00

Raphaella Sconetto
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Servidores da Companhia Energética de Brasília (CEB) podem iniciar uma greve a partir da próxima segunda-feira, caso a empresa não avance nas propostas. Uma nova assembleia está prevista para hoje, a partir das 9h. Além dos prejuízos característicos da paralisação, a mobilização sinaliza que sindicatos e associações estão se articulando à medida que a troca de governo se aproxima. Entre os sindicalistas, é unânime: por enquanto, não há ações enérgicas, mas o futuro governador, Ibaneis Rocha, poderá ter problemas caso não cumpra com o que foi prometido.

Segundo José Edmilson da Silva, diretor do Sindicato dos Urbanitários do DF (STIU), os trabalhadores da CEB pedem, além do reajuste salarial, um abono por produtividade e a inclusão de um plano odontológico. “A CEB teve os indicadores de desempenho bem avaliados, até ganhou prêmio. Então, a categoria precisa ser valorizada. É um abono temporário e o valor pode ser negociado”, explica.

A proposta da empresa, conforme o diretor do STIU, envolve apenas o reajuste salarial. Em um primeiro momento, foi oferecida a correção pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC). Mas, na terça-feira, em vez do percentual, adotou-se acréscimo de um valor fixo de R$ 337,65 para cada assalariado. “Pegaram o valor do INPC, fizeram uma média dos salários e ofereceram esse valor fixo. É a mesma proposta, só que mascarada”, critica.

A partir da contraproposta, os trabalhadores se reunirão novamente para votar. “Ela não nos atende. A categoria está esperando mais da empresa. Mas vamos levar para deliberarem. Se não aceitarem, voltamos com o indicativo de greve e podemos paralisar a partir de segunda-feira”, avisa Silva.

Enquanto isso, outro diretor do sindicato, Alairton Faria, descreve a negociação como difícil. “Estamos em época de transição de governo. A gestão atual não tem disposição para negociar, e a que está entrando ainda não assumiu. É um processo delicado, embora a CEB tenha autonomia para fazer negociações”, pondera. Em nota, a CEB informou apenas que “está buscando o entendimento com o sindicato para que não haja greve”.

Mais diálogo

Se por um lado o Sindicato dos Urbanitários se mobiliza por uma greve já no fim do ano, por outro as demais categorias aguardam os primeiros passos de Ibaneis no governo. Samuel Fernandes, diretor do Sindicatos dos Professores (Sinpro), alega que é cedo para fazer algum tipo de pressão. “Vamos esperar para ver quais são as prioridades e se vão atender nossas demandas. Tivemos reunião com novo governador e com o novo secretário de Educação, e até entregamos a pauta de reivindicações”, conta.

Por isso, ele diz apostar, nesse primeiro momento, no diálogo. “É o mais importante até agora. Vamos aguardar para que eles possam assumir, de fato, para a gente saber quais serão as iniciativas. A partir de 1º de janeiro, avançamos nas negociações”, comenta.

Comunicação é a palavra de ordem também para o presidente do Sindicato dos Policiais Civis, Rodrigo Franco. “Queremos sempre ter uma interlocução com o governo”, resume. Franco conta que Ibaneis se dispôs em atender as demandas. “Tivemos reunião com a equipe de transição. A primeira impressão foi boa”, pontua.

A principal questão a ser encarada pelo emedebista será o reajuste salarial. “Temos uma defasagem de mais de 50%. E o próprio efetivo da corporação, com mais de quatro mil cargos vagos”, detalha. “Foram compromissos que o futuro governador fez e esperamos que cumpra. Ficaremos atentos”, completa.

Troca de propostas e promessas

Sindicatos dos rodoviários e dos metroviários dizem que farão vigília ao que será feito por Ibaneis. Uma carta-compromisso foi assinada no primeiro turno das eleições entre o emedebista e o Sindicato dos Rodoviários. Entre as promessas, está a “não concorrência fora do transporte coletivo”. “Em alguns debates, ele vinha prometendo retornar com as vans. Isso pode trazer desemprego, porque as empresas de ônibus diminuem o quadro”, alega Jorge Farias, presidente da entidade sindical.

Além disso, ele cita a ampliação de faixas exclusivas para ônibus e a instalação de outros modelos de semáforos. “São pedidos não só para a categoria, mas que vão beneficiar a população. Com um bom transporte coletivo, as pessoas vão deixar o carro em casa”, sugere.

De acordo com o secretário jurídico do SindMetrô, Leandro Santos, os metroviários não conseguiram nenhuma reunião com o novo governado, mas entregaram documentação com as principais pautas. “Data-base, condições de trabalho, estado do metrô. Ibaneis precisará investir em organização e tecnologia para dar conta da demanda, além do projeto de expansão”, aponta. “Nossas demandas têm mais a ver com as condições sociais dos funcionários do que a questão econômica”, completa.

Para o Sindicato dos Empregados em Estabelecimentos de Serviços de Saúde (SindSaúde), Ibaneis prometeu, entre outras coisas, pagar a Gratificação de Atividade Técnico-Administrativa (Gata) e as pecúnias dos aposentados, regulamentar a aposentadoria especial e até construir o primeiro Hospital Público do Servidor. “Vamos cobrar esse documento na sua totalidade”, destaca Marli Rodrigues, presidente do sindicato.

Versão Oficial

Por meio de sua assessoria de imprensa, Ibaneis Rocha afirmou ao Jornal de Brasília que já está conversando com as categorias. “E vamos continuar conversando. Nosso governo será do diálogo, como fiz até agora. Será assim para todos os assuntos, não só sobre reajustes”.

Em relação ao pagamento da terceira parcela dos reajustes de 32 categorias, prometido no governo Agnelo Queiroz (PT), o emedebista diz que destinará R$ 600 milhões para fazer o pagamento. “O que comprova que estávamos certos todo o tempo, quando dizíamos que dinheiro tem. Vamos fazer os demais pagamentos, porque o que é devido precisa ser pago. É lei, é direito”, ataca.

Em nota, a Secretaria de Planejamento, Orçamento e Gestão (Seplag) confirmou que o reajuste está previsto na Lei Orçamentária Anual (LOA) de 2019. O projeto ainda está no Câmara Legislativa e aguarda aprovação. “É importante salientar que a concessão de reajuste está condicionada à efetivação da entrada dos recursos previstos e à conclusão do recurso extraordinário que corre no STF. Caso fossem efetuados hoje, os aumentos significariam um impacto de R$ 1,6 bilhão ao ano”, pondera a pasta.

 

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