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Brasília

Futebol de cegos: otimista, equipe da ADEF se prepara para a temporada

O primeiro grande objetivo da equipe será o torneio regional Centro-Norte, que acontecerá em Belém entre os dias 8 e 12 do mês de junho

Redação Jornal de Brasília

01/06/2022 11h22

Elenco em evento de lançamento da temporada 2022; Foto: Lucas Rodrigues/ADEF

Por Henrique Sucena
Agência de Notícias do CEUB/Jornal de Brasília

O ano de 2022 é de esperança de títulos para a equipe de futebol de cegos da ADEF. Com investimentos de empresas como a Caixa e com o apoio do Governo Federal, a equipe se prepara para representar o Distrito Federal nos torneios nacionais promovidos pela Confederação Brasileira de Desportos de Deficientes Visuais (CBDV).

O primeiro grande objetivo da equipe será o torneio regional Centro-Norte, que acontecerá em Belém entre os dias 8 e 12 do mês de junho, onde a ADEF busca a classificação para o campeonato nacional, que será realizado em novembro em São Paulo.

A equipe do treinador Marcelo Ottoline contou, na última quarta-feira (18), com a presença das atletas Fran Bonfanti e Camila Pini, da equipe de futebol do Real Brasília, no treino para uma ação especial onde as duas testaram suas habilidades no esporte paralímpico. A experiência se mostrou desafiadora e as duas atletas declararam ter adquirido uma nova visão sobre a modalidade após vivenciar na pele as dificuldades que esses atletas enfrentam.

Lateral direita no futebol de campo, Fran Bonfanti se aventurou aos 30 anos pela primeira vez no futebol de cegos e relata que foi uma experiência muito desafiadora. A jogadora diz que já imaginava que seria difícil se adaptar a falta de visão, mas que o medo do contato com outros jogadores fazia com que fosse complicado correr.

Assim como sua companheira de time, Camila Pini, meio-campista de 31 anos, diz que o medo de se machucar sem um dos cinco sentidos a disposição dificulta o desempenho e relata admiração pela habilidade que os atletas da ADEF mostram para superar essa barreira.

Camila Pini tenta finalizar vendada durante treino; Foto: Júlio César Silva

Sonhando alto

O time agora tem em mente o maior objetivo da temporada, conquistar títulos. Em apenas duas semanas o grupo vai ao Pará para a disputa do Regional Centro-Norte na cidade de Belém entre os dias 8 e 12 do próximo mês. , o capitão da equipe Marcelo Rodrigues, de 35 anos, se recupera de uma lesão e busca estar em condições de liderar seus companheiros no norte do país em Junho.

Cego desde os 17 anos, após um atrofiamento do nervo óptico, Marcelo Rodrigues descobriu o futebol de cegos jogando na escola com uma sacola em volta da bola para simular o barulho da versão que segue os regulamentos da modalidade. De lá surgiu um convite do Cetefe (Associação de Centro de Treinamento de Educação Física Especial), onde ele encontrou melhores condições para praticar o esporte.

Aos 35 anos e ainda um dos grandes destaques da equipe, Marcelo conquistou ao lado do técnico Ottoline, campeonatos regionais e nacionais e usa sua liderança para passar essa experiência aos mais novos. O capitão da equipe considera que problemas como a falta de incentivo da família aos atletas e a falta de investimentos na modalidade impedem o esporte de ganhar mais visibilidade e, com isso, investimentos.

Os atletas na equipe, sem poder dirigir, enfrentam dificuldades até para chegar aos treinos, dependendo muitas vezes de suas famílias. Dentro dos treinamentos também a falta de investimentos afeta o desempenho. Agora com as parcerias com ADEF e a Caixa a equipe conseguiu adquirir vendas e bolas próprias para a modalidade, além de barreiras de proteção para as laterais da quadra que a equipe utiliza no Centro Integrado de Educação Física (CIEF).

Marcelo Ottoline comanda os atletas em treino; foto por: Pedro José

Marcelo Ottoline, que começou sua carreira com uma vitoriosa trajetória no futebol de salão, migrou para o esporte paralímpico involuntariamente em 2009 e viu o futebol de cegos mudar sua vida. O treinador considera que a falta de visibilidade do paradesporto aos olhos do grande público é um dos grandes atritos enfrentados pelos atletas, mas admira a superação de seus comandados.

Sobre a falta de investimentos, Ottoline diz que costumava marcar as extremidades de proteção da quadra com barbante e, no calor do jogo, os atletas acabavam passando do limite e se machucando. Agora com a ajuda de parcerias, o treinador espera proporcionar para seu elenco melhores condições de treinamento e ajudar mais jogadores a entrarem na modalidade.

O treinador revela que a falta de acessibilidade fora de campo é um dos principais exemplos das dificuldades do paradesporto. Muitos atletas vão aos treinos de ônibus e tem que atravessar ruas sem sinalizações sonoras para chegar à quadra. Ottoline considera um privilégio estar presente no dia a dia do esporte e considera que sua experiência o fez um ser humano mais social, trabalhando não só a parte esportiva mas também o ser.

Com atletas de todos os cantos do DF, o time acaba sendo um ponto de convergência para essas pessoas que buscam inclusão, gerando oportunidades para muitos que achavam que seus sonhos de ser um futebolista não poderiam mais se tornar realidade. Ottoline explica que o esporte para a pessoa com deficiência não tem a mesma dimensão que tem para outros, sendo o motivo de esperança para muitos.

“O esporte é tudo pra eles. A vida de muitos deles era ficar no quarto com um rádio no ouvido escutando notícia de futebol, agora eles têm a oportunidade de vir aqui e realizar isso. É na quadra que eles se sentem gente.” diz o treinador.

Hoje, os atletas da ADEF têm acesso aos equipamentos necessários, acompanhamentos de nutricionista, fisioterapeuta e psicólogo, uniformes para treinos e para jogos e várias outras melhorias para proporcionar ao time melhores condições de praticar o esporte no mais alto rendimento possível.

Apesar da pressão que esse investimento coloca para que se consiga títulos, Ottoline agradece pela ajuda ao seu grupo e espera manter os resultados positivos que a equipe já conquistou antes para estar em São Paulo em novembro disputando o campeonato Nacional.

Supervisão de Luiz Claudio Ferreira

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