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Brasília

Fraudes na UnB retiram oportunidade dos legítimos aprovados

“Eu tinha condições de entrar na UnB no ano passado, mas uma pessoa que fraudou o sistema de cotas raciais pegou a minha vaga”, revela Gabriel Bezerra

Larissa Galli Malatrasi

16/07/2020 6h51

Após decisão inédita da Universidade de Brasília (UnB) de expulsar e punir estudantes e egressos que fraudaram e entrada na instituição por meio das cotas raciais, alunos que têm – de fato – o direito ao acesso à universidade pelo sistema esperam que as investigações continuem e que a punição sirva para evitar que mais pessoas façam uso inadequado da política de cotas.

O estudante Gabriel Bezerra, de 19 anos, conseguiu vaga no curso de Jornalismo na UnB pelo sistema de cotas para pretos, pardo e indígenas no início do ano. Porém, a vida acadêmica do calouro poderia ter começado um ano antes e foi impedida por uma fraude. “Eu tinha condições de entrar na UnB no ano passado, mas uma pessoa que fraudou o sistema de cotas raciais pegou a minha vaga”, revelou o estudante.

“É triste e revoltante porque a sensação é de que eu perdi um ano da minha vida. Infelizmente não dá para voltar no tempo, mas eu espero que agora, com a expulsão dos fraudadores, as pessoas não façam mais isso”, disse.

Gabriel contou que ficou “surpreso” – no bom sentido – com a atitude da UnB. “Para nós que precisamos das cotas essa decisão tem uma importância muito grande: mostra que a universidade está trabalhando para nós e que realmente existe um sistema feito para garantir o nosso acesso. E mostra também que a UnB busca ser justa e se preocupa com os alunos”, afirmou.

O estudante relembrou que no mês passado foi criado um perfil no twitter chamado “Fraudadores de Cotas UnB” que “expôs” alunos – em sua maioria brancos – que teriam sido aprovados por meio do sistema de cotas raciais. “Nesse movimento de ‘exposição virtual’ das fraudes mais de 15 pessoas foram expostas em diversos cursos de graduação. Acredito que essa primeira decisão da UnB vai ser o início de uma operação de várias expulsões na universidade”, comentou. A conta não existe mais na rede social.

A estudante do terceiro semestre de filosofia Marília Silva das Neves, de 19 anos, apesar de ter direito ao sistema de cotas raciais, não utilizou a política para ingressar na UnB. Mas, enquanto gestora do Centro Acadêmico do curso de Filosofia, espera que a universidade “continue investigando quem usou as cotas indevidamente da forma mais coerente possível.”

A UnB afirmou que “continua atenta a eventuais casos de fraude”. Em nota, a instituição explicou que o processo de análise das fraudes começou em 2017, quando as denúncias foram recebidas. “A administração, então, abriu a sindicância, em novembro daquele ano, e nomeou comissão para fazer a análise dos casos”, completou.

Para a egressa do curso de Letras – Português Rebecca Adjuto, de 23 anos, – que entrou na UnB pelo sistema de cotas racias – ainda falta esclarecimento entre os concorrentes sobre a real finalidade da política afirmativa. “É claro que tem gente de má fé que sabe da importância das cotas para quem realmente tem direito e ainda assim quer passar por cima, mas também acredito que muita gente não tem conhecimento sobre o sistema. Quando eu optei pelas cotas eu não entendia o real propósito; fui compreender melhor que era meu direito dentro da universidade”, relatou. Agora, no papel de professora de redação, Rebecca busca incluir o assunto das cotas raciais nas discussões com seus alunos. “É uma consciência social que todo mundo precisa ter”, finalizou.

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