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Brasília

Famílias viram noites na fila do Cras do Paranoá em busca de auxílio e cesta básica

Arquivo Geral

31/03/2017 7h00

Atualizada 30/03/2017 21h52

Foto: Kléber Lima

Amanda Karolyne
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Para conseguir auxílio vulnerabilidade, cesta básica e outros benefícios, muitas mães de família recorrem ao Centro de Referência de Assistência Social (Cras) do Paranoá, que, assim como as demais unidades, oferece serviços do Sistema Único de Assistência Social (Suas). Deixadas ao relento, as mulheres com crianças de colo acampam na frente do centro às quartas-feiras, na tentativa de garantir as senhas de atendimento distribuídas às sexta-feiras.

Semanalmente, são distribuídas de 13 a 18 senhas para que as pessoas atendidas possam marcar uma data para receber cesta básica e outros auxílios. Como a oferta é pequena e a demanda, grande, as mulheres não encontram outra saída a não ser de chegar com três dias de antecedência e enfrentar chuva, frio e risco de serem assaltadas, entre outros problemas. Tudo isso na tentativa de obter o que é delas por direito.

Dormindo debaixo de lonas, em colchões molhados da água que escorre da chuva e passando fome, várias mulheres estão instaladas na frente do Cras do Paranoá. Teresa Cristina Piauí Lino é uma delas. Indignada, ela conta que a situação que está passando é muito ruim, mas, quando chegou ao local e viu todas aquelas outras mulheres acampadas esperando pelo benefício, se entristeceu por elas. Ela voltou em casa e fez comida para quem já estava esperando as senhas. “O pouco que eu tenho vou dividir”, contou.

Ela acredita que, mesmo não conseguindo o que é direito dessas pessoas, elas conseguiram se unir. “Estamos aqui para nos proteger. Ao passar três dias e três noites aqui, madrugadas com frio e chuva, aprendemos a nos respeitar, já que não conseguimos nada do governo”, afirma Teresa.

Dignidade é o maior dos pedidos

Saindo em defesa das moças que dormem debaixo das lonas, Teresa Cristina Piauí Lino contou que a água estava arrastando todos os pertences delas na madrugada de quinta-feira. Então, elas foram atrás de madeira para tentar salvar os barracos. “Estamos reivindicando uma situação que é nossa, nos dê dignidade. Dignidade é emprego, se você não sabe”, dispara.

Sem um café para tomar ou cama para dormir, Jesuíta Vieira relata que estava acampada em frente ao Cras desde as 10h de quarta-feira e ficaria até hoje. Desde então, a lona que a abrigava rasgou. “Só estou aqui porque lá em casa a situação está precária. Meu marido, minha filha e meu genro estão desempregados e eu tenho problema de saúde”, desabafa. “Estamos aqui passando por uma humilhação dessa para esperar uma cesta básica que demora de 15 a 20 dias para sair”, conta.

Estupro

As mulheres contam que a área não teria policiamento e, na semana passada, uma senhora teria sido estuprada, além de várias pessoas assaltadas. Elas convivem com as histórias pessoais, o desemprego e o medo de passarem pelas mesmas situações. Maria Edna Bessa diz que, fora a humilhação que passa ali, ela não tem fogão em casa nem cama para os três filhos, e está desempregada.

Versão oficial

Apesar dos flagrantes feitos pelo JBr., assessoria de imprensa do Cras informou que nenhuma reclamação foi feita a respeito do que está acontecendo. O centro alega que faz o possível para ajudar a comunidade, inclusive mutirão de atendimento para sanar os eventuais problemas.

De acordo com a Administração Regional do Paranoá, o problema com essa unidade é questão de aumento da demanda, que inclui o residencial Parque Paranoá e zonas rurais próximas. Os funcionários não conseguiriam suprir o volume da procura por atendimento, pois são poucos. Com isso, fazem mutirão para recadastramento todos os dias de manhã. Ainda segundo a administração, há policiamento na frente do Cras, mas as equipes da PM não podem se fixar no local.

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